William Shatner, o capitão Kirk de Star Trek, embarca em uma jornada espacial da vida real
William Shatner, que interpretou o icônico capitão Kirk na primeira série de Star Trek (1966), embarcou em uma nova missão espacial, desta vez fora do estúdio. Convidado pelo bilionário Jeff Bezos para participar da segunda viagem da Blue Origin, o ator foi um dos quatro tripulantes da missão NS-18.
Antes de embarcar para sua jornada da vida real, Shatner não escondeu seu entusiasmo. “Imagine estar na gravidade zero, olhando para aquela escuridão e vendo a Terra. É isso que eu quero absorver,” afirmou o ator em uma entrevista para a CNN. Junto com ele, embarcaram Audrey Powers, piloto e funcionária da Blue Origin, e dois empresários que pagaram pela viagem: Glen de Vries, presidente de uma empresa de tecnologia médica e Chris Boshuizen, co-fundador da Planet Labs, especializada no lançamento de pequenos satélites para observação da Terra, comercializando suas imagens.
O voo de turismo foi lançado de uma base no Texas (EUA) às 11h50 no horário de Brasília e durou aproximadamente 11 minutos. Os tripulantes embarcaram sem trajes pressurizados em uma cápsula colocada na ponta do foguete New Shepard, um sistema de lançamento reutilizável e sem piloto, e viajaram até 100 km de altura. Eles puderam apreciar a vista do céu escuro, fora da atmosfera terrestre, e 4 minutos de sensação de gravidade zero.
Detalhes da viagem
O que diferencia essa viagem da missão da concorrente SpaceX, no mês passado, é que ela se trata de um voo suborbital. Nesse tipo de voo, a altura atingida não é suficiente para entrar na órbita terrestre e circular o planeta em alta velocidade, como fazem os satélites. A Estação Espacial Internacional, que também viaja na órbita da Terra, está quase quatro vezes mais alta que o pico dessa missão.
Após o lançamento, o foguete carregou os passageiros até acima da Linha de Kármán, considerada a divisória para entrada no espaço, e em seguida se desconectou da cápsula, descendo em queda livre. Ao se aproximar do solo, o foguete reativou seus freios de arrasto e religou o motor para uma manobra de retropropulsão: ele compensa pela velocidade da queda com impulso gerado pelo motor. Dessa forma, pousou de pé em uma base da empresa no Novo México (EUA).
Alguns segundos depois de se desconectar do foguete, a cápsula com os quatro passageiros iniciou sua descida, em parábola. É nesse momento em que ocorre a sensação de gravidade zero. Mas é apenas uma sensação — o voo ainda está sob a influência da gravidade terrestre, quase idêntica na superfície. A diferença está na perspectiva: em relação à cápsula, os passageiros não têm peso, pois ambos estão em queda livre.
A sensação durou apenas 4 minutos antes que eles fossem obrigados a voltar para seus lugares para se preparar para o pouso. Para garantir uma aterrissagem suave, foram aplicados dois métodos: o primeiro foi abrir duas sequências de três paraquedas, seguidos por um outra manobra de retropropulsão, realizada pela própria cápsula momentos antes de entrar em contato com o solo.
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Logo que a escotilha foi aberta, Shatner se encontrou com Bezos e descreveu sua experiência: “Todos no mundo precisam ver isso. De repente, passamos por essa proteção azul ao nosso redor, como alguém que arranca um lençol quando estamos dormindo. Aí ficamos olhando para escuridão.” Ele afirma que foi uma experiência que o impactou profundamente: “Eu espero nunca me recuperar disso”, acrescentou ele.
O ator já havia sido convidado 10 anos atrás para ir ao espaço por outro bilionário, Richard Branson, o dono da Virgin Galactic. Na época, recusou a oferta por medo do voo e o alto preço de 200 mil dólares. Agora, após aceitar o convite gratuito de Bezos, o ator canadense de 90 anos de idade quebrou o recorde de pessoa mais velha a ir ao espaço. Esse recorde anteriormente era da estadunidense Wally Funk, que viajou em julho, também pela Blue Origin, no mesmo foguete desta missão.
New Shepard, o sistema de lançamento utilizado, usa como combustível hidrogênio líquido resfriado (H2) e oxigênio (O2). Como o produto da reação é água (H2O) e o foguete é reutilizável, os impactos ambientais — e os custos — são bastante reduzidos.
O futuro das viagens espaciais
Missões como a NS-18, a segunda já realizada pela Blue Origin, contribuem para tirar a exploração espacial das mãos de grandes agências estatais, como a NASA, e entregar o pioneirismo à iniciativa privada.
Viagens dessa e de outras empresas focam no turismo — e não na pesquisa científica — e ainda são exclusivas para uma elite muito restrita. Mas, mesmo assim, seus avanços na tecnologia e no barateamento das viagens têm um potencial de contribuir para sociedade como um todo. Enviar o capitão Kirk para sua própria jornada nas estrelas é uma mistura de publicidade e pioneirismo, mas é também um momento simbólico para exploração espacial.
Publicado em 13/10/2021.