Evidências de floresta úmida na Antártica apontam para um mundo pré-histórico mais quente
Pesquisadores encontraram evidências da existência de florestas úmidas perto do Polo Sul há 90 milhões de anos, sugerindo que o clima era excepcionalmente quente na época.
Uma equipe do Reino Unido e Alemanha descobriu solos característicos de florestas do período Cretáceo a 900 km do Polo Sul. Análises dos remanescentes de raízes, pólen e esporos mostram que o mundo à época era muito mais quente do que se pensava.
A descoberta foi feita por uma equipe internacional de pesquisadores alemães e britânicos. As descobertas foram publicadas hoje na Nature.
Professora e co-autora Tina Van de Flierdt, do Departamento de Geociência e Engenharia na Imperial, disse: “A preservação dessa floresta de 90 milhões de anos de idade é excepcional, mas mais surpreendente é o mundo que ela revela. Mesmo durante meses de escuridão, pantanosas florestas temperadas úmidas eram aptas a crescer perto do Polo Sul, revelando um mundo ainda mais quente do que esperávamos.
O trabalho também sugere que os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera eram mais elevados do que o esperado durante a metade do período Cretáceo, 115 a 80 milhões de anos atrás, desafiando os modelos climáticos do período.
O meio do período Crustáceo foi o auge dos dinossauros, mas também o período mais quente nos últimos 140 milhões de anos, com temperaturas nos trópicos chegando a 35º C e o nível do mar 170 metros acima do registrado hoje.
Entretanto, pouco se sabe a respeito do meio ambiente do sul do Círculo Antártico na época. Agora, pesquisadores encontraram evidências de florestas temperadas úmidas na região, tais como as que se encontram na Nova Zelândia hoje. Isso apesar de uma noite polar que durava quatro meses, o que significa que, durante um terço do ano, não havia nenhuma luz para gerar vida.
A presença da floresta sugere que a temperatura média era próxima de 12º C e que não era plausível que o Polo Sul estivesse coberto po uma camada de gelo na época.
A evidência para a floresta na Antártica vem de um testemunho de sondagem, nome dado às amostras de sedimento, perfurado no relevo oceânico próxima a Ilha Pine e da geleira Thwaites no oeste da Antártica. Uma seção do testemunho, que foi originalmente depositada em terra, chamou a atenção dos pesquisadores por conta de sua cor estranha.
A equipe fez uma tomografia computadorizada nessa seção do testemunho e descobriu uma rede densa de fósseis de raízes, que estavam tão bem preservadas que puderam identificar estruturas celulares individuais. A amostra também continha incontáveis traços de pólen e esporos de plantas , incluindo as primeiras remanescentes de plantas floridas já encontradas nas altas latitudes da Antártica.
Para reconstruir o meio ambiente dessa floresta preservada, a equipe avaliou as condições climáticas em que vivem hoje as modernas descendentes daquelas plantas, assim como analisou a temperatura e indicadores de precipitação dentro da amostra.
Eles descobriram que a média anual de temperatura era cerca de 12º C; aproximadamente dois graus mais quente que a média anual da temperatura da Alemanha hoje. As temperaturas médias do verão eram próximas a 19º C; a temperatura das águas nos rios pântanos chegava a 20º C; e a quantidade e a intensidade de chuva no oeste da Antártica era similar a do País de Gales hoje.
Para que essas condições existissem, os pesquisadores concluíram que 90 milhões de anos atrás o continente da Antártica era coberto com uma vegetação densa, não existiam grandes lençóis de gelo na região do Polo Sul, e a concentração de dióxido de carbono na atmosfera era muito maior que o esperado para o período Crustáceo.
O autor principal e pesquisador Johann Klages, do Instituto Alfred Wegener, disse que “antes do nosso estudo, a suposição geral era de que a concentração global de dióxido de carbono no Cretáceo era aproximadamente 1000 ppm. Mas nos nossos modelos baseados em experimentos, os níveis de concentração eram de 1120 a 1680 ppm, a fim de permitir tais temperaturas médias naquele período na Antártica”.
Publicado em 02/04/2020