Pandemia de COVID-19 gerou crescimento de antissemitismo em vários países
Não bastasse todas as vidas que ceifou e o impacto na economia global, a atual pandemia de COVID-19 ainda gerou um efeito colateral insuspeito: um recrudescimento do antissemitismo em vários países do mundo. É o que sugere um grupo de pesquisadores do Centro Kantor para o Estudo do Judaísmo Europeu Contemporâneo, da Universidade de Tel Aviv. Eles publicaram um relatório especial, compilando relatos colhidos em diferentes locais do planeta entre março e junho.
Segundo o relatório, os relatos dizem que os judeus, o movimento sionista ou o estado de Israel são os responsáveis pela pandemia, e/ou vão se beneficiar dela. Estas versões são propagadas em sua maioria por extremistas de direita e cristãos e muçulmanos ultra-conservadores, através de suas próprias mídias em várias línguas, em países da Europa, das Américas e do mundo Muçulmano. Esse novo tipo de antissemitismo, que parcialmente reitera temas do antissemitismo clássicos, inclui teorias da conspiração junto com difamações medievais, agora renovadas em um formato para o século 21. Por exemplo, um estudo da Universidade de Oxford revelou que 19,1% do público britânico acredita que os judeus causaram a pandemia.
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Os relatos são provenientes de uma rede internacional de voluntários, vivendo em 35 países, que são treinados para identificar e classificar atos de antissemitismo e acrescentar o material a Base de Dados do The Moshe Kantor sobre antissemitismo. A rede foi estabelecida pelo Centro Kantor por 30 anos e hoje contabiliza 60 participantes. A base de dados é uma coleção, em tempo real, de materiais e recursos sobre tendências e eventos relacionados a antissemitismo contemporâneo, que inclui pesquisas inglesas baseadas em fontes materiais em todas as línguas e formatos incluindo texto, visual e audiovisual.
Para Dina Porat, chefe do Centro Kantor, o antissemitismo gerado pelo coronavírus é mais feroz e mais intenso. Ao prosseguir incessantemente por vários meses, ele reflete um grande nível de ansiedade e medo em muitas populações. Mas é preciso ver a situação de forma mais ampla. “Outros também são acusados de espalhar o vírus: em primeiro lugar, os chineses, depois as antenas 5G e as autoridades que supostamente não estão fazendo o suficiente para conter a epidemia.”
Boa parte das mensagens antissemitas vem dos Estados Unidos e de países do Oriente Médio como o Irã, Turquia e a Autoridade Palestina, mas também da Europa e da América do Sul. Nos Estados Unidos, as acusações vêm principalmente dos supremacistas brancos e cristãos ultraconservadores, acusando os judeus em geral e particularmente os judeus ultraortodoxos. No Oriente Médio os alvos são Israel, o Sionismo e o Mossad, por terem criado e espalhado o vírus com a intenção de fazer fortunas vastas com medicamentos e a vacina que já estaria em desenvolvimento.
No mundo ocidental, os principais elementos que divulgam o discurso antissemita são grupos da sociedade civil com diversas ideologias, enquanto que no Oriente Médio, parte do discurso é colocado em prática pelos regimes em si.
Para Giovanni Quer, diretor do Centro Kantor, “a onda atual de antissemitismo é sem precedentes porque se espalha rapidamente pelas mídias sociais. Ela focou primeiro a crise da COVID-19 e depois avançou rapidamente por conta das mudanças políticas e sociais: apenas alguns dias se passaram entre a crise do coronavírus e a crise social relacionada ao racismo nos Estados Unidos, mas o discurso antissemita permaneceu feroz, com seus proponentes simplesmente adaptando as narrativas antissemitas aos contextos de mudança social”.
Publicado em 26/06/2020