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Tigres dente-de-sabre podem ter rugido como leões

Os ossos da garganta do felino pré-histórico Smilodon sugerem que ele usava vocalizações assustadoras para se comunicar

Os gatos modernos da subfamília pantherinae, como leopardos, tigres e leões, conseguem rugir devido a uma configuração muito especializada de pequenos ossos da garganta e ligamentos que fazem parte de sua laringe ou caixa vocal. Agora, paleontólogos encontraram ossos fossilizados semelhantes que pertenciam ao pré-histórico tigre dente-de-sabre, o Smilodon fatalis, sugerindo que ele emitia vocalizações assustadoras.

Encontrar fósseis tão pequenos é raro, mas neste caso foi possível graças à preservação incomum que ocorre no Rancho La Brea, em Los Angeles. Lá, esqueletos inteiros de animais como o Smilodon são encontrados freqüentemente preservados, diz o paleontólogo Christopher Shaw, do Museu de História Natural de Idaho, que apresentou a descoberta no sábado (20) na reunião da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados em Albuquerque, Novo México.

Entre os milhões de fósseis recuperados até hoje no Rancho La Brea – que datam de 11 a 40 mil anos atrás – cerca de 166 mil são ossos de Smilodon. Estes incluem 150 ossos estreitos, de 2,5 a 10 cm de comprimento, que Shaw agora relatou fazerem parte do “arco hióide”, ou laringe do gato primitivo. A falecida colega de Shaw, Antonia Tejada-Flores, encontrou uma caixa de cigarros cheia de ossos hióides desconectados de vários animais no porão do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles na década de 1970. “Antonia descobriu que, com base nas proporções do material e no número de ossos, eles pertenciam ao tigre dente-de-sabre, Smilodon, que é o segundo maior mamífero encontrado no Rancho La Brea depois dos lobos pré-históricos”, diz Shaw.

Shaw só recentemente completou um estudo detalhado dos fósseis, mostrando que havia cinco ossos no complexo arco hióide do Smilodon, semelhante ao dos modernos tigres que rugem. Os grandes felinos de hoje têm um entre dois estilos de arcos hióides que ancoram a laringe e as extensões da língua até a garganta. Um estilo é composto por entre nove e 11 ossos e é encontrado em espécies que ronronam mas não podem rugir. O segundo estilo – encontrado em felinos que rugem mas não ronronam – é composto por cinco ossos, com um ligamento elástico entre dois deles.

Quando um leão quer rugir, ele abre a boca e “esse ligamento se estende de cerca de 15cm a cerca de 23 cm, dando-lhe a capacidade de alargar a garganta e ressoar um tom mais profundo”, diz Shaw. Com base nos fósseis, Smilodon tinha um arranjo muito semelhante de ossos em seu arco hióide, acrescenta. “Nossa conclusão é que o Smilodon era capaz de rugir. Se de fato ele rugisse, esse teria sido um importante dispositivo de comunicação.”

Grandes felinos modernos rugem para se comunicar com a sua espécie e entre espécies. Essa habilidade também é importante em animais sociais ou de carga. Algumas descobertas anteriores sugerem que o Smilodon era um animal gregário, diz Shaw, e “esta é uma nova prova para entender seu comportamento social”.

Blaire Van Valkenburgh, um especialista em fósseis carnívoros da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, que não esteve envolvido no estudo, diz que o rugido, no caso do Smilodon, também é consistente com um comportamento social complexo ou de caçador de matilhas. “A possibilidade de eles se comunicassem através do rugido mostra algo típico de uma espécie social”, diz ela. “A descoberta de que o Smilodon provavelmente tinha um repertório e aparelhagem violentos é interessante, pois sugere que o rugido evoluiu independentemente, tanto na linhagem do tigre dente-de-sabre, quanto na linhagem moderna de grandes felinos, dado que eles compartilharam um ancestral comum há pelo menos 39 milhões de anos.”

Shaw concorda que a configuração mais complexa, composta por 9 a 11 ossos hióides encontrada em gatos ronronantes, provavelmente é a condição ancestral da família Felidae que inclui o Smilodon e seus parentes, juntamente com todos os gatos modernos. A adaptação que permite o rugido evoluiu, em ocasiões diferentes, nos ancestrais dos gatos Smilodon e nos pantherinae vivos. Talvez os dois grupos compartilhem os genes que permitiram a mudança ser possível, especula ele.

Ashley Reynolds, especialista em fósseis de felinos da Universidade de Toronto, diz que a descoberta é muito interessante, mas adverte que pode não ser totalmente conclusiva, já que o leopardo-das-neves hoje têm o mesmo tipo de laringe que outros gatos pantherinae, mas não ruge. “Não há uma relação direta entre possuir um ligamento e poder rugir, mas certamente é interessante pensar que o Smilodon pode ter tido essa capacidade”, diz ela.

John Pickrell

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