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Testes instantâneos para COVID-19 podem ser a resposta para reabrir países

Testes rápidos e baratos poderiam ser o caminho para retomarmos a normalidade antes que uma vacina esteja disponível

O SarsCov-2. Foto de microscopia do NIAID

Com as economias rateando, o desemprego bombando, as escolas fechando suas portas e o cancelamento das competições de futebol americano universitário, Os Estados Unidos buscam para ontem uma forma de combater a COVID-19. E pode haver uma forma pode estar disponível — se você consegue tomar café instantâneo ao invés de um café expresso.

Essa  analogia com o consumo do café foi utilizada por Michael Mina, professor assistente de epidemiologia na Escola  T. H. Chan de Saúde Pública, na Universidade Harvard, e serve para descrever as diferenças funcionais entre duas abordagens que são usadas para fazer testes rápidos para o vírus. Neste caso, a opção que é fácil e barata, assim como acontece no caso do café instantâneo, pode ser a melhor.

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“Essa é a mais importante ferramenta em potencial que poderia existir hoje”, disse Mina em uma entrevista recente. “Na ausência de uma vacina, há realmente outra maneira de parar a transmissão dentro das comunidades, e ela está  bem à nossa frente.”

A prática de fazer testes diariamente, ou quase diariamente,  poderia ser a chave para abrir nossa sociedade. Isso exige, basicamente, disponibilizar  os testes em larga escala, tornando-os acessíveis. Se você tivesse a opção de fazer um teste amanhã apenas cuspindo em um tubo (ou esfregando seu nariz) e os  resultados saíssem em 15 minutos, e o custo não ultrapassasse os dois dólares, você não aceitaria?

Mina divide em duas categorias os testes que estão disponíveis.  O  teste do tipo “café expresso” corresponde aos testes de reação em cadeia da transcriptase polimerase (PCR-RT) ou testes de antígenos de luxo. Diversos produtores, como Mesa Biotech, Quidel e Becton, Dickinson, já conseguiram a Autorização para Uso Emergencial, que é conferida pela Agência de Administração de Alimentos e Drogas (FDA). Esses testes são altamente sensíveis, precisam de uma máquina para conseguir os resultados, e são caros: o custo pode variar desde 30 até 150 dólares por teste. Eles também demandam  um tempo maior para se obter os resultados. Mesmo o teste SalivaDirect, da Universidade de Yale, que recebeu autorização de uso no dia 15 de agosto e custa somente 10 dólares, precisa ser enviado a um laboratório central para ser processado.

Em contraponto, existem os testes rápidos de antígenos,  o que seria a variante “café instantâneo”, incluindo um produzido pela E25Bio, e um em desenvolvimento pela 3M e pelo MIT. Esses testes são rápidos, de utilização simples, caseiros, e alguns são muito baratos: cerca de 1 a 5 dólares por teste. Eles são chamados de avaliações de fluxo lateral, mas o que se vê são  tiras de papel que possuem um anticorpo embutido em um papel de filtro. Se uma amostra de saliva contém algum coronavírus,  o anticorpo irá se ligar ao antígeno viral e o teste dará positivo. Isso é algo bem semelhante ao que ocorre num teste de gravidez. Embora, de maneira geral, estes testes sejam bem menos sensíveis do que os  testes para PCR, uma vantagem que apresentam é que não detectam os remanescentes de partículas inativadas de RNA viral, que podem continuar existindo por semanas depois que a pessoa foi infectada.

A questão fundamental é o seguinte: mais importante do que um teste perfeito é um teste que dê positivo durante o período de tempo em que um indivíduo é capaz de disseminar o vírus para outras pessoas. E, supostamente, é isso o que esses testes baratos fazem bem. Em geral, acredita-se que a transmissão da COVID-19 começa cedo: alguns dias antes que surgem os  sintomas. Os níveis de carga viral atingem seu pico cedo e depois  declinam gradualmente, e a probabilidade de que um indivíduo possa infectar outras pessoas diminui  cerca de oito a 10 dias após o surgimento dos sintomas.

Sua eficácia ainda precisa ser posta a prova, mas esses testes de antígenos são eficientes em detectar o vírus em altas cargas virais. Mina acredita que, quando estes testes são utilizados  durante esse período infeccioso,  sua sensibilidade e sua performance se mostram  melhores do que um único teste de PCR. Usando modelos estatísticos,  Mina e seus colegas demonstraram que a vigilância na área da saúde pública depende muito mais da frequência com que os testes são feitos e da velocidade com que são obtidos os resultados do que da sensibilidade propriamente dita dos testes.

Se todos utilizassem esta alternativa acessível,  poderíamos  controlar essa pandemia rapidamente. Um resultado positivo no teste para COVID-19 significaria que o indivíduo deve ficar em casa; um teste negativo significaria que ele ou ela pode ir trabalhar, ir para a escola ou treinar, fazer compras ou até refeições. Com essa abordagem, a prevalência do vírus na comunidade iria cair consideravelmente — e localizar o contágio não seria necessário, porque todos já estariam sendo testados.

Como quase tudo ligado a nossos esforços para controlar a COVID-19, a pesquisa relacionada a esse sistema de testagem rápida não é perfeita. Mina e seus colegas reconhecem diversas limitações importantes no estudo que fizeram. Dentre elas estão possíveis variações nos testes devido a sua produção, amostras clínicas coletadas de maneira imprópria, possíveis pressuposições sobre  a cinética viral e talvez uma crença errônea de que todas as pessoas participariam de uma iniciativa assim.

Mas o principal problema poderia ser encontrar esses testes. Por que nós não os vimos nas farmácias? A resposta é que a FDA está exigindo dos desenvolvedores desses testes, como a E25Bio, que obtenham o mesmo nível  de sensibilidade dos testes  necessários para um diagnóstico molecular. Sem obter essa autorização, as empresas não estão produzindo estes testes. Mina e outros argumentam que é necessário uma mudança de paradigma, para que os testes rápidos de antígenos sejam reconhecidos como uma “ferramenta de saúde pública” que, quando combinada com uso frequente, irá identificar os indivíduos infecciosos.

Provavelmente será necessária a influência do governo federal (ou de alguma personalidade, como o Bill Gates) por trás das empresas para esclarecer o assunto, avaliar a precisão do teste durante a janela de infecciosidade, resolver problemas de regulamentação e rapidamente começar a produção, para que 50 a 150 milhões de testes possam ser realizados pelos americanos a cada dia. Dado a simplicidade odestas tiras, uma produção em massa nessa escala parece plausível.

Esse tipo de testagem de vigilância frequente e barata para que as pessoas possam usem em casa — especialmente quando elas se mostram  assintomáticas — poderia  contribuir muito para conter nosso surto atual. Essa poderia ser a chave que estávamos todos procurando para destrancar nossas portas da frente e voltarmos a trabalhar — ou a desfrutar do lazer.

Alguém aceita o café preto instantâneo? Eu vou comprar.
Carolyn Barber
Publicado em 31/08/2020