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Há 60 anos, começava a aventura do homem no espaço

O aniversário do histórico voo de Yuri Gagarin até a órbita terrestre é uma chance de refletir sobre as várias etapas das nossas viagens, e o que veremos nos próximos anos - incluindo um retorno à Lua
Fotografia tirada antes do primeiro voo do homem no espaço

Gagarin fotografo logo antes do início do voo, em 21/04/1961. Crédito: Wikimedia Commons.

Quando o cosmonauta Yuri Gagarin se tornou o primeiro humano a voar ao espaço, ele também se tornou instantaneamente uma celebridade, um ícone diplomático da União Soviética em todo o mundo.

Na segunda -feira, a aventura de Gagarin, que deu início ao voo espacial humano, completou 60 anos.  No contexto da guerra fria, o voo de um ser humano ao espaço estava ligado indissoluvelmente à percepção de poder e prestígio. As coisas permanecem assim hoje, embora tenham mudado as nuances das relações internacionais em jogo, tanto quanto as da tecnologia.

A ida dos homens ao espaço “sempre foi algo ligado à política”, diz Teasel Muir-Harmony, historiador do programa espacial e curador do Museu Nacional do Ar e do Espaço do Smithsonian Institution.

Essa ligação, em parte, acontece porque o envio de humanos à órbita não se justifica apenas por razões econômicas, diz Asif Siddiqi, historiador espacial da Fordham University em Nova York, ao Space.com. “O espaço, em especial o voo do homem ao espaço, não gera nada”, disse ele. “Não proporciona  mais dinheiro. Nem necessariamente ganhos científicos e tecnológicos. Em outras palavras, provavelmente há maneiras mais baratas de fomentar esse tipo de inovação sem que seja preciso recorrer ao voo de um  humano pelo espaço.”

E no entanto estamos aqui, 60 anos após o voo de Gagarin e ainda envolvidos no voo espacial tripulado por pessoas, tanto que, nos últimos 20 anos, não houve um momento em que não houvesse algum ser humano fora da Terra.

Os detalhes mudaram, mas o tema permanece o mesmo desde a época em que  Gagarin pousou na superfície da Terra: prestígio.

Guerra fria, foguetes quentes

Mas o prestígio precisa de audiência. Na década de 1950, enquanto a Terra ainda  se recuperava da Segunda Guerra Mundial, uma onda de movimentos de independência varreu as nações colonizadas, ansiosas por estabelecer seus próprios sistemas políticos, e de olho no que acontecia no planeta atrás de inspiração.

“Acho que muitas vezes nos concentramos na competição entre a União Soviética e os Estados Unidos, sem dar um passo para trás e ver por quem eles  ompetiam, ou pelo que competiam”, diz Muir-Harmony. “O propósito não era apenas ser pioneiro. Havia um objetivo maior, de avançar a posição geopolítica de cada um.” Os EUA e a União Soviética queriam aliados.

E a guerra havia ampliado as formas pelas quais os países travavam disputas. Não era mais uma questão direta de poder militar; de uma nova forma, a ciência estava no cerne do poder.

“Às vezes, as pessoas se referem à Segunda Guerra Mundial como a guerra dos físicos, devido às descobertas  que se originaram nos Estados Unidos e foram usadas na guerra, como as armas nucleares e o radar”, diz Muir-Harmony. “A introdução das armas nucleares durante a Segunda Guerra Mundial foi algo realmente crítico,  porque isso também mudou a forma como os países travam as guerras, e a guerra psicológica ganhou importância. ”

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Mesmo depois que a guerra terminou, a psicologia permaneceu, e o espaço era uma versão mais sutil das armas nucleares – afinal, os foguetes eram os mesmos:  o que mudava era a carga útil. O veículo no qual  Gagarin fez seu voo histórico foi projetado para ser capaz de transportar tanto um passageiro quanto câmeras de observação militares, observa Siddiqi. Ele acrescenta que, ao longo da década de 1950, “qualquer tipo de atividade espacial estava intimamente ligada a objetivos militares”.

Mas, apesar da ligação entre o vôo espacial e os militares, a viagem espacial não era, estritamente falando, um ato de agressão. “A corrida espacial era uma espécie de válvula de escape para a competição sem envolver  atividade militar”, diz Wendy Whitman Cobb, cientista política da Escola de Estudos Aéreos e Espaciais Avançados da Força Aérea. “É uma espécie de sifão por onde escoava uma energia que poderia ser usada para outros fins na Terra.”

De um lado estavam os Estados Unidos, relativamente intocados pela Segunda Guerra, e do outro a União Soviética, que ainda contavam os cidadãos mortos e as cidades destruídas durante o conflito.  No que tange a uma competição entre os dois,  os desdobramentos deveriam ser claros.

“Nos anos 1950, 0s Estados Unidos  confiavam muito na ideia de que eram os líderes do mundo no campo de ciência e tecnologia”, diz Muir-Harmony. “E não era apenas uma sensação deles. Por todo mundo, as pessoas tinham essa impressão, ainda que vagamente.”

Até que chegou o Sputnik, é claro.

O pioneirismo soviético

A União Soviética não esperava que o pequeno satélite fizesse tanto barulho; Muir-Harmony observou que a  cobertura inicial da mídia sobre o lançamento do Sputnik, em 1957,  tinha um caráter técnico, e foi relegada às páginas internas dos jornais. Foi só depois que os Estados Unidos responderam com tanta intensidade que o satélite chegou às primeiras páginas.

E isso também se deveu a uma questão mais de prestígio do que de capacidade. “Não era um satélite muito  avançado, realmente não fazia muito além de um bipe, mas era simbólico”, disse Whitman Cobb. “Na maioria das vezes em política, o simbolismo é tão importante quanto o conteúdo.”

Embora os Estados Unidos se apressassem em lançar seu satélite Explorer, a dinâmica havia mudado. “Com o Sputnik, os EUA perceberam que aquela nação que tínhamos descartado como retrógrada e assim por diante, não apenas se equivalia a nós como nos excedia’”, diz Siddiqi.

Porém, nenhum país estava inclinado a se limitar aos  satélites. “Nos Estados Unidos, em especial, ficou claro muito rapidamente que eram os homens, e não as máquinas, que inspiravam o mundo e atiçavam  a imaginação”, disse Muir-Harmony. “A expectativa era que o voo espacial humano fosse mais eficaz em termos de capturar o interesse popular, e não apenas o interesse do público interno do país, mas em todo o mundo.”

No final da década de 1940 e ao longo da década de 1950, os dois países lançaram verdadeiros zoológicos a bordo de foguetes, embora nenhum tenha alcançado a órbita e sobrevivido à jornada antes dos cães soviéticos Belka e Strelka, em 1960. No mesmo ano, John F. Kennedy ganhou a presidência dos EUA, tomando posse em janeiro do ano seguinte.

Os astronautas se exibem pelo planeta

Não havia garantias de que Kennedy daria prosseguimento aos voos espaciais tripulados, embora hoje o legado dele se confunda com o do projeto Apollo que ele criou.  Seu consultor científico  ponderou que o prestígio proporcionado pela atividade podia  vaporar por completo se um astronauta se ferisse, diz Muir-Harmony. E o próprio Kennedy cogitou um projeto de dessalinização como uma abordagem diferente para angariar prestígio internacional.

Foi o voo de Gagarin em 12 de abril de 1961 – seguido, uma semana depois, pela desastrosa invasão da Baía dos Porcos em Cuba – que convenceu Kennedy de que teria de apostar num vôo espacial tripulado para ter alguma chance de capturar a admiração do mundo, acrescenta ela.

Ao contrário do que ocorreu com o Sputnik, quando Gagarin foi lançado à órbita, a União Soviética estava preparada para aproveitar ao máximo o momento histórico. “Quando houve o voo de Gagarin, eles estavam prontos”, disse Muir-Harmony. “Havia uma expectativa de que  seria um grande feito.”

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O voo de Gagarin certamente foi um grande feito  dentro da União Soviética, que recebeu o cosmonauta de volta com uma série de desfiles e celebrações. “Acho que foi um momento genuíno, um momento profundamente autêntico de otimismo para o povo soviético”, disse Siddiqi. “Foi um momento único em que o país que sofreu tanto na Segunda Guerra Mundial, que foi basicamente devastado – mais de 25 milhões de mortos, mais de 1.000 cidades destruídas – após 15 anos estava na vanguarda da ciência e tecnologia, era algo para se orgulhar genuinamente. ”

E com razão, disse Siddiqi. “Sem necessariamente defender o sistema comunista, acho que  podemos apreciar a criatividade e os esforços enormes necessários para serem os primeiros”, disse ele. “É inacreditável, e acho que esquecemos como aqueles caras eram inteligentes.”

Se você perguntar a um russo, eles dirão que o voo de Gagarin marcou a vitória dos soviéticos no espaço, diz Siddiqi. Afinal, levaria quase um mês até que o primeiro astronauta americano a voar no espaço, Alan Shepard, decolasse, e não chegasse à órbita. Mas talvez haja uma narrativa para todo mundo. Os americanos preferem marcar o momento decisivo da corrida espacial como os primeiros passos de Neil Armstrong na Lua, oito anos depois. Enquanto isso, o resto do mundo pode ver as atividades das duas nações como uma trajetória de avanço coletivo, diz Siddiqi.

Todas as três narrativas são verdadeiras ou, pelo menos, não são falsas.

E com o desenrolar dos efeitos do programa Apollo,  talvez o sabor político do voo espacial humano no cenário internacional tenha mudado,  mas certamente a política não foi excluída por completo.

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Uma vez que o presidente Richard Nixon passou a conduzir o relacionamento da nação com a União Soviética em direção à distensão, o campo dos voos espaciais tripulados foi atrás. O resultado mais óbvio foi a missão do Projeto de Teste Apollo-Soyuz de 1975, o primeiro esforço conjunto no espaço entre os EUA e a União Soviética. Três astronautas da Nasa foram lançados dos EUA, dois cosmonautas foram lançados da União Soviética, as espaçonaves se encontraram no espaço e os homens compartilharam um aperto de mão no ambiente de microgravidade.

“Os Estados Unidos não tinham mais nada a provar no palco político e, portanto, o próximo passo era um projeto colaborativo”, disse Siddiqi. “Não se tornou exatamente uma cooperação, mas serviu como uma espécie de entendimento de que os velhos tempos tinham acabado.”

Esse encontro foi, talvez, o ponto culminante do uso dos voos tripulados como fator de propaganda geopolítica. “A cooperação ainda era possível, mesmo quando os estados estavam competindo entre si”, disse Whitman Cobb. “[O encontro] Apollo-Soyuz foi parte disso ao demonstrar que se podia voltar atrás, que era possível ter esse tipo de coexistência pacífica, mesmo enquanto ainda competimos.”

O ônibus espacial e a Estação

O aspecto político mudaria novamente com o grande empreendimento espacial seguinte dos EUA: o ônibus espacial reutilizável que a Nasa lançou pela primeira vez em 1981; a União Soviética também procurou construir um veículo semelhante na década de 1980. O ônibus espacial nasceu do desejo de Nixon de manter o vôo espacial como uma ferramenta diplomática, mas de dividir o custo com outras nações, diz Muir-Harmony.

“Com o Apollo, havia a restrição de três assentos, o que limitou o envio de astronautas”, diz ela. “O ônibus espacial era muito maior e não só permitia aos Estados Unidos diversificar as tripulações – incluindo mulheres e minorias – mas também enviar astronautas estrangeiros.”

Enquanto isso, a União Soviética construía postos avançados em órbita, com os programas Salyut e Mir. Essa experiência tornou-se particularmente atraente após a queda da União Soviética. A combinação dos  antigos e caros planos dos EUA para construir uma estação espacial, que nunca se concretizaram, com a experiência  russa nesse campo  tornou-se uma solução para várias preocupações que irritavam os EUA.

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“Assim que a Guerra Fria terminou, a cooperação no espaço se tornou uma parte realmente importante da política externa com a Rússia”, disse Whitman Cobb. “Foi uma forma de sustentarmos sua força de trabalho, seus cientistas, para que não saíssem e trabalhassem para pessoas para as quais não queremos que trabalhem.” A estação espacial também manteve os cientistas focados ma tecnologia pacífica, ao invés de armas, observa ela. “O espaço pode apoiar outros objetivos de política externa, pode ser um trampolim para um maior envolvimento.”

No caso da Estação Espacial Internacional, foi uma receita de sucesso. “Ambos os países colocam seus ovos na cesta da EEI e com o tempo, lá pelo no início dos anos 2000, ela se tornou  o núcleo global dos voos espaciais tripulados, o que é bastante surpreendente”, diz Siddiqi.

Nesse ínterim, a China se tornou a terceira nação capaz de lançar seus próprios astronautas a partir do voo de 2003 do astronauta Yang Liwei. O voo espacial humano chinês é independente do programa da Estação Espacial Internacional e, embora a China tenha lançado astronautas pela última vez em 2016, a nação pretende lançar o primeiro módulo de uma nova estação espacial este ano, junto com a sua primeira tripulação.

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Mas o brilho da estação espacial começou a enfraquecer em 2011, quando a Nasa encerrou seu programa de ônibus espaciais, devido a  problemas com a espaçonave (trazidos à luz pelo desastre fatal do ônibus espacial Columbia em 2003). A agência retirou seus três ônibus espaciais restantes – Atlantis, Discovery e Endeavour – que agora ficam em museus nos Estados Unidos. A partir de 2011, todos os astronautas com destino à EEI tiveram que pegar uma carona com os russos a bordo de suas cápsulas Soyuz, dando à Rússia não apenas prestígio, mas também poder.

“Os russos são a única nação capaz de levar regularmente humanos ao espaço e o fazem costumeiramente, sem acidentes”, disse Siddiqi. “É bastante impressionante, mas também significa que os Estados Unidos estão em uma posição que nunca poderíamos prever, que é que os EUA são dependentes da Rússia, profundamente dependentes, então a Rússia tem muita vantagem sobre a América durante este período.”

As empresas entram em cena

Em maio de 2020, a cena política envolvendo o voo espacial humano mudou novamente quando a empresa privada de vôo espacial SpaceX completou com sucesso seu primeiro voo tripulado para a Estação Espacial Internacional para a Nasa. Desde então, a empresa lançou um segundo voo com tripulação, e um terceiro está programado para voar no final deste mês.

“Acho que o voo espacial comercial apresenta um novo elemento complicado”, diz Muir-Harmony. Ela enfatizou que a Nasa sempre contou com parceiros comerciais – 90% das pessoas que colaboraram  no Apollo trabalharam para empresas, não diretamente para a agência. Mas a Nasa projetou, pilotou e era dona desses veículos, e isso não ocorre com a SpaceX ou com a Boeing, que também está trabalhando para a Nasa sob contrato para transportar astronautas para a estação espacial.

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“Se os Estados Unidos estão terceirizando muitos dos elementos da missão, o crédito irá para os Estados Unidos ou irá para algo como a SpaceX?” Muir-Harmony se pergunta. “Se o voo espacial tripulado neste momento foi financiado principalmente por razões políticas, então há uma questão de saber se serve ou não aos interesses políticos americanos pagar a SpaceX para fazê-lo”, acrescentou ela, embora reconheça que há motivações apolíticas para lançar humanos em órbita.

Siddiqi observa que, embora a Nasa esteja pagando à SpaceX pelos voos, esse incentivo não é suficiente para explicar a decisão de Elon Musk de fundar a empresa e destiná-la aos voos espaciais. E há  maneiras mais baratas de desenvolver as mesmas inovações tecnológicas. Isso aponta para o mesmo tipo de razões qualitativas e relacionais que sempre impulsionaram os voos espaciais humanos.

“Ele está fazendo isso por outra razão, e essa outra razão é intangível”, disse Siddiqi. “Ele acha que é algo muito legal, ou que é alucinante, ou outra coisa – essas palavras que são difíceis de definir.”

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As empresas também podem realizar missões de forma totalmente independente da Nasa. O primeiro vôo tripulado na SpaceX  não pertencente à Nasa deve ocorrer ainda este ano. Batizada de Inspiration4, a missão levará o bilionário Jared Isaacman, o sobrevivente do câncer e médico assistente Hayley Arceneaux, o funcionário da Lockheed Martin e veterano da Força Aérea dos Estados Unidos, Christopher Sembroski, e o geólogo Sian Proctor. A missão pode ser lançada em 15 de setembro.

A missão Inspiration4, que não visitará a Estação Espacial Internacional, pretende representar os valores de liderança, esperança, generosidade e prosperidade e, em parte, arrecadou dinheiro para o Hospital St. Jude Children’s Research, que cuida de crianças com câncer. (É claro que a saúde, assim como os voos espaciais tripulados, também é governada pela política.)

Além de ser um ator próprio no campo dos  voos espaciais tripulados, a SpaceX também interage com os governos. O voo espacial  comercial também pode ampliar ainda mais o escopo das nações que enviam astronautas ao espaço, mesmo se apenas os EUA, Rússia e China mantiverem programas próprios de lançamento.

“Como a SpaceX continua a demonstrar suas capacidades e seu potencial,  outros países  podem achar útil comprar um assento ou uma missão inteira em um de seus lançamentos e fazer essa declaração”, disse Whitman Cobb. “Não sei se isso seria necessariamente tão prestigioso em um cenário global quanto fazer você mesmo.”

Uma nova política para os voos espaciais tripulados

Mesmo que os detalhes variem, seis décadas depois de Gagarin fazer história, os humanos ainda buscam o ambiente de a microgravidade por razões ligadas às preocupações terrenas, e não há razão para esperar que isso vá mudar nem tão cedo.

É melhor imaginar que haverá  uma expansão da arena do vôo espacial tripulado, e que se tornará mais complexa ao passar de  dois jogadores, a União Soviética e os Estados Unidos, para quatro, com a chegada da  China e da SpaceX – e há outros  por vir. “O voo espacial ainda está muito vinculado à criação de imagens globais e ao soft power”, diz Siddiqi.

O poder político da Rússia no campo do voo espacial  também pode estar mudando, observou ele, dadas as circunstâncias difíceis  do programa. “É um exemplo  bom e instrutivo de como se  pode ser realmente forte e poderoso em um momento e décadas depois pode simplesmente entrar em colapso”, diz Siddiqi sobre o contraste entre os voos espaciais soviéticos em 1961 e o programa russo de hoje.

Mas a Rússia não pode ser ignorada, mesmo enquanto o Congresso dos EUA se preocupa com o crescente poder espacial da China. “Certamente, eles não são a potência espacial que já foram, mas isso não significa que não sejam uma potência espacial”, disse Whitman Cobb sobre a Rússia. “Eles ainda têm ambições no espaço e acho que ignoramos isso em nosso detrimento”.

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Nos últimos anos, a agência espacial russa Roscosmos adotou missões robóticas conjuntas a Marte com a Europa e a China, e este ano iniciou discussões com a China para cooperar em uma base lunar.

Relatórios recentes, que avaliam ameaças à segurança no espaço, ressaltam as vias  pelas quais a Rússia pode se tornar agressiva em órbita, e até  mesmo o modelo de vôo espacial colaborativo, que a Estação Espacial Internacional fortaleceu,  pode estar em perigo, já que a instalação envelhecida um dia vai deixar de operar. “Meu palpite é que haverá uma lenta separação no relacionamento”, diz Siddiqi sobre os laços entre os EUA e a Rússia.

E é de se esperar que o prestígio dos voos espaciais tripulados sejam importantes também no campo doméstico. Veja se, por exemplo, o programa Artemis da Nasa para levar astronautas à Lua. “Quando falamos sobre explorar a Lua de novo, muito disso tem a ver, eu acho, com a política interna e a maneira como os Estados Unidos e os americanos pensam sobre si mesmos”, diz Muir-Harmony.

“Parece que é algo menos voltado para o público internacional e mais sobre a identidade americana pública doméstica, o sentido do que é a América.”

 

Meghan Bartels

Publicado sob autorização de www.space.com.

Publicado em 13/04/2021

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