Sistema imunológico e vasos sanguíneos poderiam explicar menor número de casos graves de COVID-19 em crianças
Um estudo de revisão, que avalia os resultados apresentados em pesquisas anteriores, sugere que entre os fatores que ajudam a proteger as crianças contra as formas mais severas de COVID-19 estão certas peculiaridades em seu sistema imunológico e uma maior saúde em seus vasos sanguíneos. O estudo, de autoria de cientistas do Instituto Murdoch de Pesquisa em Crianças Murdoch (MCRI), da Universidade de Melbourne, e da Universidade de Fribourg, foi publicado na revista Archives of Disease in Childhood.
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Nigel Curtis, co-autor do artigo e pesquisador do MCRI, conta que embora haja diferentes hipóteses para esclarecer por que os adultos correm um risco maior do que crianças de apresentar quadros severos da doença, elas não elucidam os motivos pelos quais o risco é maior para quem tem mais de 60 ou 70 anos. Além disso, em contraste com o que se vê nos casos de outras viroses respiratórias, os casos graves e mortes associados à COVID-19 são relativamente raros em crianças. “A maioria das crianças com COVID-19 não apresenta sintomas ou eles são muito fracos, geralmente febre, tosse, dor de garganta e mudanças no olfato e no paladar. Mesmo crianças com os fatores de risco comuns para infecções graves, como imunossupressão, não apresentam risco alto para desenvolver casos graves de COVID-19”, diz ele.
O pesquisador pondera que o dano às camadas finas de células endoteliais em diversos órgãos, especialmente nos vasos sanguíneos, e vasos linfáticos, tendem a aumentar com a idade, e que foi percebida uma associação entre patologias que afetam essas células e casos graves de COVID-19. “Sabe-se que danos pré-existentes em vasos sanguíneos exercem um papel importante na severidade dos casos da COVID-19, e podem gerar coágulos sanguíneos, causando derrames e ataques cardíacos. A COVID-19 pode infectar as células endoteliais e causar inflamação em vasos sanguíneos”.
Já o endotélio nas crianças apresenta danos muito menores em comparação aos adultos, e seus sistemas de coagulação também são diferentes, que tornam as crianças menos propensas a uma coagulação sanguínea anormal.
Some-se a isso o fato de que doenças associadas a inflamações crônicas que se desenvolvem com o avanço da idade, incluindo diabete e obesidade, também estão ligadas a casos graves da COVID-19.
Ele disse que uma imunização mais recente com vacinas vivas, como a vacina VASPR, ou tríplice viral, contra antissarampo, parotidite e rubéola, que poderia melhorar o sistema imunológica, poderia ter um papel importante na proteção de crianças.
Petra Zimmermann, da Universidade de Fribourg, ressalta que outras diferenças no sistema imunológico entre crianças e adultos. “As crianças possuem uma resposta imunológica inata mais forte, que é a primeira linha de defesa contra a COVID-19”, diz. “Outro fator importante é a ‘imunidade treinada’, que favorece células imunológicas inatas após infecções fracas e vacinação, levando a um tipo de “memória imunológica inata”.
Crianças infectadas com a COVID-19 geralmente apresentam co-infecções, causadas por outras viroses. Infecções virais recorrentes poderia levar a uma ‘imunidade treinada’ mais eficiente, o que torna as crianças mais capazes para combater a COVID-19.
A pesquisadora também lembra que diferentes níveis de microbiota (bactérias e outros micro-organismos) na garganta, nariz, pulmão e estômago, podem influenciar a susceptibilidade à COVID-19. “A microbiota tem um papel importante na regulação da imunidade, inflamação e na defesa contra doenças. As crianças têm uma chance maior de apresentarem vírus e bactérias, especialmente no nariz, onde esses bacilos podem limitar o crescimento da COVID-19.
Além disso, as crianças também possuem níveis mais altos de vitamina D, que possui propriedades anti-inflamatórias. “Em muitos países, a vitamina D é rotineiramente suplementada em crianças mais jovens do que um ano de idade e, alguns países, crianças com até três anos de idade”.
Para Curtis, entender de que forma as diferenças de idade se relacionam com a severidade dos casos de COVID-19 pode proporcionar ideias importantes e oportunidades para prevenção e tratamento das infecções por SARS-CoV-2.
Publicado em 03/12/2020