Brasileiros constroem molde cerebral de um dos mais antigos dinossauros conhecidos
Um estudo de pesquisadores brasileiros procurou reproduzir, pela primeira vez, certas características do cérebro de um dos dinossauros mais antigos do mundo.
Desde seu surgimento, a paleontologia, que é a ciência que estuda as formas de vida primevas, têm dado grande importância à identificação de novas espécies dentre o grupo dos maiores répteis que já habitaram a Terra. Mais recentemente, os paleontólogos passaram a dispor de mais ferramentas para buscar compreender também como era o modo de vida dos dinossauros, um ramo que pode ser chamado de “paleobiologia”. Mas muitas vezes as respostas para esse tipo de pergunta não podem ser obtidas apenas a partir da análise dos fósseis de ossos. Um exame do encéfalo (isto é, do cérebro) dos animais, por exemplo, pode trazer muitas informações interessantes.
O grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria fez um exame de tomografia do crânio de um dos primeiros dinossauros classificados como sauropodomorfos (os dinossauros “pescoçudos”), o Buriolestes schultzi, que habitou a Terra durante o Triássico Superior. Utilizando as imagens produzidas pela tomografia, os cientistas preencheram digitalmente a cavidade do crânio em que o encéfalo supostamente estaria alojado. Dessa forma, foi possível criar uma estrutura tridimensional que corresponderia ao molde endocraniano. Essa estrutura em si não reproduz apenas o cérebro, pois ele é revestido por outros tecidos. Porém, o molde aponta para como o cérebro pode ter sido, e quais das suas regiões teriam apresentado um desenvolvimento maior ou menor.
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Uma vez de posse desses resultados, os cientistas conseguiram calcular também o “coeficiente de encefalização”. Trata-se de um índice que é usado para estimar a “inteligência” dos animais, pois, através dele, os cientistas podem comparar o grau de encefalização dos animais com pesos e tamanhos diferente. Os pesquisadores então inseriram o peso e o volume estimados do encéfalo em uma fórmula, para assim terem uma ideia da capacidade cognitiva do dinossauro.
“Nós temos, pela primeira vez, um cérebro completo de um dos dinossauros mais antigos do mundo. Isso nos permite entender como foi o início da evolução deles”, conta Rodrigo T. Müller, um dos autores da pesquisa publicada na revista Anatomical Society.
A reconstituição permitiu constatar que, com o tempo, o olfato se tornou mais aguçado na linhagem dos sauropodomorfos .
Os pesquisadores combinaram os resultados da pesquisa com os dados de outros encéfalos reconstruídos por eles e por outros cientistas, e assim conseguiram construir um esquema evolutivo. Isso possibilitou mapear as mudanças que ocorreram ao longo da linhagem dos dinossauros. Os pesquisadores observaram, entre outras coisas, como os bulbos olfatórios aumentaram, como o cerebelo sofreu alterações e como a glândula pituitária (glândula responsável pela produção de hormônios que controlam outras glândulas do corpo) se expandiu. Já a parte cognitiva parece ter diminuído. Além disso, também notaram que o cérebro desses dinossauros com pescoços gigantes crescia em uma proporção menor do que o resto de seus corpo, um fenômeno conhecido como alometria negativa.
O estudo dos pesquisadores reforça a ideia de que o Buriolestes schultzi era um caçador, mas também sugere que ele teria sido um caçador com habilidade visuais melhores, portanto mais propenso a rastrear e caçar presas com base em sua visão, e não no senso olfativo. “Esse estudo vem mais com a ideia de preencher uma lacuna que era completamente desconhecida. Não tínhamos ideia de como realmente era o cérebro de um dinossauro tão antigo”, conta Rodrigo.
Pedro Gabriel Castardo
Publicado em 05/11/2020