Povoadores originais da América chegaram trazendo cães amansados
Os primeiros povos a povoarem a América provavelmente vieram para o continente acompanhados de seus cães. É o que sugere um novo estudo que analisou registros arqueológicos e genéticos de antigas populações humanas e caninas.
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Segundo os pesquisadores que realizaram o estudo, os grupos que chegaram a América em torno de 15 mil anos atrás, vindos do Nordeste Asiático, estavam acompanhados por seus cachorros. Isso sugeriria que a domesticação desses animais provavelmente ocorreu na Sibéria há mais de 23 mil anos. Após esse evento, esses povos se deslocaram tanto para o Oeste, até atingirem a Eurásia, como para o Leste, chegando ao atual Alasca. O artigo relatando o estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
As Américas foram umas das últimas regiões no mundo a serem colonizadas pelo ser humano. Mais ou menos na mesma época, ocorreu a domesticação dos cães, a partir de seus ancestrais lobos. Provavelmente, os cães desempenharam diversos papéis junto às sociedades humanas.
A pesquisadora chefe do projeto, Angela Perri, do Departamento de Arqueologia na Universidade de Duham, diz que parte do caráter inovador do trabalho está em tentar entender como a domesticação se deu e por que ela teve lugar, aspectos em geral pouco abordados pelos estudiosos do tema. “O fato de que a domesticação do cão teria ocorrido na Sibéria responde muitas antigas perguntas sobre as origens do relacionamento entre humanos e cães”, disse ela numa declaração.
Coautor do artigo, Greger Larson, pesquisador da Universidade de Oxford, diz que pesquisas anteriores sugeriram muitas outras regiões, desde a Europa até a China, como o local onde teria ocorrido a domesticação do cão. “A combinação de evidências obtidas de pessoas e de cães está ajudando a refinar nosso entendimento, e agora aponta para a Sibéria, e para o Nordeste da Ásia, como uma região provável onde a domesticação de cães teve início”, diz ele.
Durante o período conhecido como Último Máximo Glacial, que durou entre 23 mil e 19 mil anos atrás, a chamada Beringia, que compreende a porção de terra e mar que separa o Canada e a Rússia, era extremamente fria, seca e livre de gelo, assim como boa parte da Sibéria. É possível que as difíceis condições climáticas que marcaram o período tenham levado humanos e lobos a uma maior aproximação, uma vez que buscavam as mesmas presas. Os lobos poderiam ter sido atraídos para os acampamentos, a fim de se alimentarem dos restos das carcaças de animais mortos pelos humanos. Isso teria gerado as condições iniciais para um relacionamento que eventualmente conduziu à domesticação dos cães. Posteriormente, eles podem ter desempenhado um papel importante apoiando os primeiros povoadores das Américas.
O arqueólogo David Meltzer, também coautor, afirma que os primeiros americanos devem ter possuído habilidades de caça muito boas, além de conhecimento geológico para identificar os locais onde se poderia encontrar rochas e outros materiais necessários para a confecção de armas e ferramentas. “Os cães que os acompanhavam, à medida que entravam nesse mundo completamente novo, podem ter sido parte de seu repertório cultural assim como as ferramentas de pedra que eles carregavam”, diz Meltzer.
Publicado em 10/02/2021