Segundo painel solar da nave Lucy da NASA trava durante a abertura
A espaçonave Lucy, projetada pela NASA para estudar os asteroides troianos de Júpiter, conseguiu abrir totalmente um de seus painéis solares logo depois de se desconectar do foguete. Após este lançamento bem sucedido no dia 16, no entanto, a agência recebeu sinais indicando que o segundo painel abriu apenas parcialmente, diminuindo ligeiramente a quantidade de energia gerada.
Os painéis solares são a característica mais marcante de Lucy, com 7,3 metros de diâmetro. Sua função é alimentar os subsistemas da nave, como os instrumentos de coleta de dados e de comunicação com a Terra. Segundo comunicados oficiais da agência, a abertura parcial não prejudicou a “saúde” de Lucy e a energia gerada é suficiente para alimentar os subsistemas sem impacto na performance.
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Ainda assim, os engenheiros responsáveis pelo projeto adiaram a mobilização de uma plataforma para apontamento de instrumentos. Isso ocorreu pois a equipe está focada em estudar meios de abrir totalmente o segundo painel — uma tentativa ocorrerá no fim da próxima semana. “Lançar uma espaçonave é quase como mandar seu filho para faculdade — você faz o que pode para ele estar preparado para dar o próximo passo por si só,” disse Hal Levison, pesquisador líder da Missão Lucy, meses antes do lançamento.
Como Lucy possui outra fonte de energia para seus propulsores — 725 kg de hidrazina e oxigênio líquido — as manobras para garantir que a nave se mantenha na trajetória não devem ser afetadas. A equipe da NASA ainda estuda o que pode ter causado a abertura parcial do painel e se isso terá algum impacto de longo prazo no cumprimento dos objetivos da missão.
A Missão Lucy
Aprovada em 2017, a Missão Lucy é a décima terceira do programa Discovery da NASA e tem como objetivo estudar oito asteroides de interesse no Sistema Solar. A maioria deles faz parte dos “asteroides troianos”, dois conjuntos de objetos de diversos tipos, localizados em diferentes pontos perto da órbita de Júpiter. O primeiro desses grupos viaja à frente do planeta, enquanto o segundo o segue por trás.
Esses grupos estão localizados no que os astrônomos chamam de “Pontos de Lagrange” de Júpiter. Esses pontos são zonas estáveis ao redor da órbita de um planeta, em que a atração gravitacional gerada por um corpo maior e mais distante (o Sol) é contrabalanceada pela gravidade de um objeto menor e mais próximo (o próprio Júpiter), como em um cabo de guerra. Assim, os asteroides puderam manter-se estáveis ao redor de Júpiter por bilhões de anos.
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E é justamente essa estabilidade que interessa aos pesquisadores da NASA. Os troianos são um grupo bastante diverso de asteroides, que muito provavelmente são feitos dos mesmos materiais que deram origem aos planetas gigantes gasosos, ainda no Sistema Solar primitivo. Ao estudá-los, os cientistas esperam descobrir detalhes importantes sobre a composição dos objetos e como se deu essa formação. “Essa é uma oportunidade fantástica para descobertas enquanto sondamos o passado distante do nosso Sistema Solar”, disse Tom Statler, cientista do projeto, antes do lançamento.
Esses asteroides seriam como fósseis do Sistema Solar. Dessa forma, espera-se que estudá-los seja tão revelador para astronomia como Lucy — nome dado ao esqueleto do ancestral humano mais antigo já encontrado — foi para arqueologia. E é justamente dessa inspiração que partiu o nome da missão: Lucy — dessa vez a nave — será uma arqueóloga de asteroides.
O plano de viagem
Mas, para atingir seu ponto de chegada, Lucy ainda percorrerá um trajeto de 12 anos. Se os planos forem mantidos, a nave deve realizar uma manobra de catapulta com a gravidade da Terra, que deve durar até outubro de 2022. Em seguida, após voltar para um segundo impulso, ela partirá para o seu primeiro “fóssil”: o asteroide Donaldjohanson, em 2025. Ao contrário dos outros do seu catálogo, este fica no Cinturão de Asteroides, que separa os planetas rochosos dos gasosos.
Após essa parada, Lucy seguirá para visitar seis asteroides do conjunto de troianos à frente de Júpiter. Logo depois, irá voltar para direção da Terra para mais uma manobra e seguir para analisar um conjunto binário de asteroides, no grupo que segue atrás do planeta. Os pesquisadores esperam que as visitas parem por aí, mas a nave continuará estável nos Pontos de Lagrange de Júpiter.
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Essa trajetória complexa foi meticulosamente planejada para tirar o máximo de proveito da viagem. Além de visitar dois conjuntos de asteroides duplos, aumentando o número de objetos estudados, os cientistas também escolheram tipos diferentes de composição. A nave passará por tipos C, comuns no Cinturão de asteroides, e também tipos C e D, objetos vermelho-escuros compostos principalmente de gelo. Esses são semelhantes aos encontrados no Cinturão de Kuiper, outra formação de asteroides encontrada além de Netuno, o planeta mais distante do Sol.
“Ainda serão muitos anos até chegarmos no primeiro asteroide troiano, mas esses objetos valem a espera e todo esforço por causa de seu imenso valor científico. Eles são como diamantes no céu” disse Levison também antes do lançamento. Devido ao enorme potencial de estudos, espera-se que Lucy possa cumprir seu trajeto sem mais problemas — e que a abertura parcial do segundo painel solar não comprometa sua missão de arqueologia espacial.
Publicado em 21/10/2021.