Década do Oceano

Plataforma de gelo do tamanho de Roma se desprende da Antártica

Ainda que este colapso em particular não seja de grande preocupação, eventos desse tipo estão se tornando mais comuns.

sexta do oceano

Plataforma de gelo.

Icebergs em mar aberto (imagem ilustrativa que não retrata a plataforma de gelo Conger). Crédito: Lurens/Pixabay

A plataforma de gelo Conger, no leste da Antártica, – um bloco flutuante do tamanho de Roma – se separou do continente em 15 de março de 2022. Desde o começo das observações de satélite nos anos 1970, a ponta da plataforma esteve se desintegrando em icebergs, em uma série do que glaciologistas chamam de “eventos de separação”.

A plataforma Conger já estava reduzida a uma faixa de 50 km de extensão e 20 km de largura, conectada em uma de suas pontas à vasta camada de gelo continental da Antártica e à Ilha Bowman na outra. Dois eventos de separação em 5 e 7 de março a reduziram ainda mais, desconectando-a da ilha e precipitando seu colapso final na semana seguinte. 

As maiores plataformas de gelo do mundo rodeiam a Antártica, estendendo sua camada de congelada no gélido Oceano Antártico. Plataformas menores podem ser avistadas no encontro entre o gelo continental e mar na Groenlândia, norte do Canadá e no Ártico russo. Ao limitar a quantidade de gelo terrestre que flui continente adentro, elas podem controlar a perda de gelo do interior da plataforma para o oceano. Quando uma plataforma como a Conger é perdida, o gelo terrestre acumulado atrás delas pode começar a fluir mais rapidamente conforme a força que o continha desaparece, resultando em mais despencamentos no oceano.

O que causou o colapso da plataforma de gelo?

Plataformas de gelo são comumente chamadas de “margens de segurança” da Antártica pois elas bloqueiam que o gelo da camada circundante flua continente adentro. Muito pouco da camada de gelo da Antártica derrete na superfície, onde a neve se acumula. Ao invés disso, a maior parte do continente perde gelo através de eventos de separação e derretimento ao longo da parte debaixo das plataformas flutuantes. 

A quebra de partes das plataformas é um processo natural: elas geralmente passam por ciclos de crescimento lento marcados por eventos de separação isolados. Mas, em décadas recentes, cientistas têm visto diversas plataformas de grandes proporções passando por uma desintegração total. 

Iceberg.

Imagem do satélite Sentinel-1A do iceberg C-38, de 17/03/2022. O iceberg se separou da plataforma de gelo Conger, no leste da Antártica. Crédito: U.S. National Ice Center 

Ao longo da Península Antártica – a porção de terra no formato de chicote que se estende do oeste da Antártica até a massa central do continente –, há vários exemplos: as plataformas Prince Gustav (de 1989 a 1995), Larsen A (1995), Larsen B (2002) e Wilkins (2008 a 2009). No leste da Antártica, onde Conger ficava, a Cook Ice Shelf foi praticamente destruída nos anos 1970. Juntos, essa série de colapsos sugere que algumas condições ambientais subjacentes, como temperaturas do oceano e da atmosfera, estão mudando. 

É muito cedo para dizer o que causou o colapso da plataforma Conger, mas parece improvável que ele tenha sido causado por derretimento na superfície – não há nenhuma indicação de poças. A sequência de eventos mais recente também antecedeu o recorde de  temperaturas atmosféricas registradas na Antártica, em 18 de março. 

O que o futuro nos reserva

Como glaciologistas, nós vemos o impacto do aquecimento global na Antártica no aumento da perda de gelo ao longo do tempo. E o que acontece na Antártica não fica na Antártica. 

As consequências do colapso da plataforma de gelo Conger provavelmente não serão significativas na escala global, pois a área de captação trazendo gelo para a antiga plataforma é pequena. E, devido ao seu formato, Conger muito provavelmente não era um limitador significativo para o fluxo de gelo continente adentro. 

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Mas o aquecimento global está aumentando a probabilidade de eventos como esse. E conforme mais e mais plataformas colapsam ao redor da Antártica, a perda de gelo aumentará, e com ela também subirá o nível global do oceano. O oeste da Antártica possui gelo suficiente para aumentar esse nível em vários metros e, se o leste da Antártica começar a perder quantidades significativas de gelo, o impacto no nível do oceano poderia ser medido em dezenas de metros. 

Nem tudo que acontece na natureza ocorre apenas por causa do aquecimento global. A Antártica perde massa através da liberação de icebergs e da variação das plataformas em um ciclo anual. Mas o que estamos vendo agora, com o colapso de Conger (e outras), é a continuação de uma tendência preocupante, na qual plataformas antárticas passam por colapsos de toda sua área uma depois da outra.

Hilmar Gudmundsson, Adrian Jenkins, Bertie Miles, The Conversation US

Este texto foi publicado com permissão do The Conversation, uma publicação digital dos EUA que acompanha pesquisas científicas – leia o original

Publicado originalmente no site da Scientific American dos EUA em 29/03/2022; aqui em 01/04/2022.

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