Usando sucata, engenheiro do Complexo do Alemão cria impressora 3D

Alessandro Costa/Divulgação Shell
Aos 24 anos, o engenheiro Lucas Lima, teve uma ideia promissora: criar uma impressora 3D a partir de sucata. Natural do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o jovem não só teve sucesso no seu empreendimento como deu continuidade ao projeto, fundando a startup Infill, que, entre outras iniciativas, visa desenvolver a ciência e a tecnologia entre jovens de periferia.
Formado em engenharia mecânica, foi durante seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que Lucas teve contato com o mundo da impressão 3D. “Quando eu vi pela primeira vez, eu pensei: ‘preciso comprar uma dessas’. Ai depois descobri o preço e repensei: ‘não preciso de uma dessas’”, brinca. Como alternativa, o jovem se aventurou na internet estudando o funcionamento dos aparelhos. Após adquirir algumas peças essenciais, ele reuniu sucata de diversos eletrônicos de ferros-velhos da região e, em apenas duas semanas, construiu a impressora.
O gasto do projeto foi de cerca de R$ 680, enquanto uma impressora do modelo Makerbot, que Lucas desejava inicialmente, custa em torno de R$ 17.000 — 25 vezes mais. Assim como as tradicionais, a máquina de Lucas imprime objetos tridimensionais através de softwares de modelagem em diferentes polímeros.

Boneco do personagem Groot, da Marvel, feito por impressão 3D. Foto: Arquivo pessoal
Projeto social
Mas o engenheiro não parou por aí. Ele continuou a criação de impressoras — incluindo imprimindo uma outra máquina a partir da original. Em uma palestra para estudantes de São Gonçalo, também no Rio, ele notou o interesse das crianças “Eu pensei: ‘Se aqui eu consigo influenciar 15 pessoas, quantas eu consigo atingir no total?’”. Foi assim que nasceu a ideia da Infill, startup fundada pelo carioca com foco em impressão 3D.
A Infill trabalha em três frentes: prestação de serviços de impressão, capacitação tecnológica para jovens que queiram trabalhar na área e geração de empregos. “A ideia é movimentar a economia da região, gerar emprego e trazer o jovem para trabalhar junto com a gente”, explica Lucas, que também é professor de robótica. “É para mostrar que também tem ciência na favela, somos muito mais que estatísticas e violência.”
Apesar de recente e focada no Complexo do Alemão, os planos de Lucas para a Infill vão longe. “O objetivo é expandir no futuro, levar esse estímulo tecnológico para outras comunidades. Já fiz palestra em outros lugares e as crianças estão me cobrando”, brinca.
Reconhecimento
O inovador projeto de Lucas foi reconhecido pelo prêmio Shell Iniciativa Jovem, programa de aceleramento de iniciativas de empreendedorismo social promovido pela petrolífera. Com o primeiro lugar entre outros 55 concorrentes, ele conquistou R$ 8 mil — além de R$ 2,5 mil adicionais do Prêmio Popular, categoria escolhida por votação do público. O valor será investido no desenvolvimento e aperfeiçoamento do negócio.

Alessandro Costa/Divulgação Shell
Além dessa conquista, Lucas foi selecionado no programa de aceleração de startups Start Ambev, e deverá passar por um período de capacitação em São Paulo.
Bruno Carbinatto