Pesquisa brasileira propõe nova explicação para surgimento de grupo de dinossauros
Uma nova pesquisa feita por paleontólogos brasileiros quer ajudar a solucionar um dos enigmas ligados à evolução dos dinossauros. O estudo, publicado na revista Biology Letters, propõe um redesenho da árvore evolutiva de forma a explicar como teria ocorrido o surgimento de um dos principais grupos desses animais.
Evolutivamente, os dinossauros dividem-se entre dois grupos principais: os Saurischia e os Ornithischia. Ambos se originaram no período Triássico, entre 252 e 201 milhões de anos atrás. origem dos saurísqueos já foi bastante explorada, pois já se conhecem muitos fósseis dos animais mais antigos pertencentes a este grupo. Já o surgimento dos ornitísquios — que inclui os dinossauros dotados de chifres e armaduras, como o Triceratops — desafia os estudiosos, devido à ausência de fósseis desse grupo que remontem ao período triássico. Na falta de fósseis para analisar, os estudiosos não sabem qual era a aparência dos primeiros animais integrantes deste grupo, nem como eles se originaram.
O trabalho dos pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria procura solucionar este enigma ao sugerir que os ornitísquios se originaram de um grupo de animais que hoje é classificado como uma espécie de parente próximo dos dinossauros.
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Estes animais hoje são chamados de silessaurídeos. “Nossa hipótese ajuda a entender a razão pela qual não tínhamos dinossauros ornitísquios no Triássico. Na verdade eles estavam ali, porém ficavam de fora da árvore evolutiva dos dinossauros. Eram tratados como parentes próximos, mas não como dinossauros verdadeiros”, diz Rodrigo Temp Müller, paleontólogo da UFSM e um dos autores do estudo.
Uma hipótese alternativa, surgida nos últimos anos, sugeriu que os silessaurídeos pudessem ser aparentados dos ornitísquios. Já a proposta dos brasileiros é que os ornitísquios teriam evoluído a partir dos silessaurídeos, acumulando as características típicas do grupo ao longo de milhões de anos.
Para chegarem a esta hipótese, os pesquisadores usaram tanto dados obtidos por análises em primeira mão de fósseis quanto informações levantadas por observações de fotografias e por estudos previamente publicados. No total, eles analisaram 277 características de fósseis de 62 espécies diferentes de animais. “Essa matriz de dados é o conjunto de muitos estudos que vêm sendo desenvolvidos ao longo dos últimos anos”. E, através de análises computacionais, foi possível chegar a essa hipótese alternativa, recuperando as árvores evolutivas mais prováveis”, diz Müller.
A pesquisa propõe outra novidade: o ancestral dos ornitísquios poderia ser um carnívoro. Apesar de todos os dinossauros desse grupo serem herbívoros, o ancestral do grupo parece ter sido um animal pequeno e com dentes adaptados a dieta carnívora. “Essa é uma constatação interessante porque já havíamos observado que os ancestrais dos outros grupos de dinossauro eram carnívoros. Agora temos essa nova evidência de que o ancestral dos ornitísquios também seria”, diz Müller. A dieta herbívora teria surgido em um segundo momento.
A nova hipótese poderá ser colocada à prova a medida que nosso fósseis forem descobertos. “Há muitos grupos de pesquisa ao redor do mundo trabalhando para elucidar a origem dos dinossauros”, pondera o paleontólogo.
Pedro Gabriel
Publicado em 31 de julho de 2020