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Milhões de aves estão migrando mais cedo por causa do aquecimento global

Dados de radares meteorológicos mostram que muitas espécies norte-americanas estão adiantando suas migrações de primavera em dois dias a cada década

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Qual é a diferença entre um bando de pássaros e uma tempestade?

Parece uma piada de tio — mas é uma pergunta séria para biólogos. Uma equipe de cientistas recentemente descobriu uma nova maneira de rastrear aves migratórias usando tecnologia climática.

E eles estão descobrindo que as mudanças climáticas podem estar afetando a movimentação de bilhões de pássaros todos os anos.

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Um estudo divulgado recentemente na revista Nature Climate Change sugere que o aumento da temperatura está fazendo com que as aves migrem um pouco mais cedo a cada primavera. A equipe descobriu que a jornada para casa está se adiantando em um pouco menos de dois dias a cada década.

Não parece muito. Mas o que chama a atenção nos resultados é que eles se aplicam a centenas de espécies migratórias em todo o país.

Em outras palavras, as mudanças climáticas estão causando uma mudança perceptível e gradual em um dos maiores fenômenos da natureza.

Os pesquisadores, liderados por Kyle Horton, da Universidade Estadual do Colorado, analisaram milhões de scans de radares coletados entre 1995 e 2018. Eles usaram um método de alta tecnologia para diferenciar aves migratórias e sistemas climáticos — um tipo especial de inteligência artificial conhecida como rede neural. As redes neurais dependem de conjuntos complexos de algoritmos e podem ser treinadas para reconhecer padrões em conjuntos de dados.

Nesse caso, os pesquisadores treinaram a rede neural para classificar padrões biológicos — isto é, bandos de pássaros — a partir de padrões de precipitação nas análises meteorológicas. Eles também examinaram dados climáticos de todo os EUA.

Os resultados revelaram que a migração de primavera está acontecendo mais cedo e parece ser impulsionada pelo aumento da temperatura. Os pesquisadores também observaram algumas mudanças na migração de outono, embora a relação com a temperatura fosse muito mais fraca.

Estudos anteriores já haviam sugerido que alguns tipos de aves podem estar alterando seus padrões de migração em resposta às mudanças climáticas. Mas o novo estudo analisa o problema usando uma escala muito maior. Os resultados refletem o comportamento de centenas de espécies, da costa leste a costa oeste do país.

Embora o aumento das temperaturas pareça  ser a força motriz geral, seus efeitos exatos no comportamento das aves podem variar de uma espécie para outra. Pensa-se que as migrações de aves sejam influenciadas por uma variedade de fatores, como o crescimento de novas plantas ou a disponibilidade de alimentos.

Esses relacionamentos são importantes para investigar o tema no contexto de uma mudança climática, sugerem os autores. Outros estudos sugerem que o aquecimento global também pode estar afetando o momento de florescimento da vegetação de primavera ou a abundância de insetos e outras fontes de alimentos — fatores que podem afetar fortemente a sobrevivência de aves migratórias.

Alguns cientistas temem que mudanças nos padrões de migração possam não estar necessariamente sincronizadas com essas outras consequências do aquecimento global e que, como resultado, algumas espécies de aves possam sofrer.

Enquanto isso, o momento da migração não é o único indicador de que o aquecimento global está afetando as aves migratórias. No início deste mês, um estudo de 52 espécies publicado na revista Ecology Letters descobriu que o corpo das aves está diminuindo ao longo do tempo enquanto a envergadura das asas está aumentando, aparentemente em resposta ao aumento da temperatura.

O tamanho menor pode permitir que os animais percam o calor do corpo mais rapidamente conforme o clima esquenta, sugerem os pesquisadores.

Chelsea Harvey

Publicado originalmente em E&E News e republicado com permissão.

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