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Pegadas de fósseis ajudam a desvendar os segredos dos crocodilos bípedes

Rastros antigos revelam uma criatura antes desconhecida que viveu durante a Era dos Dinossauros, mas suscitam novas perguntas

Reconstrução de um parente bípede do crocodilo do início do Cretáceo que deixou rastros na Formação Jinju na Coréia do Sul Créditos: Anthony Romillo Universidade de Queensland

Há mais de 113 milhões de anos, um réptil estranho vivia na região  que agora conhecemos como Coréia do Sul. Tal como muitos dinossauros, ele caminhava em  duas pernas, mas não era um deles. As pistas que deixou para trás mostram que ele era  um parente dos crocodilos de hoje. E os detalhes das  pegadas que deixou durante o Cretáceo resolvem um mistério — mas abrem outros. 

Pegadas assim  já foram encontradas antes, mas em rochas muito mais antigas. Durante o período Triássico (entre 252 milhões e 201 milhões de anos atrás) os parentes de crocodilos — parte de um grupo chamado de crocodilomorfos — eram os répteis dominantes no planeta, e incluíam animais que se assemelhavam a alguns dinossauros pela forma como andavam sobre  duas pernas. Eles se extinguiram  no fim desse período, mas as trilhas de pegadas  geologicamente mais recentes encontradas na Formação Jinju, na Coréia do Sul, representam um animal crocodilomorfo bípede que viveu muito depois do fim do Triássico.  

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O paleontólogo  Kyung Soo Kim, da Universidade Nacional Chinju de Educação, na Coreia do Sul, o especialista em pegadas de fósseis Martin Lockley, da Universidade do Colorado,  e seus colegas descrever o intrigante fóssil em uma pesquisa publicada na quinta-feira na revista Scientific Reports.  

Lockley chamada a Coreia do Sul de “um paraíso de rastros” para os paleontólogos por conta do grande número  de pegadas de fósseis encontradas no país. Em novembro do ano passado,  Kim foi até Lockely perguntar sua opinião sobre os rastros grandes do Cretáceo descobertos naquele local. As imagens pareciam similares àquelas atribuídas a pterossauros, que eram répteis voadores da Era dos Dinossauros também capazes de andar no chão. Mas Lockley pensou em  outra coisa. “Eu imediatamente vi que elas eram do tipo conhecido como Batrachopus”, ou uma forma de rastro atribuída a parentes de crocodilos do início do Jurássico (201 milhões à 145 milhões de anos atrás). Essas pegadas não apenas eram muito maiores do que qualquer outro rastro conhecido de Batrachopus, mas elas também indicam que os animais no local andavam em duas pernas — e viveram  por milhões de anos durante o período Cretáceo. 

Fotografias de rastros preservados do parente extinto de crocodilo Créditos: Kyung Soo Kim Universidade Nacional Chinju de Educação

A presença de crocodilos bípedes naquele sítio fóssil era inesperada. Mas a descoberta ajuda a abordar outro mistério  fóssil. Outro local da Coreia do Sul, conhecido como Gain-ri, também abriga restos que acreditava-se terem sido deixados por pterossauros grandes. Rastros encontrados em outros locais do mundo indicam que esses répteis voadores podiam dobrar suas asas e ficar com os quatro membros no chão quando não estava voando. Mas os pesquisadores achavam  que as pegadas em Gain-ri haviam sido feitas por pterossauros que se moviam em duas pernas para evitar arrastar suas asas na sua sujeira.   

Os novos fósseis mudaram a análise desses rastros – e abalaram as interpretações de pterossauros andando com duas pernas propostas para  outros locais. A especialista em pterossauros Liz Martin-Silverstone, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, que não estava envolvida no novo estudo, concorda que os supostos rastros de “pterossauro” em Jinju parecem muito mais pertencer a parentes de crocodilos do que a pterossauros. Na realidade, ela nota, “todas as pistas previamente creditadas à pterossauros bípedes acabaram sendo atribuídas a crocodilianos após um novo exame” — o que se encaixa com evidências dos esqueletos que indicam que esses animais alados  se movimentavam com os quatro membros quando estavam no chão. 

Tais casos de erros de identidade podem acontecer porque a maneira pela qual uma criatura cria pegadas enquanto se move  é algo muito mais complexo do que pode parecer inicialmente. “Os rastros produzidos podem mudar significativamente, dependendo de fatores como o que o animal estava fazendo na hora que o rastro foi feito, qual era o seu porte, onde o centro de gravidade estava e a natureza do substrato”, diz Martin-Silverstone. Essa situação significa que um animal pode, de vez em quando, deixar rastros que parecem ser de outro. 

Com a nova descoberta, paleontólogos agora sabem de, pelo menos, dois locais que parecem abrigar  as pegadas bípedes dos crocodilomorfos do Crustáceo – e não de pterossauros agindo de modo incomum.  “Essa nova evidência de pegada mostra que temos que repensar os crocodilos de antigamente e considerá-los como moradores ágeis da terra” diz Lockley. Os crocodilos geralmente são classificados como “fósseis vivos” que mudaram pouco desde sua origem no Triássico, mas evidências de rastros e de esqueletos mostraram que os crocodilos na Era dos Dinossauros eram animais ativos e variados, que geralmente eram muito diferentes dos predadores nadadores que nós estamos familiarizados hoje. Mas como é exatamente o que fez as amostras de Jinju?

Até agora, nenhum esqueleto de crocodilomorfos capaz de andar dessa forma  havia sido encontrado nas mesmas rochas onde estão os rastos descritos no novo estudo. Mas fósseis mais antigos podem dar uma ideia aos paleontólogos de que tipo de fósseis devem procurar. Durante o período Triássico, um parente bípede de crocodilo chamado Postosuchus caminhava pela América do Norte e era capaz de deixar rastros parecidos com os encontrados na Coreia do Sul. Então, ou um representante antigo desse grupo sobreviveu — ou crocodilomorfos evoluíram para andar sob duas pernas em uma segunda vez. Se os arquivos de fósseis forem gentis com os paleontólogos, eles podem, algum dia, conseguir combinar as pegadas com os ossos”.

  Riley Black

Publicado em 12/06/2020

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