Cometa recém-descoberto contém água de origem interestelar
Uma equipe de astrônomos descobriu sinais de água no cometa 2I/Borisov, que veio do espaço interestelar e que está voando em direção ao Sol. É a primeira vez que os cientistas veem no Sistema Solar água originada de outro lugar.
“Há água — isso é ótimo”, diz Olivier Hainaut, astrônomo do Observatório Europeu do Sul, em Garching, Alemanha. A descoberta não é surpreendente, ele diz, porque a maioria dos cometas contém muita água. Mas encontrá-la em um cometa interestelar é um passo importante para entender como a água pode viajar entre estrelas.
Uma equipe liderada por Adam McKay, astrônomo do Goddard Space Flight Center da Nasa em Greenbelt, Maryland, relatou a descoberta em 28 de outubro no servidor de pré-impressão arXiv.
Os astrônomos vêm estudando avidamente o cometa Borisov desde sua descoberta em 30 de agosto, porque a trajetória do cometa mostra que ele vem do espaço profundo — e não do Sistema Solar externo, como a maioria dos cometas. O Borisov se formou em torno de uma estrela distante e desconhecida. Há bilhões de anos, algo deve ter chutado-o de sua órbita e o enviado para cá. Ele é apenas o segundo objeto interestelar já descoberto, depois do Oumuamua em 2017.
McKay e seus colegas usaram um telescópio de 3,5 metros no Apache Point Observatory em Sunspot, Novo México, para examinar a luz solar refletida pelo Borisov. Em 11 de outubro, eles encontraram uma reveladora assinatura de oxigênio nos espectros de luz vindos do cometa. Embora os cometas possam produzir oxigênio de duas maneiras diferentes, os pesquisadores dizem que a explicação mais provável é que ele surja da quebra da água em hidrogênio e oxigênio.
Os cientistas compararam a quantidade de água no cometa com a quantidade de cianeto que ele contém, encontrado anteriormente por uma outra equipe de pesquisadores. A proporção de água para cianeto é parecida com aquela vista em cometas do Sistema Solar. Isso reforça a crescente ideia entre os cientistas de que Borisov não é tão diferente da maioria dos nossos cometas, apesar de vir de um sistema estelar diferente. “Todos os sinais até agora apontam para que ele não seja algo incomum”, diz Matthew Knight, astrônomo da Universidade de Maryland em College Park.
O Borisov passará pelo Sol no início de dezembro. À medida que se aproxima, o calor da estrela está aquecendo o cometa e fazendo com que seu núcleo congelado libere gás e poeira. Os astrônomos esperam ver mais sinais de água e outras moléculas saindo dela nas próximas semanas.
“O campo está mudando quase diariamente”, diz Hainaut. “É ciência em tempo real.”
Alexandra Witze
Publicado originalmente na revista Nature e reproduzido com permissão.