Tiranossauros eram animais sociais, aponta estudo
Há mais de 20 anos, existe o debate que questiona se os tiranossauros seriam, na verdade, animais sociais, e empregariam complexas estratégias de caça. A ideia foi formulada inicialmente pelo paleontólogo Philip Currie, com base nos estudos de uma equipe de 12 especialistas em um sítio arqueológico em Alberta, Canadá.
À época, a ideia gerou controvérsia. Muitos pesquisadores duvidaram que essas gigantescas máquinas de matar tivessem uma capacidade intelectual de organização superior à que é observada nos crocodilos modernos. Os céticos alegam que é um caso isolado; os fósseis encontrados em território canadense seriam o resultado de circunstâncias incomuns, que não refletiriam o comportamento normal dos tiranossauros.
Posteriormente, em Montana nos Estados Unidos, foi descoberto um segundo sítio com evidências de comportamento social por esses animais. Mais uma vez, o debate se intensificou, sem que a comunidade científica tenha favorecido alguma posição.
Recentemente, surgiram novas evidências promissoras de sociabilidade entre os tiranossauros. Elas foram encontradas num local que faz parte do Monumento Nacional Grand Staircase em Utah, conhecido como Pedreira dos Arco-Íris e Unicórnios.
Fósseis indicam que tiranossauros andavam em grupo
“Nossos achados apoiam a hipótese de que os animais morreram mesmo local e todos se fossilizaram juntos. Essa descoberta é muito importante para que possamos mostrar que os tiranossauros eram gregários.”, disse Celina Suarez, professora de geociências da Universidade de Arkansas e uma das cientistas responsável pelo estudo.
A equipe de pesquisadores também contou com membros do Escritório de Gestão de Terras (EGT) dos EUA, do Museu de Ciência e Natureza de Denver, da Faculdade Colby em Maine e da Universidade James Cook, na Austrália. Eles examinaram fósseis residentes do sítio arqueológico do Monumento Nacional Grand Staircase.
“Nenhuma das evidências físicas permitiu conclui definitivamente que esses animais se fossilizaram juntos. Então recorremos à geoquímica para ver o que poderíamos obter. A semelhança dos padrões de elementos de terras raras é altamente sugestiva de que esses organismos morreram e se fossilizaram juntos”, disse Suarez.
A partir de análises de isótopos de carbono e oxigênio estáveis, de elementos de terras raras e das concentrações de carvão encontrados nos fósseis e nas rochas, os pesquisadores obtiveram uma impressão digital química do local. Com base nesse levantamento geoquímico, eles puderam determinar que os restos se fossilizaram ali, não tendo se originado em outras regiões. Essa abordagem multidisciplinar também ajudou a concluir que os dinossauros morreram devido a uma inundação sazonal.
“Os resultados provaram a ocorrência da morte síncrona de quatro ou cinco tiranossauros na região do Monumento. Sem dúvida, esse grupo morreu junto, o que contribui para um crescente corpo de evidências que nos levam a crer na sua capacidade de interagirem em matilhas gregárias”, disse Philip Currie em um comunicado à imprensa.
A Pedreira dos Arco-Íris e Unicórnios
A Pedreira dos Arco-Íris e Unicórnios foi em 2014 descoberta pelo paleontólogo Alan Titus, que ldesde então vem liderando as pesquisas feitas lá. Os estudos envolveram a realização de uma série de testes e análises do material preservado na forma de fragmentos de rochas e de fósseis, além de depósitos de bancos de areia formados por um antigo rio.
“Nós percebemos logo de início que esse sítio poderia ser usado para testar a ideia da sociabilidade entre tiranossauros. Infelizmente, o histórico desse local é complicado”, disse Titus. “Os ossos pareciam ter sido exumados e enterrados de novo pela ação de um rio. Logo o contexto original em que estavam foi destruído. No entanto, nem tudo foi perdido”.
“Essa descoberta se soma a um número crescente de evidências que mostram que os tiranossauros como predadores grandes e complexos. Eles eram capazes de comportamentos sociais que são comuns em muitos de seus parentes vivos, os pássaros“, disse Joe Sertich, curador do Museu de Ciência e Natureza de Denver. “Esta descoberta deve ser o ponto chave na reconsideração de como eles interagiam e caçavam durante o Cretáceo.”
publicado em 27/04/2021