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Será que realmente recebemos uma mensagem de um planeta que orbita a estrela mais próxima?

Um sinal de rádio, aparentemente vindo da estrela Proxima Centauri, que possui um planeta do tamanho da Terra em sua zona habitável, é intrigante, mas provavelmente não tem origem alienígena

Ilustração de uma paisagem em Proxima Centauri b, um planeta recém-descoberto do tamanho da Terra, a apenas quatro anos-luz de distância.


No dia 18 de dezembro de 2020, o jornalista Ian Sample do jornal britânico
The Guardian publicou uma reportagem sobre um sinal tentador de rádio em 982,002 MHz que foi detectado pelo projeto Breakthrough Listen, do qual participa o telescópio Parkes, situado na Austrália. O sinal veio da estrela mais próxima do Sol, Proxima Centauri. Essa estrela infravermelha abriga um planeta do tamanho da Terra, Proxima b, em sua zona habitável. Nessa zona é possível  a existência de água em estado líquido, o que poderia permitiria que ocorressem as reações químicas necessárias ao surgimento da vida na superfície do planeta. Nenhum artigo científico sobre o estudo foi divulgado depois da reportagem,  portanto, é muito cedo para arriscar qualquer conclusão. 

Os astrônomos devem verificar se o sinal não pode ser fruto de  interferências de rádio originadas da própria Terra, ou gerado por algum tipo de mecanismo natural de emissão. Uma interferência de origem terrestre deve apresentar um aspecto diferente para cada telescópio, dependendo do local onde ele se situa.  Se a fonte do sinal de rádio estiver em Proxima b e apresentar um comportamento regular, então deve exibir  uma modulação a cada 11 dias, intervalo de tempo associado com o período orbital (e a rotação) do planeta. Logo que vi a reportagem, escrevi ao editor do meu próximo livro sobre busca por vida inteligente, intitulado  Extraterrestrial, dizendo: “Pode haver amigos lá fora. Melhor que ganhar  cinco estrelas numa resenha é obter uma confirmação quanto ao conteúdo do livro vinda das estrelas no céu”. 

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Após a reportagem, Jonathan O’Callaghan e Lee Billings da Scientific American publicaram mais detalhes sobre o sinal detectado, chamado de BLC1, uma abreviação para  “primeiro evento candidato do Breakthrough Listen“. Baseado nas informações que eles forneceram, eu imediatamente consegui concluir que o transmissor não pode estar na superfície de Proxima b, caso contrário a frequência de rádio variaria muito mais do que o observado, a partir da aceleração conhecida do planeta ao redor da Proxima Centauri (que é diretamente medido utilizando a conservação do momento do movimento de reflexo de sua estrela). Como essas notícias viera através  de um vazamento não intencional, e eu não sou membro da equipe que fez a descoberta, não conhecia os detalhes do BLC1 antes de ler esses excelentes novos artigos.  

Mas, mesmo sem examinar os detalhes do sinal detectado, alguém poderia se perguntar se é plausível para que um sinal de rádio se origine do sistema estelar mais próximos de nós. Em uma pesquisa nova feita com meu estudante Amir Siraj,  mostramos que a probabilidade de que outra civilização transmitia tais ondas de rádio são muito baixas, tendo por base o princípio Copernicano. Ao longo da história da Terra, que tem entre 4 e 5 bilhões de anos, a tecnologia de rádio terrestre só apareceu ao longo do último século. O princípio Copernicano diz que os humanos na Terra não são observadores privilegiados. 

Esse princípio concorda com tudo que sabemos sobre o Universo. Diferentemente da cosmologia de Aristóteles, que colocava a Terra no centro e foi popular durante um milênio, a atual perspectiva científica sobre o Universo físico implica que planetas do tamanho da Terra residam em zonas habitáveis de quase metade de todas as estrelas similares ao Sol; que apenas na Via Láctea existam dezenas de bilhões de estrelas semelhantes ao Sol;  que dezenas de bilhões de galáxias semelhantes à Via Láctea existam no volume observável do Universo atual; e que o universo não possua um centro, sendo, na realidade,  quase uniforme, apresentando variações  numa escala de uma parte por mil. Portanto, é razoável aplicar o mesmo princípio Copernicano para o universo tecnológico. Seguindo esse argumento, a pesquisa quantitativa com Amir mostra que a chance de um sinal de rádio apareça agora, originando-se de nossa estrela mais próxima, é minúscula. Provavelmente, o BLC1 se origina de um oscilador que emite ondas de rádio, construído por humanos na Terra, que contaminou a observação do telescópio. 

Existe um “porém” quanto a essa conclusão, caso haja alguma ligação entre  a vida inteligente que existe na Terra e na sua vizinha estelar  mais próxima. Movimentos aleatórios fazem com que estrelas entrem e saiam constantemente da região vizinha ao Sistema Solar.  Curiosamente, a estrela Proxima Centauri passou a ser a estrela mais próxima de nós quase no mesmo momento em que o Homo sapiens despontou na Terra. Será apenas coincidência? 

De qualquer maneira, existem outras razões para fazermos uma visita ao nosso sistema planetário vizinho. Uma sonda enviada que se desloque a uma fração da velocidade da luz poderia nos enviar  as primeiras fotos. A iniciativa Breakthrough Starshot visa desenvolver a tecnologia que nos permitiria lançar tal sonda utilizando um laser poderoso (100 gigawatt) que impulsionaria uma vela ultraleve  (na ordem de grandeza de  gramas), na qual estariam conectadas  uma câmera miniaturizada e um aparelho de comunicação. 

Como  Proxima b  fica 20 vezes mais próximo de sua estrela do que a Terra está do Sol, espera-se que ele imobilizado pela gravidade, de forma que esteja com a mesma face virada permanentemente em direção a sua sua estrela. Minhas filhas sugeriram que o local com a faixa de pôr do sol permanente entre os dois lados deve ter o valor imobiliário mais alto, já que é ideal para viagens. Se houvesse uma civilização em Proxima b, provavelmente iria cobrir o lado  permanentemente ensolarado com células fotovoltaicas, para poder transferir eletricidade para aquecer e iluminar o lado noturno.  

Em uma pesquisa publicada com meu antigo aluno de pós-doutorado Manasvi Lingam, nós mostramos que, se essas células ocupassem uma parte importante do território do planeta, a variação que eles causariam na capacidade de reflectância do planeta poderia ser percebida por futuros telescópios. Em outro artigo  que estou escrevendo atualmente com a estudante de Stanford Elisa Tabor, nós mostramos que o Telescópio Espacial James Webb poderia ser capaz de enxergar a iluminação artificial que existisse eventualmente no lado escuro  de Proxima b, especialmente se essa iluminação for baseada em tecnologia de luzes deLED. Uma iluminação desse tipo talvez fosse especialmente interessante para a visã  infravermelha de nossos vizinhos hipotéticos. 

 

Publicado em 12/01/2021

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