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Pesquisadores criam diretrizes éticas globais para estudos com DNA antigo humano

Cientistas das áreas da genética, arqueologia e antropologia, de várias universidades do mundo, entre elas a USP, publicaram juntos artigo na Nature, no qual discutem a necessidade de envolver e respeitar as comunidades locais durante a pesquisa de remanescentes humanos.
DNA antigo para estudo da ética.

Estudar o DNA de povos antigos têm um impacto direto nas relações entre pesquisadores e povos locais. Crédito Hulki Okan Tabak/Unsplash

Para trabalhar com DNA antigo de populações humanas, arqueólogos, antropólogos, curadores de museus e geneticistas devem seguir todas as regulamentações locais e se engajar e respeitar os interesses das comunidades onde foram coletados estes materiais. Essas são algumas das diretrizes éticas globais propostas por um grupo internacional de pesquisadores de diversas instituições, entre elas, a Universidade de São Paulo (USP), em artigo na Nature.

O grupo de mais de 60 pesquisadores das áreas da genética, arqueologia e antropologia, de 31 países, percebeu a necessidade de se criar diretrizes globais para a ética da pesquisa de DNA antigo. Com dados de sequenciamento de genoma crescendo a cada ano e mais de 6 mil indivíduos pesquisados, ainda não havia um debate ético específico sobre como conduzir esse tipo de pesquisa levando em conta as particularidades de cada local. Ao acessar esqueletos, múmias e outros remanescentes humanos, esse trabalho envolve política e ancestralidade dos povos locais.

Hoje, grande parte da literatura sobre o assunto se concentra nos Estados Unidos. No país, todos os remanescentes de indígenas americanos que são mantidos em instituições financiadas pelo governo estão submetidos à Lei de Proteção e Repatriação de Sepulturas de Nativos Americanos (NAGPRA). Dessa forma, a lei exige que as instituições consultem e busquem transferir os remanescentes de indivíduos antigos para grupos indígenas. “Apesar do modelo estadunidense ter ajudado a pensar em diretrizes para lidar com remanescentes humanos, ele nem sempre é aplicável ou até mesmo benéfico para a pesquisa em outros países,” explica a pesquisadora da USP Mercedes Okumura, co-autora do artigo.

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Ela comenta que as relações entre governos e comunidades locais são diferentes dependendo da região ou país. Isso faz com que os pesquisadores tenham que adotar abordagens específicas caso a caso. “No Brasil, por exemplo, materiais arqueológicos são bens da União. Ao mesmo tempo, não existe um mecanismo legal para que os grupos indígenas tenham voz no destino dessas coletas dos seus ancestrais. Dessa forma, isso prejudica o engajamento de tais comunidades”, explica Okumura.

As diretrizes éticas propostas pelo grupo podem ser aplicadas de maneira global, respeitando as particularidades dos diferentes contextos. A proposição de um maior diálogo com comunidades locais se soma à preocupação em minimizar os danos aos remanescentes humanos. Por isso, esses remanescentes devem ser acessados a partir de um plano de estudo detalhado.

O documento também orienta os pesquisadores a disponibilizarem os dados da pesquisa após sua publicação, para que se possa fazer um exame das descobertas científicas. “A ideia é incluir e ouvir outros grupos de pessoas potencialmente envolvidos na pesquisa de DNA antigo e que não são, necessariamente, cientistas”, destaca Okumura.

Fonte do texto: Agência Bori

Publicado em 20/10/2021.

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