Sputnik lançou a corrida espacial
A União Soviética deu o pontapé inicial na Era Espacial há 50 anos ao lançar um satélite do tamanho de uma bola de basquete, o Sputnik, em órbita. A partir de então, os americanos passaram a sonhar com a primazia no espaço – e ter pesadelos com ataques nucleares.
Novas reportagens que comemoram o aniversário do satélite este mês trazem à tona a paradoxal falta de entusiasmo dos líderes soviéticos com o lançamento, em contraste com o espanto do público americano, para quem o Sputnik era a prova de que uma corrida espacial havia começado – e de que o Tio Sam ainda estava preso na largada.
Na verdade, a reação dos Estados Unidos acompanhou a da União Soviética de maneira significativa, de acordo com Erin Conway, historiador da Nasa no Jet Propulsion Laboratory em Pasadena, Califórnia. Em ambos os países, os engenheiros aeroespaciais tiveram que atrair a atenção dos líderes políticos para as estrelas. Os construtores de foguetes americanos, no entanto, foram auxiliados pela crença de que essa conquista russa demonstrava sua superioridade tecnológica – e, o mais importante, seu alcance nuclear.
Essa concepção errônea, segundo Conway, teria conseqüências dramáticas para o Programa Espacial americano, resultando na fundação da Nasa e na ascensão da ciência espacial – isso sem mencionar as primeiras missões tripuladas para a Lua.,O Sputnik foi a idéia original de um grupo de engenheiros russos liderados por Sergei Korolev, encarregado em 1954 de desenvolver o primeiro míssil balístico intercontinental do país. No ano seguinte, Korolev recebeu permissão para colocar em prática seu verdadeiro sonho – um satélite artificial capaz de explorar a origem dos raios cósmicos, entre outras questões científicas –, depois que os Estados Unidos anunciaram a intenção de colocar um satélite em órbita em 1957, para marcar o chamado Ano Geofísico Internacional.
Quando a equipe de Korolev não conseguiu aprontar um satélite com 1.000 kg em tempo, decidiu partir para um design mais modesto de um equipamento muito menor, batizado de “satélite simples”, ou Sputnik (abreviação do termo em russo). No dia 4 de outubro de 1957, um míssil balístico R-7 partiu a todo vapor das planícies do Cazaquistão carregando um globo de 58 cm e 83kg – basicamente um transmissor de rádio com quatro antenas puxadas para trás.
O R-7 era o maior míssil da época e “muito mais poderoso que qualquer coisa que os americanos tinham”, disse o engenheiro espacial e ex-cosmonauta russo Georgi Grechko à Associated Press esta semana.
Os americanos – mesmo os mais entendidos de tecnologia – ficaram espantados. “Não esperávamos algo desse tipo tão cedo”, reconhece Henry Richter, ex-engenheiro espacial do Jet Propulsion Laboratory (JPL) que trabalhou no Explorer 1, o primeiro satélite americano bem-sucedido. “Ninguém jamais havia lançado um satélite antes. Nós não sabíamos que éramos capazes de fazer isso também. E ali estava ele, no céu, mandando sinais de rádio”.,No mês seguinte, os soviéticos lançaram a cadela mais famosa do país, Laika, em órbita, a bordo do Sputnik 2. Com cerca de 500kg, o segundo Sputnik superou o satélite americano Vanguard, que com 1,6kg estava em fila para ser lançado. O Sputnik 2 era quase do tamanho de uma ogiva americana, diz Conway, mas os Estados Unidos eram capazes de construir uma ogiva menor porque tinham uma eletrônica mais sofisticada – além disso, os russos previam que precisariam de uma ogiva mais de duas vezes maior.
“Para o público americano, o fato de os soviéticos terem foguetes muito maiores dava a impressão de que estavam à nossa frente, mas na verdade estávamos mais avançados”, ele diz. O presidente americano Eisenhower, aparentemente confiante que os Estados Unidos estavam no caminho certo, menosprezou a importância do Sputnik.
Da mesma forma, a liderança russa também não estava muito impressionada ao saber do lançamento do primeiro Sputnik. O premier russo Nikita Khrushchev e outros oficiais soviéticos consideravam o satélite uma “diversão científica” que deu ao país comunista o direito de se gabar, mas que não representava um avanço em relação ao principal objetivo de um míssil balístico intercontinental, declarou seu filho, Sergei Khrushchev, ao Chicago Sun-Times esta semana.
A sensação na imprensa Americana convenceu os russos a seguir em frente com o Sputnik 2, e também forçou Eisenhower a fortalecer os planos para um satélite americano. Além do programa Vanguard, que está estava em desenvolvimento no Laboratório de Pesquisa da Marinha Americana, o Explorer do JPLse tornou o substituto no caso do Vanguard falhar – o que realmente aconteceu no dia 6 de dezembro de 1957, quando explodiu metros acima de sua plataforma de lançamento (uma segunda tentativa dois meses depois também terminou em explosão).,A comunidade científica teve seu desejo realizado com um programa científico civil público no espaço em outubro de 1958, quando o Comitê Nacional de Aeronáutica americano foi recriado como a Agência Especial Americana – Nasa.
Como resultado, Conway explica, os astrônomos puderam colocar as mãos em tecnologia militar que lhes havia sido negada por um bom tempo, como sensores infravermelhos para detectar mísseis pelo calor, que poderiam ajudá-los em seus estudos do Sistema Solar.
E assim começou a Era Espacial. Em janeiro de 1958, o Explorer 1 foi lançado de Cabo Canaveral, na Flórida. Três anos depois, houve o lançamento do primeiro foguete Saturno, que acabaria servindo como base para a nave Apollo que levou os astronautas americanos até a Lua. Para Conway, foi a vez dos soviéticos ficarem chocados. “Eles disseram: Oh! Então não era só propaganda política. Eles realmente conseguiram!”.