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Sonda da Nasa consegue tocar asteroide Bennu

A sonda OSIRIS-REx busca coletar amostras do asteroide com o propósito de trazê-las a Terra

Uma imagem do local de coleta de amostras “Nightingale”, com silhueta da espaçonave OSIRIS-REx sobreposta para escala. Créditos: NASA, Goddard e Universidade do Arizona


Pela primeira vez na história, uma sonda da Nasa empreendeu  uma operação de coleta de amostras em um asteroide localizado no chamado espaço profundo. 

A sonda OSIRIS-REx alcançou a superfície do asteroide Bennu, que se localiza próximo a Terra, na tarde do dia 20 de outubro, para obter  material que se espera conter pistas a respeito do  início do Sistema Solar e do desenvolvimento de vida na Terra. 

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“Nós conseguimos!” disse o principal investigador da OSIRIS-REx Dante Lauretta, da Universidade do Arizona, durante uma transmissão pela internet que forneceu atualizações sobre a manobra. “Nós alcançamos a superfície do asteroide, e agora os resultados dependem  do Bennu.” 

O objetivo era coletar pelo menos 60 gramas de poeira e cascalho da superfície carregada de pedregulhos. Pode levar até 10 dias para avaliar se a OSIRIS-REx alcançou seu objetivo, disseram os membros da equipe. E não seria um desastre se o resultado se mostrar insuficiente; caso necessário, a sonda pode voltar duas outras vezes. 

“Esse incrível marco da Nasa demonstra como uma equipe incrível de todo o país se reuniu e superou desafios incríveis para expandir os limites do conhecimento”, disse o administrador da Nasa, Jim Bridenstine, em uma declaração após o pouso. “Nossos parceiros na indústria, na academia e internacionais possibilitaram que segurássemos nas mãos um fragmento dos mais antigos do nosso Sistema Solar em nossas mãos”. 

Lauretta e seus cientistas e engenheiros companheiros da OSIRIS-REx assistiram à manobra  no centro de operações em missões no Lockheed Martin Space em Littleton, Colorado (a Lockheed Martin construiu a nave da Nasa). E apesar do clima ter sido certamente de júbilo, o impacto da atual pandemia da COVID-19 era claro. 

Por exemplo, todos usavam máscaras faciais e mantiveram um distanciamento social apropriado durante a maior parte do evento. Embora tenham ocorrido muitos abraços após a notícia do pouso do OSIRIS-REx no asteroide, o número foi menor durante a transmissão pela internet da Nasa, e claramente foram usadas substâncias desinfectantes das mãos  após as celebrações. 

“Esse é um daqueles momentos em que estamos todos cientes da COVID-19”, disse a astrônoma da Nasa   logo após a transmissão do pouso. “Porque eu quero os abraços e os cumprimentos e tudo mais, mas nós todos vamos nos manter seguros”. 

Estimada em 800 milhões de dólares, a missão OSIRIS-REx, foi lançada em setembro de 2016 e chegou a distância de  500 metros do Bennu em dezembro de 2018. A sonda vem realizando medições do asteroide desde então, mapeando sua superfície em detalhes incríveis como preparação para a manobra. 

Essa atividade revelou desafios maiores do que a equipe de missão esperava. Pedregulhos do tamanho de casas estavam na superfície de Bennu, limitando as opções disponíveis para uma coleta segura das amostras. Por fim, a equipe selecionou uma pequena cratera chamada Nightingale como sua principal escolha, porque o local guarda materiais relativamente frescos e refinados que não foram expostos ao ambiente rigoroso do espaço por muito tempo.

Mas, Nightingale está cercada por perigos, incluindo um grande afloramento que a equipe da missão chamou de “Monte da Perdição”. Existem obstáculos dentro da cratera também, então a espaçonave visou uma área relativamente plana e livre de pedregulhos com apenas 8 metros de largura — um objetivo bastante ambicioso, considerando-se que a OSIRIS-REx tem o tamanho de uma van de 15 passageiros e o plano da missão original imaginava uma área de pouso de 50 metros de largura. 

“Então, para dar uma ideia: a próxima vez que você estacionar o seu carro na frente de sua casa ou em frente a uma cafeteria e entrar, pense sobre o desafio de navegar a OSIRIS-REx em um desses locais à mais de 320 milhões de quilômetros de distância”, disse Mike Moreau, administrado de projetos da OSIRIS-REx no Centro Espacial Goddard,  da Nasa, durante uma coletiva de imprensa no último mês. 

Atualmente, leva mais de 18 minutos para que os comandos viajem da Terra até a OSIRIS-REx, então Moreau e seus colegas não podem controlar a sonda em tempo real. A espaçonave fez a manobra de modo autônomo.    

Um pouco antes das 15:00 horas do horário de Brasília no dia 20 de outubro, a OSIRIS-REx ligou  seus propulsores para sair da órbita ao redor da Bennu e foi em direção a superfície. Às 19:12 horas do horário de Brasília, a sonda “beijou” o asteroide por aproximadamente 10 segundos com seu mecanismo de coleta de amostras, que está fixada no fim do braço robótico da OSIRIS-REx que tem 3,4 metros de comprimento. 

Durante esse breve pouso, a espaçonave assoprou a superfície de Bennu com gás nitrogênio. Isso agitou poeira e rochas que poderiam então ser coletadas pela ponta do braço que coleta amostras, a qual os membros da equipe de missão ligaram a um filtro de ar de um carro mais velho. 

Espera-se  que as primeiras imagens da operação da OSIRIS-REx cheguem a Terra no dia 21 de outubro pela manhã, disseram os membros da equipe. 

A equipe da OSIRIS-REx irá passar a próxima semana aproximadamente avaliando o quanto de material de asteroides foi coletado. A equipe  expressou  confiança de que essa primeira tentativa será um sucesso; o instrumento para coletas de amostras da OSIRIS-REx foi projetado para captar pelo menos 150 gramas e poderia teoricamente conseguir até 4 quilogramas de material caso tudo ocorra perfeitamente. 

Mas caso a OSIRIS-REx não tenha conseguido coletar material o suficiente, outra tentativa poderia ser realizada, em um outro local conhecido como Osprey, até janeiro de 2021. Uma terceira tentativa seria possível também, caso necessária; a sonda carrega três garrafas de gás de nitrogênio para movimentar a superfície. 

Entretanto, esses são planos de contingência. Se as coisas ocorrerem de acordo com o plano hoje, a OSIRIS-REx permanece em curso para deixar Bennu em março de 2021. As amostras coletadas estão programadas para chegar aqui na Terra, envolta em uma cápsula especial de retorno, em setembro de 2023. 

  Os cientistas irão, então, estudar o material em laboratório de todo o mundo, de forma muito mais detalhada do que seria possível fazer com a OSIRIS-REx ou qualquer outra sonda  no espaço. Os asteroides são blocos aglomerados remanescentes  da época de formação dos planetas, então tais análises poderiam revelar ideias fundamentais sobre o princípio do Sistema Solar, disseram os funcionários da Nasa. 

“Essa foi uma conquista incrível. Hoje, avançamos no campo da ciência e da engenharia, e nossos planos para missões futuras que estudem  esses antigos e misteriosos marcos  da história do Sistema Solar”, disse Thomas Zurbuchen, diretor  associado da Nasa para missões científicas em uma declaração. “Um pedaço de rocha primordial, que testemunhou toda a história de nosso Sistema Solar pode estar pronto para voltar para casa para gerar gerações de descobertas científicas, e estamos ansiosos pelo que virá a seguir.” 

Além disso, o Bennu é rico em minérios hidratados e compostos orgânicos que contêm carbono. Asteroides assim podem ter ajudado a Terra a se tornar habitável muito tempo atrás, trazendo para o nosso planeta  os ingredientes  necessários para a vida como a conhecemos. 

“Termos essas amostras na Terra nos permite preservá-las para gerações futuras e permitir que exploradores futuros as analisem,  utilizando técnicas e instrumentos que ainda não foram inventados, e questionem coisas que nós nem sabemos perguntar ainda”, disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária  da Nasa, durante a transmissão de hoje. 

Reunir essas amostras de volta a Terra é a principal prioridade da OSIRIS-REx. Mas a missão também tem outros objetivos, como indicado pelo seu nome completo — “Origens, Interpretação Espectral, Identificação de Recursos, Segurança, Exploração de Regolitos”. 

Por exemplo, as observações que a sonda realizou enquanto orbitava Bennu devem ajudar aos cientistas a entender melhor como os asteroides se movem através do espaço. Essa informação poderia melhorar as projeções de trajetória para asteroides potencialmente perigosos, uma categoria que inclui Bennu. (Existe uma chance de 1 em 2700 que Bennu acerte a Terra durante uma abordagem próxima a Terra no fim dos anos 2100, dizem os pesquisadores). 

A amostra da OSIRIS-REx não será o primeiro material de asteroide imaculado que foi trazido de volta à Terra por uma missão espacial. A sonda Hayabusa do Japão retornou alguns grãos do asteroide Itokawa em 2010, e seu sucessor, Hayabusa2, recentemente reuniu pedaços da rocha rica em carbono Ryugu. O material da Ryugu deve  chegar à Terra em dezembro.

As equipes OSIRIS-REx e a Hayabusa 2  trabalharam juntas durante os últimos anos, e a colaboração irá continuar após a chegada das amostras das missões na Terra, ressaltaram os funcionários  da Nasa. 

Mike Wall 

SPACE.com

Publicado em 21/10/2020 

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