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Presença de lítio em estrelas sugere que elas devoraram planetas há bilhões de anos

Um estudo sugere que esse elemento químico, presente na composição de apenas algumas estrelas, pode ter vindo dos planetas que engoliram no passado.
Estrelas.

Estrelas que devoraram seus planetas companheiros podem deixar uma evidência para trás: o elemento lítio (representação artística). Crédito: NASA, ESA, and G. Bacon (STScI) / C. Haswell (The Open University, UK)

Cientistas propõem uma nova explicação para presença de lítio em estrelas ativas: ele seria uma indicação de que elas devoraram seus planetas, e pode persistir por bilhões de anos, dependendo do tipo estelar. 

Um estudo recente, publicado no servidor de preprints arXiv.org, analisou a presença de lítio em estrelas através de dados de espectroscopia, processo que divide a luz de um objeto e analisa as substâncias responsáveis por sua emissão. Sua conclusão associa a presença do elemento com “restos” de planetas há muito devorados por suas companheiras. 

O lítio, o terceiro da tabela periódica e primeiro dos metais, se formou logo após o Big Bang junto com o hélio e o hidrogênio, ainda que em quantidades muito menores. Porém, hoje, astrônomos observam menos dele do que é previsto pelos modelos. 

A explicação para esta discrepância está em um processo conhecido como “queima do lítio”, promovido pelas estrelas. No seu período de vida, esses astros esmagam elementos leves (como o hidrogênio e o hélio) em seu interior, produzindo elementos mais pesados e gerando grandes quantidades de energia, luminosidade e calor. 

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O mesmo acontece com o lítio. No entanto, a energia necessária para fundi-lo com um próton é menor do que a necessária para fundir dois átomos de hidrogênio. Consequentemente, o lítio é o primeiro a ser eliminado nas usinas das estrelas, antes mesmo de seu combustível principal, sendo transformado em berílio que, em seguida, se desfaz em dois hélios.

Devido a este processo de “queima”, é raro identificar lítio nos espectros estelares. Isso ajuda astrônomos a diferenciar estrelas ativas, que fazem fusão e, portanto, consomem seu lítio, de anãs marrons — um tipo subestelar pequeno e levemente brilhante que já aposentou sua usina, acumulando o elemento.

Mas essa diferenciação não é uma regra: algumas estrelas grandes e quentes demais para estarem aposentadas possuem lítio em sua composição. A explicação vigente até agora era que seus fluxos convectivos internos, que transferem material entre as diversas camadas da estrela, de alguma forma evitam que o lítio seja enviado para “fornalha” estelar.

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A equipe do estudo recente, porém, apresenta uma nova explicação. O lítio dessas estrelas viria dos planetas que haviam devorado no passado. Os planetas, assim como as anãs marrons, não queimam seu lítio e podem acumulá-lo livremente — isto é, a não ser que sejam engolidos por suas companheiras. 

Ao simular diversos tipos de estrelas, os pesquisadores descobriram que estrelas pequenas, como anãs vermelhas, tinham fluxos convectivos eficientes, capazes enviar todo o lítio de uma planeta para a queima após algumas centenas de milhões de anos.

Já para estrelas maiores, semelhantes ao Sol, esse processo pode demorar bilhões de anos. Ou seja, o lítio na composição de uma estrela é evidência não apenas de que ela um dia possuiu planetas, mas também os devorou — uma evidência persistente de seus crimes, que pode ajudar astrônomos a investigar a evolução de sistemas planetários. Ainda é preciso que o estudo passe por revisão por pares antes de comprovar as descobertas.

Publicado em 04/08/2022.

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