Novo método para estimar idade de cães em comparação com envelhecimento humano é muito mais preciso do que multiplicação por sete
Todo dono de cães já ouviu falar que se multiplicar a idade do animal por sete irá descobrir a idade equivalente em “anos humanos”. Por exemplo, um cachorro de quatro anos de idade teria um grau de desenvolvimento, maturidade e desgaste orgânico semelhante ao de uma pessoa de 28 anos de idade. Um animal com 70 anos estaria em condições semelhantes à um humano de 70, e assim sucessivamente.
Mas um novo estudo derruba essa ideia popular. Os de pesquisadores da Universidade da Califórnia da Escola de Medicina de San Diego criaram uma maneira de comparar com mais precisão as idades de humanos e cachorros. O método se baseia na detecção de padrões de mudança em grupos metil no genoma de cachorros e humanos à medida que o tempo passa. Como as duas espécies não envelhecem na mesma taxa ao longo de suas vidas, o método termina por não oferecer uma comparação perfeitamente linear, como sugere a regra do 1:7.
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Publicada em 2 de julho na revista Cell Systems, a nova fórmula baseada na metilação é a primeira que é intercambiável entre espécies. Mais do que apenas um truque, os pesquisadores dizem que ela pode fornecer uma ferramenta útil para os veterinários, e para que sejam avaliadas supostas intervenções antienvelhecimento.
“Existem muitos produtos para a velhice disponíveis nos dias de hoje, com graus de embasamento científico muito diversos”, disse o autor sênior Trey Ideker, professor na Escola de Medicina da UC San Diego e no Centro de Câncer Moores. “Mas como saber se um produto realmente irá estender sua vida sem ter que esperar 40 anos ou mais? E se medíssemos seus padrões de metilação associados à idade antes, durante e após a intervenção para observar se está havendo algum efeito?” Ideker liderou o estudo junto com a autora principal Tina Wang, que foi estudante de pós-graduação no laboratório de Ideker na época.
A fórmula fornece um novo “relógio epigenético”, um método para determinar a idade de uma célula, tecido ou órgão baseado em uma leitura de sua epigenética — uma série de modificações químicas, tais como a metilação, que influenciam quais genes serão ativados e desativados, porém sem alterar a sequência genética propriamente dita.
As alterações epigenéticas fornecem aos cientistas pistas sobre a idade do genoma, disse Ideker, assim como rugas no rosto de uma pessoa fornecem dicas sobre sua idade.
Ideker e outros já haviam publicado anteriormente “relógios epigenéticos” para humanos. Mas eles são limitados, se mostrando precisos apenas para os indivíduos específicos a partir dos quais as fórmulas foram desenvolvidas. Esses métodos anteriores não têm valor para outras espécies, e talvez nem para outras pessoas.
Ideker conta que foi Wang quem trouxe a ideia primeiro para ele. “Nós sempre olhamos para os humanos, mas os humanos são um pouco chato”, ele disse. “Ela me convenceu de que deveríamos estudar o envelhecimento em cães numa perspectiva comparativa.” Para isso, Ideker e Wang colaboraram com a especialista em genética de cães Danika Bannasch, professora de saúde da população e reprodução na Escola de MEdicina Veterinária UC Davis, e Elaine Ostrander, chefe da Filial de Genética do Câncer e Genoma Comparativos no Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, parte do Instituto Nacional de Saúde. Bannasch forneceu amostras de sangue de 105 labradores. Como a primeira pesquisadora a sequenciar o genoma dos cães, Ostrander forneceu informações valiosas para a análise.
Dada a proximidade que existe entre cães e humanos, ambas as espécies estão sujeitas quase às mesmas exposições ambientais e químicas, e recebem quase o mesmo nível de cuidado de saúde. Também é importante entender melhor o processo de envelhecimento dos animais porque os veterinários frequentemente utilizam a razão de 1:7 anos para determinar a idade de um cachorro e utilizar tal informação para guiar decisões de diagnóstico e tratamento.
O estudo gerou um gráfico que pode ser utilizado para combinar as idades de seu cachorro com a idade humana em comparação. Os cães, especialmente quando são jovens, envelhecem mais rapidamente do que os seres humanos. Um cão de um ano de idade é similar a um humano de 30 anos. Um cão de quatro anos é similar a um humano de 52 anos de idade. Então, quando o animal atinge os sete anos de idade, o envelhecimento diminui.
Isso faz sentido. “Afinal, um cão de nove meses pode ter filhotes, então ja sabíamos que a razão de 1:7 não era uma medida precisa de idade”, disse Ideker. Ele diz que uma limitação do novo relógio epigenético é que foi desenvolvido utilizando uma única espécie de cachorro, e algumas espécies são conhecidas por viverem mais que outras. Mais pesquisa será necessária, mas, uma vez que o método têm se mostrado preciso para descrever humanos, ratos e labradores, ele prevê que se revelará eficaz para todas as espécies de cachorro.
A seguir, os pesquisadores planejam testar outras raças de cachorros, para determinar se o resultados se mantêm, utilizando amostras de saliva, e testar modelos de ratos para observar o que acontece com os marcadores epigenéticos quando se busca prolongar suas vidas recorrendo a diversas intervenções.
Publicado em 03/07/2020