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Vacinação pode salvar o tigre-de-Amur de epidemia de vírus sem tratamento

Pesquisadores identificaram que a chance de extinção de uma população do tigre-de-Amur subiu 65% nos próximos 50 anos, devido a infecções pelo vírus da cinomose canina, mortal e sem tratamento.
Tigre.

Tigre-de-Amur, também chamado de tigre-siberiano. Crédito: Appaloosa/ Wikimedia Commons

Em 2003, um jovem tigre-de-Amur (antes conhecidos como tigres-siberianos) entrou num vilarejo russo na fronteira com a China. Cientistas da Wildlife Conservation Society (WCS) anestesiaram o animal e identificaram o contagioso e potencialmente fatal vírus da cinomose canina, o primeiro caso confirmado num tigre selvagem. O paciente zero morreu seis semanas depois.

Desde então, a cinomose, um vírus intratável que pode infectar muitos tipos de carnívoros, se espalhou entre populações do tigre-de-Amur que habitam no Extremo Oriente da Rússia. Uma nova análise sugere que, se o vírus seguir seu curso livremente, poderia extinguir toda população dessas criaturas ameaçadas. Mas o risco pode ser atenuado vacinando os felinos, descobriram os pesquisadores.

“Descobrimos que a cinomose impacta profundamente as populações de tigres selvagens, em especial as menores”, diz Martin Gilbert, epidemiologista de vida selvagem na Universidade Cornell e principal autor do estudo em Proceedings of the National Academy of Sciences USA.

Assim, para predizer os efeitos de longo prazo da doença, a equipe simulou sua dinâmica nas duas principais populações de tigres da região, com cerca de 500 e 30 animais, respectivamente. O estudo mostrou que, nos próximos 50 anos, a cinomose aumenta em 65% o risco de extinção na população menor, cuja área de alcance a torna crucial para uma eventual recuperação da população no nordeste da China.

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Os pesquisadores também descobriram que os tigres contraem cinomose principalmente de outros animais selvagens, logo vacinar cães domésticos, muitas vezes considerados os principais reservatórios da virose, não bastaria. Mas vacinar apenas dois tigres do grupo menor por ano, durante trabalhos rotineiros de monitoramento, reduziria o risco de extinção do grupo em 75%.

“Acho que a vacinação contra cinomose tem um papel em ajudar populações pequenas e isoladas de tigres em risco”, diz Edward Ramsay, professor emérito de medicina zoológica na Universidade do Tennessee, não envolvido na pesquisa. “Estudos mostraram que as vacinas são seguras, e as experiências com leões asiáticos na Índia demonstram que mesmo um programa incompleto de vacinação pode ajudar a evitar mortes.”

Mas ganhar apoio para a ideia poderia ser um desafio. “Ainda há incerteza entre gestores de vida selvagem quanto a vacinação como ferramenta de conservação”, diz a coautora do estudo, Sarah Cleaveland, epidemiologista da Universidade de Glasgow. “Esperamos que nossa pesquisa aborde algumas das questões em torno das incertezas científicas, mas, assim como ocorre na saúde humana, também há informações falsas e preocupações injustificadas quanto aos riscos da vacinação da vida selvagem.”

Rachel Nuwer

Publicado originalmente na edição de maio de 2021 da Scientific American Brasil; aqui em 28/03/2022.

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