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Pesquisa desvenda destino dos lobos que inspiraram animais de Game of Thrones

O temível lobo pré-histórico, que se alimentava de búfalos e se tornou um dos símbolos da Era do Gelo, não é aparentado aos lobos de hoje, mostra análise genética

Os lobos de Game of Thrones. Crédito: divulgação/HBO

Os chamados lobos pré-históricos, que se tornaram famosos mundialmente graças à série de TV Game of Thrones, eram muito comuns na América do Norte e na Ásia até cerca de 13 mil anos, quando se extinguiram. Agora, uma nova pesquisa está contrariando as ideias estabelecidas sobre a evolução destes animais, ao mostrar que eles eram apenas primos distantes dos lobos de hoje em dia. Os resultados foram  publicados na revista Nature

O extinto predador até agora tem sido chamado de Canis dirus, o que significa  “lobo temível”, pois acredita-se que era capaz de caçar animais de grande porte, como búfalos. Com os novos resultados, a equipe responsável pela pesquisa sugere que o mais correto é situá-los em outra parte da árvore evolutiva, pertencendo  a um gênero completamente diferente. Por isso, propõem um nome diferente:  Aenocyon dirus. Essa mudança já havia sido proposta pelo paleontólogo John Campbell Merriam, mais de 100 anos atrás. 

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Análises anteriores, baseadas na morfologia somente, levaram os cientistas a acreditar que lobos pré-históricos eram parentes muito próximos dos lobos cinzentos que podem ser vistos hoje em dia. Porém, o novo  estudo mostra que os lobos pré-históricos eram tão diferentes de outras espécies caninas, como os coiotes e os lobos cinzentos, que sequer  conseguiria procriar  com elas. 

A inovação da pesquisa conseguiu, pela primeira, vez obter uma  sequência completa de DNA antigo retirado de cinco subfósseis (isto é, material que não completou o processo de fossilização) de espécimes que viveram nos EUA há 50 mil anos.  A colaboração envolveu  49 pesquisadores entre noves países. Eles compararam  os genomas do Aenocyon dirus com os genomas de muitas espécies caninas similares a lobos. A análise revelou que os predadores da Era do Gelo tiveram uma história complexa. E embora  muitas espécies caninas aparentemente tenham se deslocado repetidamente entre a América do Norte e a Eurásia ao longo do tempo, os lobos pré-históricos evoluíram somente na América do Norte, ao longo de milhões de anos. 

Na América do Norte, os lobos pré-históricos conviveram com os  coiotes e os lobos cinzentos  por pelo menos 10 mil  anos. Porém, o novo estudo não encontrou qualquer evidência de cruzamento entre eles. Sabe-se que os lobos cinzentos conseguem cruzar com animais como cães, chacais e coiotes. Os pesquisadores estimaram que  o Aenocyon dirus se separou dos lobos cinzentos mais de cinco milhões de anos atrás. Além disso, eles sugerem que as diferenças evolucionárias profundas entre essas espécies significam que o lobo pré-histórico  teve dificuldade de se adaptar às profundas transformações ambientais que ocorriam  no final da Era do Gelo. 

A pesquisa foi liderada pela Universidade Durham no Reino Unido junto com cientistas da Universidade de Oxford, a Universidade Ludwig Maximillian na Alemanha, e da Universidade de Adelaide na Austrália, e da Universidade da Califórnia Los Angeles, nos Estados Unidos. 

“Lobos pré-históricos sempre foram uma representação icônica da última Era do Gelo, e agora um ícone da cultura pop graças a Game of Thrones”  diz num comunicado a autora principal, do estudo, Angela Perri, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Durham. “Mas o que sabemos sobre sua história evolucionária era limitado ao que se  pode ver a partir do tamanho e da forma de seus ossos e dentes.  Essa primeira análise do DNA ancestral dos lobos pré-históricos mostrou que a história  é  muito mais complicada do que se pensava. Eles eram  um braço evolutivo que se separou dos demais lobos  milhões de anos atrás, e sua linhagem se extinguiu.”

Apesar de as similaridade anatômicas entre os lobos cinzentos e os lobos pré-históricos sugerirem  que talvez esses animais pudessem ser parentes próximos, tal como acontece entre  humanos modernos e Neandertais, os resultados genéticos “mostram que essas duas espécies de lobos são primos bem distantes, como humanos e chimpanzés”, diz Kierem Mithcell, da Universidade de Adelaide, uma das coautoras do estudo.

Publicado em 04/02/2021

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