Pesquisadores temem que COVID-19 possa levar a um aumento de casos de mal de Parkinson
Um estudo publicado esta semana no Journal of Parkinson’s Disease examina a ligação potencial entre a contaminação por COVID-19 e o aumento do risco de mal de Parkinson. Já se sabe que o vírus SARS-CoV-2 é capaz de alcançar o cérebro. Os estudiosos querem compreender melhor quais são as chances de que ele possa danificar as células cerebrais e eventualmente causar neurodegeneração.
“Nós podemos aprender a partir das consequências neurológicas que seguiram da pandemia de Gripe Espanhola em 1918, quando o risco de desenvolver mal de Parkinson aumentou de duas a três vezes. Dado que a população do mundo foi atingida novamente por uma pandemia viral, é muito preocupante considerar o potencial aumento global de doenças neurológicas que podem seguir”, Kevin Barnham, do Instituto Florey de Neurociência e Saúde Mental, na Austrália.
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No estudo, os autores relatam que sintomas neurológicos em pessoas infectadas com o vírus variaram desde os mais graves, tais como hipóxia cerebral (falta de oxigênio), até os mais comuns como a perda de olfato.
“Nós descobrimos que a perda ou redução de olfato foi relatada por três de quatro pessoas infectadas com o vírus SARS-CoV-2 em média. Enquanto na superfície esse sintoma não preocupa muito, ele na verdade nos diz muito sobre o que está acontecendo por dentro e de que existe uma inflamação aguda no sistema olfatório, responsável pelo olfato”, explica o pesquisadora do Instituto Florey de Neurociência e Saúde Mental, Leah Beauchamp.
Os pesquisadores pensam que a perda do olfato apresenta uma nova maneira para detectar mais cedo o risco de alguém desenvolver o mal de Parkinson “Partindo-se do fato de que a perda do olfato se apresenta em cerca de 90% das pessoas nos estágios iniciais do mal de Parkinson, e uma década antes dos sintomas motores, nós acreditamos estar no caminho certo”, acrescenta Beauchamp.
Atualmente, diagnósticos clínicos do mal de Parkinson levam em conta a ocorrência de disfunção motora, mas as pesquisas mostram que a essa altura, já se perderam de 50% a 70% da dopamina nas células do cérebro. Nessa etapa, a janela para que se possam empregar terapias neuroprotetoras de forma eficiente já se fechou.
Os pesquisadores esperam estabelecer um novo protocolo de diagnóstico visando identificar as pessoas com risco de desenvolver Parkinson, ou que estão em estágios iniciais da doença, num estágio em que as terapias têm mais chance de prevenir disfunções motoras.
Além disso, a equipe desenvolveu duas terapias neuroprotetoras atualmente sob análise, e identificaram um grupo de sujeitos idealmente aptos para participar de estudos com os tratamentos. Através de sua pesquisa, eles conseguiram novas evidências de que pessoas com transtorno de comportamento ligados ao sono REM possuem uma predisposição maior para desenvolver o mal de Parkinson.
“Nós precisamos mudar a ideia geral de que o mal de Parkinson é uma doença da velhice. Como aprendemos, o coronavírus não discrimina — e nem o Parkinson”, disse Barnham.
Publicado em 23/09/2020