Por que os maiores dinossauros do mundo estão diminuindo de tamanho?
No dia 9 de agosto de 2017, paleontólogos no Museu Americano de História Natural exibiram aquele que foi o maior animal que já caminhou sobre a Terra. A reconstituição do esqueleto do Patagotitan mayorun, um dinossauro que viveu há 100 milhões de anos, era tão grande que transbordava para fora da área do museu aonde foi montada. O pescoço comprido do dinossauro, somado a seu corpo protuberante e sua longa cauda alcançavam um comprimento de cerca de 36,5 metros, com peso estimado em mais de 70 toneladas. Mas agora ele diminuiu.
Em um novo estudo dos fósseis disponíveis do Patagotitan, coletados de diversos indivíduos de diferentes idades, os paleontólogos Alejandro Otero e seus colegas diminuíram o Patagotitan para cerca de 57 toneladas. O comprimento inteiro do dinossauro também é questionado, especialmente porque não se conhece nenhum esqueleto integral. Aquele que foi anunciado como o maior dinossauro de todos em 2014 terminou acabou por empatar com diversos outros dinossauros gigantes, tais como o Argentinosaurus. Esse “encolhimento” é parte de uma longa história de dinossauros supergigantes que diminuíram após sua descoberta inicial. Fatores como fósseis incompletos, a evolução das técnicas e a preocupação paleontológica com dinossauros contribuíram para a busca constante de identificar a maior criatura que já andou pelo planeta.
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Embora muitos dinossauros fossem grandes — o famoso T.rex tinha cerca de 12 metros de comprimento e pesava nove toneladas — os maiores pertenciam a um grupo chamado de sauropodes. Esses herbívoros quadrúpedes são imediatamente reconhecidos por suas cabeças pequenas, pescoços longos, corpos pesados e caldas cônicas. Há mais de um século, dinossauros como o Brontosaurus e o Diplodocus compõem a imagem padrão desses comedores de planta para os visitantes de museus. Mas mesmo esses animais enormes não eram os maiores de todos.
“O fato de que literalmente uma mera meia dúzia de fósseis sugere que existiram esses titãs terrestres nos deixa estarrecidos”, diz a paleontóloga Cary Woodruff da Universidade de Toronto. Além disso, esses dinossauros eram muito estranhos, desde a ponta do focinho até o fim de suas caudas. “Não há nada hoje parecido com esses saurópodes”, diz Kristi Curry-Rogers, da Macalester College. “Nosso trabalho nessas criaturas é como estudar alienígenas.”
Um dos primeiros favoritos foi o Brachiosaurus, um herbívoro de pescoço comprido conhecido a partir de uma pequena coleção de ossos descobertos no oeste de Colorado, em 1900. Mesmo que cerca de 20% o do esqueleto tenham sido encontrados, as comparações com dinossauros similares levaram a estimativas de que o Brachiosaurus teria mais de 18 metros de comprimento e 12 de altura, um gigante que ultrapassava o Apatosaurus e o Diplodocus.
Mas havia espécies ainda maiores. Durante o “renascimento dos grandes dinossauros”, que durou dos anos 1970 até 1990, houve uma nova corrida por ossos que revelassem dinossauros ainda maiores. Cada um recebia um nome em homenagem a sua estatura, e dinos como o “Ultrasaurus”, “Supersaurus” e “Seismosaurus” ganhavam manchetes de jornais e documentários onde eram anunciados como sendo, verdadeiramente, o maior de todos. Porém, uma vez que os fósseis eram trazidos para o laboratório, as estimativas feitas nos sítios paleontológicos não se sustentavam. Na realidade, descobriu-se que alguns fósseis dos supostos gigantes, como o Ultrasaurus, eram remanescentes de outras espécies que foram identificados erradamente. E que sequer eram tão grandes quanto se pensou a princípio.
Além disso, existem os gigantes perdidos. Parte de um osso das costas de um animal descrito pelo caçador de fósseis E. D. Cope no século 19 parecia indicar um saurópode, conhecido como Amphicoelias, que tinha o dobro de tamanho que qualquer outro. O problema é que o osso foi perdido misteriosamente, e nenhum outro exemplar apareceu por mais de um século de expedições. Da mesma maneira, houve rumores de um dinossauro da India chamando Bruhathkayosaurus seria o maior, mas seus fósseis foram destruídos e não estão mais disponíveis para estudo.
Mesmo entre os gigantes que os paleontólogos têm em mãos, determinar o vencedor é um desafio. Parte do problema é que muitos dos maiores esqueletos de dinossauros estão incompletos. “Quando se imagina como é raro que um esqueleto completo de um saurópode adulto consiga ser preservado no registro fóssil, não surpreende que seja difícil encontrar espécimes completos”, diz Curry-Rogers. Realmente, seria necessária uma grande quantidade de sedimentos para cobrir corpos como esses, que geralmente eram foram atacados espécies que se alimentavam de restos. Some-se a esse quadro as diferentes metodologias analíticas e o resultado está nas revisões periódicas das estimativas feitas pelos especialistas. “Outro grande problema, sem trocadilhos, diz respeito a exatamente o que se está medindo ou estimando”, ela diz. Em especial, o fato de que dinossauros mais compridos podem pesar menos do que outros de menor porte revela que simplesmente não existe nenhuma métrica para determinar um vencedor.
“Nós todos podemos subir numa balança hoje, mas como se pesa algo fora dos meios tradicionais de pesagem?” diz Woodruff. Paleontólogos experimentaram diversos métodos, desde a imersão de modelos plásticos em água, para estimar o volume de um dinossauro, à observação da relação entre a circunferência dos ossos da coxa e dos antebraços com a massa. Especialistas continuam a comparar e refinar as técnicas, e um estudo publicado no começo deste ano descobriu que diferentes técnicas estão encontrando resultados similares. Com o tempo, as estimativas do tamanho dos dinossauros estão se tornando mais refinadas e mais de acordo umas com as outras.
Novas constatações também podem alterar as expectativas dos especialistas. Quando os paleontólogos perceberam que as vértebras dos saurópodes eram repletas de sacos de ar para mantê-los leves, ela nota, foi preciso fazer ajustes quanto à massa. “Com mais conhecimento, seja na forma de melhores modelos vivos para comparação ou melhores fósseis, vem mais precisão”, diz Curry-Rogers.
Mas como determinar um vencedor? Diversos métodos podem encontrar uma diferença de algumas toneladas nas estimativas de tamanho dos saurópodes. Isso é muita massa para os humanos, diz Woodruff, mas “para um animal que já pesa 30 a 40 toneladas, não é uma diferença terrivelmente dramática”. Ainda assim, essas variações provavelmente só irão alimentar a busca persistente para identificar o maior animal de todos. Como diz Woodruff, “todos adoram um campeão”.
Riley Black
Publicado em 16/10/2020