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Novas tecnologias fazem arqueólogos redescobrirem Jerusalém

Jerusalém é escavada há mais de 150 anos, mas a interferência da política e religião deixaram sua arqueologia defasada. Agora, a cidade é vista com outros olhos através da ciência de ponta.
Estrutura em Jerusalém.

Neste momento, uma dúzia de escavações podem esta em andamento em Jerusalém. Imagem ilustrativa. Crédito: 31774/Pixabay

A cidade de Jerusalém, sagrada para cristãos, muçulmanos e judeus, é alvo de constantes disputas territoriais, religiosas e políticas — algo que se estende para as escavações arqueológicas. A influência desses fatores criou vieses e dificultou estudos na cidade, deixando muitas descobertas para novas gerações de pesquisadores que começam a redescobrir a “Cidade Santa”.

Segundo Andrew Lawler, editor da Arqueology e autor do artigo de capa “A nova arqueologia de Jerusalém”, na edição de maio de 2022 da Scientific American Brasil , neste momento há provavelmente uma dúzia de escavações na em Jerusalém, constituindo-a como um dos locais mais pesquisados pela arqueologia do mundo. Mas, devido a vieses religiosos e políticos, grandes trechos de sua história de 5.000 anos foram deixados de lado — como períodos posteriores dos domínios persa, árabe e helenístico da cidade. Jerusalém é “uma rara encruzilhada onde religião, política e ciência se encontram — às vezes para cooperar e às vezes colidir”, explica Lawler.

Desde o início das escavações, na década de 1830, o foco foi no chamado milênio bíblico, entre a chegada dos israelitas em 1000 a.C. e a destruição romana em 70 d.C., que abrange grande parte dos acontecimentos do Antigo e Novo Testamentos. Assim, o objetivo das escavações era fundamentar interpretações literais do texto bíblico, correlacionando os acontecimentos e locais mencionados com as estruturas escavadas.

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Ao longo dos anos, essa escola, chamada de “arqueologia bíblica”, foi sendo substituída por profissionais mais seculares. Porém, estes ainda adotavam os textos sagrados como guias de campo em seus estudos. 

Isso os levava a ignorar possíveis locais promissores de escavações, além de utilizar técnicas consideradas defasadas no resto do mundo. A datação por radiocarbono, por exemplo, demorou a ser aceita nas escavações de Israel, sob a justificativa de que sua margem de erro poderia afirmar que qualquer objeto pertence a qualquer período, bagunçando os registros. 

De fato, uma análise posterior do arqueólogo Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv (Israel), indicou que muitas das datações de construções nos arredores de Jerusalém e na própria cidade estavam atrasadas em um século, desmanchando muitas das narrativas religiosas construídas ao seu redor. 

Arqueologia e geopolítica

Mesmo que as novas gerações de arqueólogos estivessem mais distantes dos vieses religiosos, Lawler argumenta que interesses políticos ainda influenciam em seus trabalhos. Descobrir estruturas que demonstram a presença de um povo há milênios na cidade justifica seu domínio geopolítico no presente. Escavar é redescobrir a história de um local — algo perigoso para as narrativas em voga de determinado momento. Além disso, muitos profissionais buscam constatar suas raízes nacionais em seus trabalhos — outro viés perigoso. 

Hoje, na área da cidade administrada por Israel, as permissões para trabalhos arqueológicos são concedidos pela Autoridade de Antiguidades do país, que raramente libera autorizações para estrangeiros — e nunca para palestinos — reforçando os vieses e prejudicando o intercâmbio de novas técnicas.

Enquanto a arqueologia em muitos outros locais deixou de focar em escavar artefatos e grandes estruturas ocultas para estudar práticas culturais dos habitantes do passado, seu cotidiano, seus hábitos alimentares e as doenças que os inflingiam, em Israel a caçada por grandes palácios permanece.

Mas as tendências estão mudando. Lawler cita diversos estudos recentes que apresentam novas abordagens, e dão grandes passos para entender como viviam os habitantes nos diversos períodos da história de Jerusalém. Com ciência de ponta e as mais novas técnicas arqueológicas, até estruturas desenterradas há séculos são ricos objetos de estudo. 

 

Leia o artigo completo de Lawler na edição de maio de 2022 (nº 230) da Scientific American Brasil, disponível para compra avulsa ou assinatura nas versões impressa ou digital. Confira na nossa loja!

Publicado em 04/05/2022.

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