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Por que o Homo sapiens é a única espécie humana que prevaleceu?

Estudos mostram que a sobrevivência de nossa espécie não se deve apenas a sua “superioridade” e inteligência, mas também a fatores climáticos e a miscigenação com outros hominídeos.
Parente do Homo sapiens.

Representação do Homo habilis, um dos hominídeos hoje extintos, parentes do Homo sapiens. Imagem de capa da edição especial Evolução. Crédito: P.playlli/e.daynes/Science Photo Library/Fotoarena.

Por que o humano moderno, ou Homo sapiens, foi o único hominídeo que sobreviveu até os dias de hoje? Nossos parentes, como os neandertais, denisovanos, Homo heidelbergensis e os Homo naledi, com cérebros grandes e pequenos, foram todos se extinguindo, até deixar nossa espécie sozinha no gênero Homo há cerca de 40 mil anos.

Apesar de parecer estranho pensar que nossos ancestrais conviveram com outras espécies humanas, segundo o artigo “Por que só o Homo sapiens perdurou até a era moderna?”, de Kate Wong, publicado na edição especial Evolução da Scientific American Brasil, a questão está sendo estudada pela paleoarqueologia há décadas, em diversos modelos explicativos intimamente relacionados com nossa jornada evolutiva.

Os mais tradicionais desses modelos são o da Origem Recente Africana e o da Evolução Multirregional. O primeiro – e historicamente mais aceito dos dois – postula que o humano moderno surgiu em uma pequena região no leste ou sul da África, há cerca de 200 mil anos. Em seguida, ele se espalhou pelo mundo, substituindo outros hominídeos arcaicos através de sua superioridade e inteligência inquestionáveis, sem qualquer tipo de troca cultural ou miscigenação. Já o segundo afirma que evoluímos a partir dos neandertais e outras populações em diversos locais do Velho Mundo. Isso teria ocorrido através da miscigenação e acasalamento, processo iniciado muito antes, há cerca de 2 milhões de anos.

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No início do século, as evidências pareciam favorecer a Origem Recente Africana. Pesquisas com DNA de pessoas vivas apontavam que nossa espécie não poderia ter surgido há mais de 200 mil anos. E o sequenciamento do DNA mitocondrial – proveniente das “usinas” de energia das células, com origens diferentes do DNA de seu núcleo – de fósseis neandertais era diferente do de humanos modernos, apoiando a noção de que não houve cruzamento entre as espécies.

Entretanto, durante os últimos 20 anos, o consenso científico caminha no outro sentido. Assim, evidências arqueológicas de ferramentas montadas a partir das lascas de pedras, uma atividade mais complexa do que usar a pedra lascada em si, e geralmente associada ao Homo sapiens, foram encontradas há 250 mil anos – bem antes da origem estipulada para espécie.

Além disso, o sequenciamento do DNA (nuclear) de neandertais e de outros hominídeos permitiu compará-lo com o material genético de pessoas vivas. Dessa forma, foram identificados diversos trechos em comum: 2% de DNA neandertal nos genomas de eurasianos e até 5% de DNA denisovano nos melanésios.

Até mesmo evidências arqueológicas apontam para explicações divergentes: fósseis encontrados no sítio Jebel Irhoud, Marrocos, foram datados com mais de 315 mil anos. Consequentemente, isso atrasaria a origem da espécie em 100 mil anos. Ainda não se sabe se são mesmo Homo sapiens; seu crânio é alongado, e não arredondado como é característico de nossa espécie.

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Mas, ainda assim, a descoberta reforça um novo modelo, chamado de Multirregionalismo Africano. Para essa teoria, nossa espécie teria surgido ao mesmo tempo em diversas regiões do continente, evoluindo aos poucos enquanto cruzava com outros hominídeos. Barreiras ecológicas – como o deserto do Saara – e físicas ajudaram a manter essas populações separadas, cada uma adaptando-se a seu nicho e desenvolvendo características próprias. Assim, eventualmente, quando as condições climáticas favoreciam, essas espécies se misturavam, moldando lentamente o H. sapiens que conhecemos hoje. 

Segundo Kate Wong, o humano moderno não trouxe nenhuma inovação genética que garantisse sua superioridade diante dos outros hominídeos. Até mesmo a característica mais definidora da nossa espécie, nosso cérebro mais inteligente, não parece ter surgido da maneira como hoje existe. 

Pelo contrário, evidências apontam que sobrevivemos não ao substituir os outros hominídeos ao adentrar em novos territórios, mas sim devido às circunstâncias e ao cruzamento constante com essas espécies. Dessa forma, a miscigenação permitiu que o H. sapiens adquirisse características adaptativas mais rápido do que se as evoluísse de forma independente, e nos ajudou a sobreviver enquanto outros hominídeos pereciam. 

Portanto, mais do que vencer a batalha contra nossos “primos” por nosso “destino genético” superior, nós nos apoiamos em seus genes e na sorte para sobreviver, destaca a autora.

Publicado em 04/03/2022. 

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