Marina Week – Scientific American Brasil https://sciam.com.br Nastari Editores Thu, 03 Feb 2022 21:13:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.4.9 https://sciam.com.br/wp-content/uploads/2020/04/cropped-favicon-32x32.png Marina Week – Scientific American Brasil https://sciam.com.br 32 32 Ondas de calor oceânicas ameaçam ecossistemas costeiros https://sciam.com.br/ondas-de-calor-oceanicas-ameacam-ecossistemas-costeiros/ https://sciam.com.br/ondas-de-calor-oceanicas-ameacam-ecossistemas-costeiros/#respond Fri, 28 Jan 2022 17:21:02 +0000 https://sciam.com.br/?p=39961 Medições realizadas na Baía de Chesapeake, costa leste dos EUA, mostram um aumento na frequência e duração das ondas de calor marinhas e suas consequências para o ecossistema local.

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Ondas de calor.

Medições de temperatura do oceano são essenciais para detectar as ondas de calor marinhas. Na foto, Piero Mazzini e colega fazem medições em outro projeto. Crédito: Oregon State University

Medições de temperatura na Baía de Chesapeake, localizada na costa atlântica dos EUA, identificaram um aumento nas ondas de calor marinhas na região. Estes períodos de aquecimento acentuado são semelhantes às ondas de calor atmosféricas, mas se propagam pelas águas, ao invés do ar, e ameaçam os ecossistemas locais para além do aquecimento generalizado do oceano.

O estudo, publicado no periódico Frontiers in Marine Science, definiu ondas de “calor marinhas” de forma semelhante a outras pesquisas, como um período de cinco ou mais dias consecutivos em que a temperatura da água é mais quente que 90% das medições do mesmo local e na mesma data de anos anteriores. Este trabalho foi o primeiro a estudar as ondas de calor individualmente, diferenciando-as do aquecimento generalizado promovido pelas mudanças climáticas. 

Dessa forma, os pesquisadores utilizaram medições de seis locais fixos ao longo da Baía de Chesapeake, começando entre 26 e 35 anos atrás e se estendendo até o presente. A baía é o maior estuário dos EUA, com mais de 320 quilômetros de extensão e 11 mil quilômetros quadrados. Como outros estuários, ela compreende uma área de transição entre o desembocar de rios e o oceano aberto, geralmente com baixas profundidades — no caso, 6,4 metros, em média. Ela é um local de pesca, mas também habitat e local de reprodução de diversas espécies.

Ondas nem tão passageiras

Para analisar o impacto das ondas de calor marinhas nesse ecossistema, os pesquisadores estudaram os dados de temperatura considerando a sua frequência, intensidade, duração e o estresse cumulativo que esses eventos causam. Este último critério é uma medição que mede o estresse sob o ambiente marinho, considerando que sequências de aquecimento mais longas requerem mais energia para se dissiparem.  

Os resultados foram que a baía passou por uma média de duas ondas de calor marinhas de 11 dias a cada ano, entre 1986 e 2020. Sua intensidade variou entre 3 e 8°C acima do normal climático, indicando dias médios de estresse cumulativo de 72°C.

Ao considerar a distribuição desses eventos ao longo dos anos de medição, eles identificaram que a frequência máxima de ondas de calor estava acontecendo sempre em anos mais recentes. Ela passou de 4 a 6 em anos anteriores a 2010 para 6 a 8 nos últimos 10 anos — configurando um aumento de 1,4 ondas de calor a cada década e um aumento correspondente na sua intensidade. Além disso, os pesquisadores também destacam que anos sem nenhum desses eventos eram comuns até 2010, mas, a partir daí, só aconteceram em todo estuário uma vez, em 2014. 

“Se essa tendência continuar a baía passará por ondas de calor mensalmente dentro dos próximos 50 anos”, afirma Piero Mazzini, do Instituto de Ciência Marinha da Virgínia (EUA) e coautor do estudo. “E, ao final do século, atingirá um estado de onda de calor semi permanente, com temperaturas extremas presentes por mais de um ano e meio”.

Mapa ondas de calor.

Mapa mostrando os pontos em que as medições foram realizadas na Baía de Chesapeake e arredores (costa leste dos EUA). Crédito: Instituto de Ciência Marinha da Virgínia

As causas da maré de calor

O estudo também analisou as possíveis causas para o aumento da frequência das ondas de calor, considerando três hipóteses: entrada de água quente vinda dos rios, entrada de água quente vinda do oceano e aquecimento diretamente da atmosfera. 

A equipe realizou medições específicas (próximas à costa e ao oceano aberto) para tentar isolar esses fatores, buscando analisar qual deles teria um período de início e fim semelhante aos das ondas de calor marinhas observadas. 

Os resultados indicaram que não parecia haver um “ponto de entrada” do aquecimento: ele ocorria de forma aproximadamente síncrona ao longo do comprimento e largura da baía.  águas da baía também pareciam aquecer ao mesmo ritmo do oceano ao seu redor. Além disso, os pesquisadores concluíram que o aumento na frequência das ondas de calor estava diretamente relacionado com o aumento geral das temperaturas do estuário, medido em outros estudos. 

Segundo Mazzini, essas conclusões “demonstram uma conexão forte entre estes diferentes ambientes”. Portanto, a principal causa para as ondas de calor deve ser uma “força uniforme, de larga escala”. Baseando-se nos estudos do aquecimento generalizado da baía, ele afirma que “o candidato mais provável para causar as ondas de calor […] é a transferência de calor da atmosfera para superfície da água”.

Consequências do aquecimento

Além de apontar para os problemas causados pelo aquecimento global, essas conclusões são acompanhadas de consequências desastrosas para o ecossistema local. As ondas de calor agravam os efeitos da poluição, promovem crescimentos exagerados de algas, interferem na composição das espécies e aumentam o estresse ou até causam a morte de comunidades biológicas próximas ao substrato. 

Ao mesmo tempo, as ondas de calor também aumentam a frequência das chamadas “zonas mortas”, com baixos níveis de oxigênio. Elas causam estresse em espécies importantes para a pesca local, como o robalo, e podem ser devastadoras para seres vivos fixos, ou que se movem lentamente.

“O aumento futuro nas ondas de calor marinhas, como sugeriu nosso estudo, pode agravar a hipóxia na baía ao estratificar ainda mais a coluna d’água, aumentando o oxigênio necessário para vida marinha, e diminuindo a sua solubilidade”, explica Mazzini. Segundo ele, essas mudanças podem “colocar o ecossistema da Baía de Chesapeake em um caminho sem volta”.

Cassia Pianca, coautora do estudo e colega de Mazzini, afirma que o estudo pode ajudar em políticas de conservação. “As futuras decisões de gerenciamento devem focar não só no efeito de mudanças de temperatura de longo termo, mas também considerar esses eventos curtos e intensos, que podem ter impactos severos muito depois que acabam”.

Para tentar evitar um desastre ecológico, o Conselho Executivo da Baía de Chesapeake assinou uma nova diretiva buscando ação coletiva para conter as ameaças ligadas ao aquecimento global. Durante a reunião no início de janeiro, as ameaças ligadas a este estudo foram discutidas com ênfase.

Publicado em 28/12/2022.

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Quatro décadas após proibição da pesca, baleias voltam aos mares dos polos https://sciam.com.br/quatro-decadas-apos-proibicao-da-pesca-baleias-voltam-aos-mares-dos-polos/ https://sciam.com.br/quatro-decadas-apos-proibicao-da-pesca-baleias-voltam-aos-mares-dos-polos/#respond Mon, 04 Jan 2021 12:58:29 +0000 https://sciam.com.br/?p=36498 Populações de algumas espécies antes ameaçadas de extinção já estão apresentando crescimento expressivo. Porém, mudança climática é a nova ameaça aos gigantes dos mares

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Crédito: Envato Elements

A história trágica da atividade de pesca de baleias levou muitas espécies à beira da extinção, mesmo nas águas remotas dos polos Norte e Sul. Mais de 1,3 milhão de baleias foram mortas em apenas 70 anos ao redor da Antártica. A escala industrial desta atividade extrativista dizimou por completo muitas populações de grandes baleias no Oceano Antártico. Porém,  quase 40 anos após o fim da pesca comercial de baleias, finalmente estamos vendo sinais de que algumas das espécies mais visadas estão se recuperando.

Em um estudo recente, os cientistas relataram que as baleias azuis, antes apreciadas pelos baleeiros por seu tamanho gigantesco, estão aumentando em número nas águas ao redor da ilha subantártica da Geórgia do Sul, com 41 novos indivíduos catalogados nos últimos nove anos. Durante o pico da pesca, no início do século 20, cerca de 3 mil baleias eram mortas anualmente na região da Geórgia do Sul. As águas que cercam a ilha são ricas em krill, que é comido pelas baleias, e os cientistas acreditam que seu retorno anuncia uma “redescoberta” desses recursos  pelas novas gerações.

Sinais semelhantes de recuperação foram documentados para baleias jubarte ao redor do lado ocidental da península Antártica. No extremo norte, as baleias-francas-da-Groenlândia do Ártico ocidental parecem estar se aproximando dos números que existiam antes da pesca em larga escala, e  baleias das espécies fin e minke são agora vistas regularmente no Mar de Chukchi, perto do Alasca.

Com o fim da indústria baleeira, os mares polares estão entre os melhores lugares para que esses gigantes do oceano possam  restabelecer suas populações. Lá, seus habitats ainda são relativamente intocados e, no momento, abrigam  suprimentos de alimentos bastante estáveis. No  Ártico ainda ocorrem pesca feita por comunidades indígenas com objetivo de subsistência, mas essa atividade é  cuidadosamente administrada.

A suspensão da pesca comercial às baleias em 1984 evitou a extinção de grandes baleias nas águas polares, mas não pode protegê-las das novas pressões que surgirão à medida que o aquecimento global remodelar essas regiões. Então, o que essas mudanças rápidas podem significar para o ainda frágil processo de recuperação  das espécies de baleias polares?

Nas próximas décadas, as baleias nos polos enfrentarão várias novas fontes de estresse, desde o aquecimento das águas, que afetará  seu suprimento de alimentos, até a poluição e a pesca comercial. Com menos gelo marinho e períodos mais longos sem gelo no verão, o acesso mais fácil aos oceanos Ártico e Meridional e a seus recursos está fazendo com que mitas empresas se sintam tentadas expandir suas atividades a estas águas remotas ou se estabelecer nelas. O tráfego de navios, principalmente no Ártico, está aumentando, e as baleias estão entre os seres  mais vulneráveis ​​ao aumento do ruído e à ameaça potencialmente letal de colisão.

Aprendemos como minimizar os impactos da atividade humana sobre as baleias em águas mais movimentadas fora do Ártico e da Antártica. Como parte de um projeto de pesquisa em andamento financiado pela Comissão Europeia, eu e meus colegas estamos tentando aplicar essas lições no Ártico, para ajudar a proteger as baleias da presença crescente de navios.

Sabemos que desacelerar os navios reduz a probabilidade de colisões fatais com baleias e tem o benefício adicional de reduzir a quantidade de ruído que os navios produzem. Assim como as restrições de velocidade que os gestores implementam  nos centros das cidades movimentadas para reduzir o risco de que carros atinjam pedestres, podemos criar áreas de desaceleração para navios em locais que sabemos serem usados ​​por baleias.

O desafio no Ártico é descobrir onde tais medidas serão mais eficazes, onde será seguro implementá-las  (o gelo já torna a navegação no Ártico perigosa) e como podemos garantir que tais medidas sejam adotadas mesmo quando não seja fácil a presença de fiscais.

Uma fonte de estresse que podemos monitorar e avaliar muito bem é a incidência de poluição sonora marinha, graças aos dispositivos de gravação subaquáticos chamados hidrofones. Navios grandes produzem ruído alto e de baixa frequência que pode viajar grandes distâncias debaixo d’água. As baleias dependem do som para ajudá-las a navegar em seus escuros habitats subaquáticos, mas o ruído das embarcações pode impedi-las de se comunicar e buscar por alimento  com eficácia. É um pouco como tentar conversar com seu amigo em um restaurante lotado.

Mas para as baleias, isso pode ser mais do que um simples aborrecimento; pode ser mortal. Um estudo descobriu que o ruído ambiente aumenta o risco de que mães jubarte e seus filhotes sejam separados. A pesquisa está em andamento no Ártico para identificar áreas onde o aumento do ruído dos navios possa estar afetando as baleias, e onde ações – como mover rotas de navegação para mais longe – podem ajudar.

Em muitos casos, o fascínio substituiu a ganância em nosso relacionamento com as baleias. Agora as vemos  como indicadores úteis da saúde do oceano, e também  como seres altamente inteligentes com culturas complexas, que temos a obrigação de proteger.

Ainda assim, ainda demorou mais de 40 anos para chegarmos onde estamos, e o fato de que muitas populações de baleias – incluindo belugas, baleias-da-Groenlândia e  algumas jubartes – ainda estejam lutando pela sobrevivência sugere que ainda temos um caminho a percorrer. Nem todas as espécies de baleias alvo da pesca no passado  parecem estar se recuperando, mesmo com medidas de proteção de longo prazo. Cachalotes, no hemisfério Sul, e baleias-cinzentas, no Ártico russo, são exemplos claros.

Como cientistas, ainda temos muito que aprender. Mas sabemos o suficiente para entender que uma visão perspicaz das necessidades e vulnerabilidades dessas belas criaturas é necessária para preservar um futuro para elas.

Lauren McWhinnie

Professora Assistente da Universidade Heriot-Watt

Este artigo foi reproduzido de The Conversation a partir de uma licença Creative Commons. Leia o original em inglês aqui.

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A COVID-19 piorou o problema da poluição do oceano pelo plástico https://sciam.com.br/a-covid-19-piorou-o-problema-da-poluicao-do-oceano-pelo-plastico/ https://sciam.com.br/a-covid-19-piorou-o-problema-da-poluicao-do-oceano-pelo-plastico/#respond Mon, 17 Aug 2020 22:12:25 +0000 https://sciam.com.br/?p=35156 O crescimento drástico no uso de máscaras e luvas, e uma queda nos programas de reciclagem, ameaçam a saúde dos mares.

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Plástico.

A extensão da poluição do oceano pode ser observada através do lixo plástico nas praias. Crédito: sergeitokmakov/Pixabay

A cada ano, oito milhões de toneladas de plásticos são despejadas no oceano. Isso equivale a um caminhão de lixo sendo jogado por minuto em nossos mares. O peso total equivale a 90 porta-aviões. Além disso, os modelos prevêem que até 2050 haverá mais plástico no oceano, medido pelo seu peso, do que peixes. 

Isso é uma tragédia por muitas razões. Baleias, peixes, aves marinhas, tartarugas e muitos outros animais estão comendo plástico e morrendo. Há muitos estudos atualmente explorando a relação entre problemas de saúde humana e o consumo de peixes que contêm microplásticos (garrafas e outros itens descartáveis que quebraram). Os ecossistemas oceânicos ao redor do mundo estão sendo atacados pelo lixo plástico. 

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Isso tudo, claro, antes da COVID-19. 

No início, parecia que a pandemia poderia melhorar as condições ambientais. Com o distanciamento social mantendo as pessoas longes das estradas e dos céus, a qualidade do ar parece ter melhorado drasticamente ao redor do mundo. A projeção é que as emissões de carbono terão uma queda de 4% em 2020, em comparação a 2019. Na China, a paralisação temporária das fábricas limpou o famoso smog que cobria os céus do país, e  as taxas de poluição caíram significativamente. Talvez um resultado ainda mais perene do coronavírus venham a ser as iniciativas para  conservação de vida selvagem na Ásia, graças a um maior monitoramento dos  mercados que vendem a carne de animais selvagens (de onde se suspeita que o vírus tenha passado  para os humanos). O Vietnã, o lugar que mais possui mercados deste tipo, recentemente baniu todas as importações de animais silvestres e fechou todos os seus mercados. As boas notícias, então, são realmente boas. 

Entretanto, o mesmo não pode ser dito sobre nossos oceanos, que foram atingidos gravemente nos últimos meses. Estima-se que a COVID-19 tenha causado um uso global de 129 bilhões de máscaras faciais e de 65 bilhões de luvas por mês. Se colocarmos juntas todas as máscaras já produzidas, a área coberta poderia ultrapassar a da Suíça. 

O problema prático com as luvas e máscaras jogadas em nossos rios e oceanos é que podem facilmente ser confundidas com a águas-viva, um alimento favorito das tartarugas marinhas. Devido aos componentes elásticos que as máscaras possuem, elas também apresentam um risco maior de ficarem enroscadas em diversas espécies de peixes, animais e aves. 

E isso só no casos dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Quando se trata do aumento rápido do uso de objetos de plástico de uso único causado pela COVID-19, a história fica ainda mais complicada. 

O mercado de petróleo colapsou, o que barateou o plástico mais do que nunca. A COVID-19, junto com as políticas da OPEP, contribuiu para a quebra global no mercado do petróleo. O petróleo e o gás natural (que já registravam um recorde de preço baixo antes da COVID-19) são as matérias brutas essenciais para a produção de plásticos. A diminuição de seu custo geral aumentou a disparidade de preço entre materiais alternativos (celulose, algas marinhas) e plástico virgem, que sempre foi a maneira mais barata de embalar produtos. Para uma empresa que busca ser financeiramente competitiva no mercado hoje, é extremamente vantajoso embalar seu produto em plástico recém-produzido. 

O uso de plástico descartável cresceu devido ao aumento dos serviços de entrega. Com a crise econômica, o consumidor médio está mais sensível ao preço, e prefere dar prioridade aos bens mais acessíveis ao invés daqueles que são mais amigáveis para o meio-ambiente. Uma vez que os produtos alimentares que vêm em embalagens de plástico são mais baratos, esses itens têm a preferência do consumidor. E como os serviços de entregas são a salvação para os restaurantes, isso também contribui para a utilização de plásticos descartáveis em todo o globo. A maior parte dos plásticos dessa categoria não é reciclável. Se 2020 mantiver esse ritmo, veremos 30% a mais de lixo do que em 2019. 

Os sistemas de reciclagem ao redor do mundo estão começando a parar suas atividades por conta de restrições orçamentárias devido a COVID-19. Então, para onde está indo esse excedente de plástico? 

No mundo Ocidental, a maioria acaba ou em aterros (na América do Norte) ou são incinerados (Europa), e uma pequena porcentagem — em média 10% — é reciclado. Os Estados Unidos possuem cerca de 9 mil unidades de reciclagem. A maioria delas é gerenciada pelos municípios, e ligadas a orçamentos locais. Conforme os Estados gastam seus recursos com políticas relacionadas a saúde e COVID-19, e com os custos do desemprego, alguns municípios estão suspendendo seus serviços de reciclagem. Peoria, em Illinois, já cortou seus programas de reciclagem. Omaha e Nova Orleans também estão considerando cortes em massa para guardar dinheiro também. Lexington, no estado norte-americano de Vancouver, também está considerando cortar seus gastos com reciclagem. 

Nos países em desenvolvimento, os plástico geralmente termina sendo manejados de forma incorreta em lixões à céu aberto, dali eventualmente vazando para o ambiente e chegando aos rios e oceanos. Devido a necessidade de combate ao coronavírus, a maioria dos fundos destinados à gestão do lixo em desenvolvimento foi realocada. Então, o que acontece nos Estados Unidos e na Europa ocorre em escala maior na Indonésia, Brasil, Índia, Quênia, Guatemala e Haiti. 

Nos países em desenvolvimento, quinze milhões de catadores de lixo coletam lixo plástico das ruas, de aterros a céu aberto e, em muitos casos, das praias. Em meses recentes, algumas comunidades de catadores de lixo foram forçadas a coletar o dobro de plástico para obter a mesma quantia em dinheiro. Em alguns casos, isso os desencorajou a trabalhar com plástico, pois outros materiais são mais valiosos. 

Até onde sabemos sobre as soluções para lidar com o plástico em oceanos, os catadores de lixo são peças fundamentais no sistema — a última linha de defesa entre o lixo plástico e mar. Dadas as atuais condições de mercado, muitos catadores não conseguem exercer esse importante papel.

Some-se o surto na infraestrutura de reciclagem no Ocidente e nos países em desenvolvimento com a explosão do uso de plásticos descartáveis devido a COVID-19 e obteremos uma onda gigante de plástico em nossos oceanos. 

Eu sou o fundador da SoulBuffalo, que formou a Ocean Plastics Leadership Network (OPLN), uma comunidade de 67 organizações (ativistas e indústrias) trabalhando juntos para inovar e atualizar as soluções para a crise do plástico no oceano. Nós estamos comprometidos a simplificar a comunicação relacionada a gravidade dessa crise (para que a população comum possa entender a complexidade) e acelerar as soluções para esse problema. WWF, Coca-Cola, P&G,Greenpeace, a Fundação Ellen MacArthur, Dow, a Ocean Conservancy e a National Geographic estão entre as dezenas de organizações que fazem parte deste projeto conosco. 

Agindo como um partido neutro em um mar de conflitos de pontos de vistas muito divergentes sobre como resolver essa crise, a SoulBuffalo acredita que a tensão é sinal de progresso. Estamos cercados de líderes brilhantes com perspectivas convincentes e as vezes conflituosas. 

Por exemplo, enquanto muitos de nossos parceiros de indústrias e de ONGs estão dedicados fielmente a reparar o sistema de reciclagem, o Greenpeace e muitas organizações ativistas acreditam que o sistema é fundamentalmente falho, e que deveríamos acabar com o uso de plásticos descartáveis o mais rápido possível. É esse embate de estratégias que torna nossa rede muito diferente, e também nos provê um perspectiva mais profunda para encontra as muitas soluções que podem ser concebidas. 

Redes transparentes de produção são o primeiro passo, e precisam acontecer rapidamente. Existe esperança e progresso, e algumas soluções essenciais e programas estão pavimentando o caminho para a mudança. Um projeto crítico liderado pelo World Wildlife Fund (WWF) tomou forma em junho. A iniciativa, chamada ReSource: Plastic, passou despercebido em uma agenda midiática que cobria amplamente o vírus, o movimento de justiça social e a eleição presidencial mais importante de nossa geração. Mesmo que não tenha obtido o impacto que merecia na mídia, a iniciativa é um grande passo.

Apesar de nossa neutralidade na Ocean Plastics Leadership Network, existem casos específicos em que nos posicionamos firmemente, apoiando movimentos em que acreditamos de todo o coração. A iniciativa ReSouce: Plastic é um desses casos. 

A WWF está encorajando as principais empresas do mundo a compartilharem publicamente seus dados sobre uso de plástico , incluindo o quanto de plástico estão produzindo e colocando no mercado atualmente, para onde ele se destina geograficamente e o que acreditam que aconteça com ele. Ele é reciclado, vai para aterro a céu aberto, é incinerado ou descartado incorretamente, acabando em lixões abertos ou no meio ambiente? A contabilização transparente do plástico que vai para o sistema é o primeiro passo, e nisso, a ReSource: Plastic possui um potencial catalizador. A engrenagem da abertura de dados começou a funcionar, com Coca-Cola, Starbucks, McDonald’s, Keurig Dr. Pepper e P&G liderando o caminho e desvelando suas operações.

De acordo com o primeiro relatório “Transparency 2020”, essas cinco empresas manejaram 4,2 milhões de toneladas de plástico coletados em 2018. Para fins de perspectiva, isso equivale a 287,279 baleias azuis adultas pesando quase 150,000 quilos. (Uma observação: existem apenas 25 mil baleias azuis na Terra, então 4.2 milhões de toneladas de lixo plástico equivale a 11,5 vezes o atual número de baleias vivas). E essa é apenas a pegada de plástico anual dessas cinco empresas. 

Esse compartilhamento de informações é um salto gigante. Se existem atos de coragem no mundo corporativo, essa iniciativa pode ser classificada entre eles, uma vez que há riscos claros implicados. Abrir a transparência da cadeia de produção irá empoderar organizações ativistas, como o Greenpeace membro da OPLN, para utilizar os dados para buscar mudanças que desejam, como a redução global no uso de plástico (algo com que que nenhuma das 500 empresas do ranking da revista Fortune se comprometeu publicamente ainda).

Dentre as descobertas da ReSource: Plastic com respeito as cinco empresas parceiras de lançamento, estão: 

  • 8% do total de plástico reportado foram reciclados
  • 63% do lixo nos Estados Unidos acabou em aterros sanitários
  • 41% do lixo usado na Europa foi incinerado
  • 74% do lixo no sudoeste da Ásia foi mal manejado. 

Com base na síntese dos dados, a WWF faz quatro recomendações a seus parceiros e para o mercado:

1 – Eliminar produtos desnecessários (pequenos itens não recicláveis como canudos)

2 – Priorizar o investimento na produção sustentável

3 – Trabalhar para dobrar a taxa de reciclagem global 

4 – Completar os vácuos graves de dados, ao pedir por transparência de mais empresas. 

No espírito das cinco empresas que estão trabalhando com a WWF (e as novas três que acabaram de assinar), nós pedimos a outras empresas que assumam a responsabilidade e façam jogadas radicais, sendo corajosas, abertas e transparente. O comprometimento das empresas em compartilhar essa informação vital é urgente e valioso. 

Para proteger os oceanos da Terra, o mundo inteiro precisa saber exatamente o quanto de plástico é produzido, reciclado, perdido, queimado ou enterrado. Quando tivermos os dados das primeiras 100 principais marcas, estaremos em uma posição muito melhor. Mas será somente a ponta do iceberg. 

Muitas organizações no mundo estão dizendo que 2030 tem que ser o ano em que a crise do plástico no oceano seja resolvida. E 2030 chegará logo. Principalmente com os contratempos da COVID-19, precisamos fazer tudo em nossas mãos para acelerarmos o surgimento de soluções para a crise do plástico. Muito desse plástico vai alcançar nossos oceanos. Precisamos pensar coletivamente de forma mais ampla, e mais rapidamente, pois o problema está crescendo exponencialmente e ganhando velocidade. 

Quando as cadeias globais de produção forem inteiramente transparentes, as decisões realizadas por governo, indústria e pelas ONGs serão mais inteligentes, mais táticas e, por fim, serão fundamentadas nos fatos e na ciência. As indústrias, os ativistas e os consumidores utilizarão esses dados de maneira diferente. Nós acreditamos que ter esses dados prontamente disponíveis permitirá aos acionistas enfiarem o pé na tábua. 

 Como podemos garantir que pelo menos 10 mil — não apenas 100 — empresas compartilhem seus dados operacionais nos próximos 10 anos? Se o mundo pude seguir esta mudança de mentalidade em direção a um senso de urgência, e realmente se dispor a agir com relação a essa questão, talvez consigamos salvar nossos oceanos até 2030. A escolha é nossa. 

Dave Ford

Dave Ford é fundador e sócio da SoulBuffalo. Ele é especialista em reunir líderes conservacionistas e das empresas em torno de questões ambientais. Ele liderou o Ocean Plastics Leadership Summit da SoulBuffalo em maio de 2019, que levou 165 líderes corporativos e de ONGs e resultou na criação da Ocean Plastics Leadership Network (OPLN)

Atualizado em 04/02/2022.

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Pela primeira vez, uma espécie de peixe marinho é declarada extinta https://sciam.com.br/pela-primeira-vez-uma-especie-de-peixe-marinho-e-declarada-extinta/ https://sciam.com.br/pela-primeira-vez-uma-especie-de-peixe-marinho-e-declarada-extinta/#respond Mon, 13 Jul 2020 20:52:22 +0000 http://sciam.uol.com.br/?p=34575 Pesca, poluição e mudanças climáticas afetam a região onde antes vivia uma espécie dos chamados peixes com mãos, que não é mais vista há quase um século

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Espécime de peixe pertence ao gênero dos chamados peixes com mãos. Crédito: De R. Kuiter – Miya et al. 2010. Evolutionary history of anglerfishes (Teleostei: Lophiiformes): a mitogenomic perspective. BMC Evolutionary Biology 10: 58. doi:10.1186/1471-2148-10-58., CC BY 2.0

Por muitos séculos, a humanidade enxergou nos oceanos uma vastidão tamanha que parecia simplesmente impossível causar a eles algum dano mais duradouro. Porém, sabemos agora que as atividades humanas podem destruir importantes habitats nos oceanos, poluir perigosamente a água do mar e deixar os ambientes marinhos mais ácidos. O excesso de exploração  rompe cadeias alimentares e empurrou diversas  espécies oceânicas para a categoria das criticamente ameaçadas, e levou alguns animais, incluindo a vaca-marinha-steller, à extinção total. No último mês de março, o peixe Sympterichthys unipennis, pertencente à família dos chamados “peixes com mãos”, tornou-se oficialmente o primeiro peixe marinho a ser declarado extinto em tempos modernos.  

Os “peixes com mãos” são uma família de 14 espécies inusitadas, relacionadas a uma ordem de peixes ósseos do fundo do mar. Diferentemente da maioria dos peixes, eles não possuem uma fase larval e não se movimentam muito quando adultos; esses traços os tornam sensíveis a mudanças no ambiente, de acordo com Graham Edgar, ecologista marinho da Universidade da Tasmânia. “Eles passam a maior parte do tempo à espreita nas plataformas continentais, eventualmente se deslocando alguns metros se forem incomodados”, diz Edgar. “Como não tem estado larval, não podem se dispersar para outras localizações e por isso  as populações de peixes com mãos são muito fáceis de localizar e vulneráveis a ameaças”. Em 1996, ele acrescenta, outra espécie, chamada de peixe com mão manchado, foi o primeiro peixe marinho a ser apontado como em  perigo crucial e relacionado na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). 

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Essa espécie de peixe com mão já foi comum o suficiente para ter sido ser uma das primeiras espécies de peixe descritos pelos exploradores europeus na Austrália. Agora, nenhum exemplar foi reportado em quase um século, apesar das muitas expedições que coletaram amostras nas regiões onde ele vivia (incluindo algumas conduzidas  por Edgar e seus colegas). O guia da Lista Vermelha define oficialmente “extinto” como significando que “não há qualquer  dúvida de que o último indivíduo morreu”. Edgar e os membros da Equipe Nacional de Recuperação dos peixes com mão da Austrália foram levados a essa conclusão no início deste ano, e a Lista Vermelha classificou a espécie na categoria de extintas. Os cientistas não têm certeza quanto ao que exatamente causou a extinção, mas outras espécies que vivem na região estão ameaçadas pela pesca, pela poluição e pelas alterações climáticas. 

 Edgar diz que outras espécies de peixes marinhos podem já ter se extinguido também, embora os cientistas ainda não possam afirmar categoricamente. Muitas outras estão em perigo constante. “Pode ser difícil imaginar por que um organismo pequeno, ocupando um nicho pequeno em um local que poucos humanos visitam possa ser importante,  mas, neste momento, é a enzima de um microorganismo extremófilo que está sendo utilizada em testes para diagnosticar a COVID-19”, diz Katie Matthews, cientista chefe do grupo sem fins lucrativos Oceana. “A biodiversidade é importante, mesmo se você não consegue vê-la com seus próprios olhos”. 

O ideal é que esta notícia sirva como grito de alerta.  “Algumas espécies remanescentes de peixes com mão estão em perigo”, diz Matthews, “mas, com ações inteligentes, nós podemos mitigar tais ameaças”. 

David Shiffman

Publicado em 13/07/2020          

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Nível do mar está subindo em ritmo mais rápido https://sciam.com.br/nivel-do-mar-esta-subindo-em-ritmo-mais-rapido/ https://sciam.com.br/nivel-do-mar-esta-subindo-em-ritmo-mais-rapido/#respond Tue, 01 Oct 2019 21:00:03 +0000 http://sciam.uol.com.br/?p=32146 Relatório da ONU mostra urgência de buscar medidas de mitigação e destaca influência de áreas polares

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Shutterstock

O fenômeno da elevação do nível do mar está se acelerando. A depender das políticas ambientais a serem adotadas globalmente nas próximas décadas, a elevação pode alcançar entre 29 cm e 1,10 m até o final deste século. Essa aceleração está sendo causada  pela elevação da temperatura, que é consequência da concentração de gases do efeito estufa. É o que concluiu o relatório divulgado na última semana pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), grupo da ONU que reúne pesquisadores de diversos países, detalhando os impactos nos oceanos causados pelas mudanças climáticas. 

O estudo foi divulgado dia 25/10, poucos dias após a Cúpula do Clima da ONU que reuniu países de todo o mundo para discutir o aquecimento global. A pesquisa faz parte de uma série de estudos conduzidos pelo IPCC sobre as mudanças climáticas em geral, que já destacaram, entre outros pontos: o aumento da temperatura do planeta; a influência da atividade humana nesse aumento devido às emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa; e as possíveis consequências para o futuro da humanidade.

A nova pesquisa mostra que os oceanos vêm aumentando de temperatura há décadas. Em boa parte, isso ocorre devido à absorção de calor por parte das águas — os oceanos absorveram mais de 90% do calor em excesso no sistema climático desde 1970, segundo o IPCC. Desde 1993, a taxa de aquecimento dos oceanos mais do que dobrou. Por conta desse aumento de temperatura, a perda de gelo na Groenlândia duplicou no período entre 2007 e 2016 em relação à década anterior, e triplicou na Antártida.

Mesmo no cenário mais positivo (onde a elevação do nível do mar se limitaria a cerca de 30 cm), as mudanças na temperatura da água e no nível do mar  trariam diversos efeitos como ameaças à biodiversidade marítima, mudanças no clima global e aumento da vulnerabilidade de ilhas e de áreas costeiras. 

Além do oceano, o relatório analisou também os impactos que estão ocorrendo sobre a chamada criosfera — termo usado para se referir coletivamente a todo o gelo e neve existentes na superfície terrestre, incluindo o gelo marinho, as camadas de neves e as geleiras das montanhas. Nessa esfera, o painel identificou que a soma das contribuições de geleiras e mantos de gelo é agora a fonte dominante para a elevação  do nível do mar. Outros fatores incluem o derretimento das geleiras não polares e a expansão térmica das camadas superficiais do oceano, devido ao aumento da temperatura.

“Esses processos já estão a caminho, e o que temos que fazer é nos adaptar e mitigá-los para que não se intensifiquem”, diz Jefferson Cardia Simões, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, um dos principais centros de estudo do tema no Brasil. Jefferson destaca a importância que o relatório dá para oceanos polares (Ártico e Austral): ambos estão aquecendo, mas o “aumento no Oceano Austral é muito maior e cada vez mais importante no aumento global do conteúdo de calor nos oceanos”.

No oceano Ártico, a extensão do gelo no oceano continua a diminuir, em ritmos “sem precedentes nos últimos mil anos”. Desde o início das observações de satélite, as menores extensões de mar congelado ártico ocorreram em 2012 e agora, em setembro de 2019.

Consequências

Os resultados dos efeitos da concentração de CO2  na atmosfera podem ser muito negativos para os oceanos, segundo o relatório. O aumento da acidificação dos mares, causado pelo maior sequestro de COpor parte das águas, ameaça a biodiversidade de organismos com conchas, por exemplo, devido ao aspecto corrosivo do ambiente. 

O aumento do nível do mar também pode fazer com que eventos extremos, como ciclones e chuvas tropicais intensas, aconteçam com maior frequência. Além disso, populações que vivem em ilhas, áreas costeiras e locais com alta taxa de degelo deverão ser especialmente afetadas.

Nas regiões de clima polar, já se observam impactos sobre a fauna e a flora. “Começam a aparecer espécies vegetais intrusivas nas ilhas ao norte da Península Antártica e no Ártico, onde o processo é mais forte”, explica Simões. “Basicamente, a tundra ártica está se expandido para o norte, e as espécies vão junto.”

Há também indícios de que mudanças no gelo de regiões polares possam afetar o clima de latitudes médias em escalas de tempo de semanas a meses. “No Hemisfério Norte, ocorre uma penetração de massas mais frias no interior do continente norte-americano, por exemplo”, diz Simões. Estudos para entender como essas mudanças afetam regiões temperadas e tropicais ainda estão sendo desenvolvidos.

Bruno Carbinatto

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Pesca intensa está acelerando evolução de peixes, aponta pesquisa https://sciam.com.br/pesca-intensa-esta-acelerando-evolucao-de-peixes-aponta-pesquisa/ https://sciam.com.br/pesca-intensa-esta-acelerando-evolucao-de-peixes-aponta-pesquisa/#respond Fri, 02 Aug 2019 20:47:28 +0000 http://sciam.uol.com.br/?p=31652 Análise genética mostra que práticas humanas estão selecionando e alterando características de populações de peixes

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Wikimedia Commons

Pela primeira vez, cientistas identificaram as mudanças genéticas que estão causando a rápida evolução dos peixes devido à pesca intensa — mudanças que até então eram invisíveis para os pesquisadores. O estudo foi publicado na revista Science.

Nas décadas recentes, muitos peixes comerciais têm crescido mais lentamente e amadurecido mais cedo, o que pode levar a menor rendimento e baixa resistência contra a superexploração. Por muito tempo, os cientistas suspeitavam que essa  rápida mudança evolucionária nos peixes era causada pela pressão da pesca intensa. 

“A maioria das pessoas pensa na evolução como um processo muito lento, que só ocorre ao longo de escalas milenares, mas a evolução pode, na verdade, acontecer muito rapidamente”, conta Nina Overgaard Therkildsen, principal autora e professora de genômica conservacionista da Universidade Cornell.  

Em estoques de peixes altamente explorados, a pesca quase sempre atinge os indivíduos maiores.

“Peixes que crescem mais lentamente são menores e conseguem escapar melhor das redes, e portanto tem chances maiores de passar seus genes para próximas gerações. Dessa forma, a pesca pode causar mudanças evolucionárias rápidas nas taxas de crescimento e em outras características”, explica Therkildsen. “Vemos muitas indicações desse efeito em populações de peixes selvagens, mas ninguém sabe exatamente quais são as mudanças genéticas por trás”.

Therkildsen e seus colegas trabalharam com um influente experimento publicado em 2002. Seis populações de Atheriniformes do Atlântico, um peixe que não cresce mais do que 15 centímetros de comprimento, foram submetidas a intensa pesca em laboratório. Em duas populações, os maiores indivíduos foram pescados; em outras duas populações, os menores indivíduos foram removidos; e nas duas últimas populações, a pesca foi aleatória em relação ao tamanho.

Depois de apenas quatro gerações, a pesca levou a uma evolução de uma diferença de quase o dobro no tamanho dos adultos entre os grupos. Therkildsen e sua equipe sequenciaram o genoma completo de quase 900 desses peixes para examinar as mudanças no DNA responsáveis por esses efeitos marcantes.

A equipe identificou centenas de genes diferentes em todo o genoma que mudaram consistentemente entre populações selecionadas para crescimento rápido e lento. Eles também observaram grandes blocos interligados de genes que mudaram em conjunto, alterando drasticamente as frequências de centenas de genes ao mesmo tempo.

Surpreendentemente, essas grandes mudanças só aconteceram em algumas das populações, de acordo com o novo artigo. Isso significa que havia várias soluções genômicas para os peixes neste experimento ficarem maiores ou menores.

Pesquisas como essa podem avaliar os impactos humanos e melhorar a compreensão da humanidade sobre “a velocidade, as consequências e a reversibilidade de adaptações complexas, à medida que continuamos a moldar as trajetórias evolutivas de espécies ao nosso redor”, diz Therkildsen.

Universidade Cornell

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Mais de mil tubarões e raias vivem enredados em resíduos plásticos, mostra estudo https://sciam.com.br/mais-de-mil-tubaroes-e-raias-vivem-emaranhados-em-residuos-plasticos-mostra-estudo/ https://sciam.com.br/mais-de-mil-tubaroes-e-raias-vivem-emaranhados-em-residuos-plasticos-mostra-estudo/#respond Fri, 05 Jul 2019 20:56:03 +0000 http://sciam.uol.com.br/?p=31419 Embora não represente uma ameaça tão grande como a pesca excessiva, a ação do plástico é uma fonte relevante de sofrimento animal

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Um tubarão-mako adulto no Oceano Pacífico preso em uma corda de pesca, que pode causar escoliose das costas. Foto: Daniel Cartamil

Centenas de tubarões e raias pelos oceanos do planeta estão enredados em resíduos plásticos, mostra uma nova pesquisa.

Cientistas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, vasculharam estudos já existentes e postagens em redes sociais, como o Twitter, em busca de relatos de animais presos a objetos feitos de plástico. Encontraram mais de mil casos de animais nessas condições. E esse número provavelmente é ainda maior, segundo os pesquisadores, já que poucos estudos focam no problema específico de tubarões e raias presos a objetos feitos de plástico.

A pesquisa diz que esse enredamento — que envolve principalmente equipamentos de pesca perdidos ou descartados — é uma “ameaça muito menor” para tubarões e raias do que a pesca comercial, mas o sofrimento que causa é uma preocupação relevante para o bem-estar animal.

“Um exemplo do estudo é um  tubarão-mako com uma corda de pesca amarrada bem apertado em volta de seu corpo”, conta Kristian Parton, do Centro de Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter. “O tubarão claramente continuou crescendo depois de ficar preso, então a corda — que estava coberta de cracas — cavou a pele e danificou sua espinha”.

“Embora não consideremos que o enredamento seja uma grande ameaça para o futuro dos tubarões e das raias, é importante entender a variedade de ameaças enfrentadas por essas espécies, que estão entre as mais ameaçadas dos oceanos”, explica o pesquisador. “Além disso, há um problema real de bem-estar animal, porque os enredamentos podem causar dor, sofrimento e até a morte.”

Brendan Godley, coautor do estudo e professor da mesma faculdade, complementa: “Devido às ameaças de pesca excessiva direta de tubarões e raias, e da ‘captura acidental’ (pesca não intencional durante a pesca de outras espécies), a questão do enredamento talvez tenha passado um pouco despercebida”.

“Estamos começando a mudar isso. Nosso estudo foi o primeiro a usar o Twitter para coletar dados, e os provenientes da mídia social revelaram complicações de espécies — e de lugares — não registradas anteriormente nos trabalhos acadêmicos”.

A revisão de artigos acadêmicos encontrou relatos de 557 tubarões e raias enredados em plástico, abrangendo 34 espécies em vários oceanos, incluindo o Atlântico, o Pacífico e o Índico. Quase 60% desses animais eram cações de menor porte e peixes conhecidos como “quimera”.

No Twitter, os pesquisadores encontraram 74 relatos de entrelaçamento envolvendo 559 tubarões e raias de 26 espécies, incluindo tubarões-baleia, tubarões-branco, tubarões-tigre e tubarões-frade.

Ambas as fontes de dados sugeriram que as ferramentas de pesca “fantasmas” (redes, linhas e outros equipamentos perdidos ou abandonados) são, de longe, os objetos de plástico mais comuns a se prender nos animais. Outros itens incluíam bandas de amarração usadas em embalagens, sacos de polietileno e pneus de borracha.

O estudo também identificou alguns fatores que parecem colocar certas espécies em maiores riscos.

O hábitaté um deles, já que tubarões e raias em mar aberto parecem mais propensos a ficar enredados, assim como aqueles que vivem no fundo do mar, onde materiais como redes carregadas de peixes mortos afundam e atraem predadores, que por sua vez ficam presos. Outro fator é a migração: espécies que cobrem longas distâncias correm maior risco de encontrar resíduos plásticos.

O formato do corpo também influencia — tubarões parecem estar em maior risco do que as raias. Espécies com características incomuns, como arraias manta, tubarões-frade e peixe-serra , também correm mais riscos.

O estudo evidencia que mais pesquisas são necessárias, e os pesquisadores colaboraram com a Shark Trust para criar um formulário de relatório on-line para coletar dados sobre esses casos.

Universidade de Exeter

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Ondas do mar estão ficando mais fortes devido ao aquecimento global https://sciam.com.br/ondas-do-mar-estao-ficando-mais-fortes-devido-ao-aquecimento-global/ https://sciam.com.br/ondas-do-mar-estao-ficando-mais-fortes-devido-ao-aquecimento-global/#respond Tue, 04 Jun 2019 20:56:16 +0000 http://sciam.uol.com.br/?p=31155 Áreas costeiras devem sofrer danos maiores nos próximos anos, sugerem previsões

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O aumento da energia em ondas, decorrente das mudanças climáticas, significa mais desafios e riscos para áreas costeiras. Imagem: IHCantabria

O aumento do nível do mar coloca as áreas de costa na linha de frente dos impactos das mudanças climáticas, mas uma nova pesquisa mostra que elas enfrentam outras ameaças também ligadas ao clima. Em um estudo publicado na revista Nature Communications no começo de janeiro, uma equipe de pesquisadores mostra que a energia das ondas oceânicas está crescendo em todo o mundo, e eles encontraram associações diretas entre esse aumento e o aquecimento dos oceanos.

Uma ampla gama de tendências e projeções de longo prazo carregam as impressões digitais da mudança climática, incluindo a elevação do nível do mar, o aumento das temperaturas globais e o declínio do gelo marinho. Análises do clima marinho global até agora identificaram aumentos nas velocidades do vento e nas alturas das ondas em áreas do oceano situadas nas latitudes mais altas em ambos os hemisférios. O crescimento foi maior nos casos de condições mais extremas (por exemplo, ondas geradas durante o inverno) do que para as condições amenas. No entanto, um sinal global de mudança, e a correlação entre os aumentos localizados nas alturas das ondas e o aquecimento global, eram elementos que até então não haviam sido detectados.

O novo estudo concentrou-se na energia contida nas ondas do oceano, que é transmitida do vento e transformada em movimento de ondas. Essa métrica, chamada de potência da onda, vem aumentando em associação direta com o aquecimento da superfície do oceano ao longo da história. O aquecimento do oceano, medido como uma tendência crescente nas temperaturas da superfície do mar, tem influenciado os padrões de vento em todo o mundo, e isso, por sua vez, está tornando as ondas do oceano mais fortes.

“Pela primeira vez, identificamos um sinal global do efeito do aquecimento global no comportamento das ondas. Na verdade, a energia das ondas aumentou globalmente 0,4% ao ano desde 1948, e esse aumento está correlacionado com o aumento das temperaturas na superfície do mar, tanto globalmente quanto por região do oceano”, disse o autor principal do estudo, Borja G. Reguero, que é pesquisador do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.

A mudança climática está modificando os oceanos de diferentes maneiras, incluindo mudanças na circulação da atmosfera oceânica e aquecimento da água, de acordo o coautor do estudo Inigo J. Losada, diretor de pesquisa do Instituto de Hidráulica Ambiental da Universidade de Cantábria (IHCantabria), onde o estudo foi desenvolvido.

“Esta pesquisa mostra que a energia das ondas globais pode ser um indicador potencialmente valioso do aquecimento global, semelhante à concentração de dióxido de carbono, à elevação do nível do mar global ou à temperatura atmosférica na superfície global”, conta Losada.

Entender como a energia das ondas do oceano responde ao aquecimento oceânico tem implicações importantes para as comunidades costeiras, incluindo a previsão de impactos na infraestrutura, nas cidades costeiras e nos pequenos estados insulares. Ondas oceânicas determinam onde as pessoas constroem infraestrutura, como portos, ou exigem proteção através de defesas costeiras, como quebra-mares e diques. De fato, a ação das ondas é um dos principais agentes da mudança e inundação costeira, e à medida que a energia das ondas aumenta, seus efeitos podem se tornar mais profundos. A elevação do nível do mar agravará ainda mais esses efeitos, permitindo que mais energia das ondas atinja o litoral.

Enquanto o estudo revela uma tendência de longo prazo de aumento da energia das ondas, os efeitos deste aumento são particularmente aparentes durante as temporadas de tempestades mais energéticas, como ocorreu no inverno de 2013-14 no Atlântico Norte, que impactou a costa oeste da Europa, ou a devastadora temporada de furacões de 2017 no Caribe, que ofereceu uma forte lembrança do poder destrutivo e dos impactos econômicos das tempestades costeiras.

Os efeitos da mudança climática serão particularmente visíveis na costa, onde humanos e oceanos se encontram, de acordo com Fernando J. Méndez, coautor do estudo e professor associado da Universidade de Cantabria. “Nossos resultados indicam que as análises de risco que negligenciam as mudanças no poder das ondas e tomam o nível do aumento do mar como o único fator podem subestimar as conseqüências da mudança climática e resultar em adaptação ruim ou insuficiente”, diz ele.

Universidade da Califórnia em Santa Cruz

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O oceano está ficando sem fôlego, alertam os cientistas https://sciam.com.br/o-oceano-esta-ficando-sem-folego-alertam-os-cientistas/ https://sciam.com.br/o-oceano-esta-ficando-sem-folego-alertam-os-cientistas/#respond Mon, 25 Feb 2019 00:00:00 +0000 http://sciam.local/o-oceano-esta-ficando-sem-folego-alertam-os-cientistas Declínio dos níveis de oxigênio pressiona espécies sensíveis - uma tendência que continuará com a mudança climática

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As atividades executadas por animais – incluindo aí o animal humano – tais como fugir de predadores, digerir os alimentos etc. exigem oxigênio. Mas vários novos estudos revelam que está cada vez mais difícil para a vida marinha obter esse ingrediente essencial.

Na última década, os níveis de oxigênio nos oceanos despencaram – uma tendência alarmante ligada à mudança climática, diz Andreas Oschlies, oceanógrafo do Centro Helmholtz de Pesquisas Oceanicas Kiel, na Alemanha, cuja equipe monitora os níveis de oxigênio nos oceanos em todo o mundo. “Ficamos surpresos com a intensidade das mudanças que vimos, a rapidez com que o oxigênio está baixando no oceano e o quão grandes são os efeitos nos ecossistemas marinhos”, diz ele.

Não é surpresa para os cientistas que oceanos aquecidos experimentem perda de oxigênio, mas a escala do declínio exige atenção urgente, diz Oschlies. Os níveis de oxigênio em algumas regiões tropicais caíram impressionantes 40% nos últimos 50 anos, revelam alguns estudos recentes. Os níveis caíram mais sutilmente em outros lugares, e a perda média global é de 2%.

Oschlies e outros pesquisadores do campo descobriram que os animais marinhos, grandes e pequenos, respondem até mesmo a pequenas alterações no oxigênio, buscando refúgio em zonas de oxigênio mais altas ou ajustando seu comportamento. Esses ajustes podem expor animais a novos predadores ou forçá-los a regiões com escassez de alimentos. A mudança climática já coloca sérios problemas para a vida marinha, como a acidificação dos oceanos, mas a desoxigenação é a questão mais urgente que os animais marinhos enfrentam atualmente, diz Oschlies. Afinal, diz ele, “todos precisam respirar.”

UM PROBLEMA DA CADEIA ALIMENTAR

Um oceano aquecido perde oxigênio por duas razões: primeiro, quanto mais quente um líquido se torna, menos gás ele pode conter. É por isso que as bebidas carbonatadas ficam sem gás mais rapidamente quando deixadas ao Sol, diz Oschlies. Em segundo lugar, quando o gelo polar do mar derrete, ele forma uma camada de água leve na superfície do mar sobre águas mais frias e salgadas. Este processo cria uma espécie de tampa que pode impedir que as correntes misturem as águas superficiais com aquelas situadas em camadas mais profundas. E como todo o oxigênio entra neste habitat a partir da superfície – seja diretamente da atmosfera ou do fitoplâncton que vive na superfície, produzindo-o durante a fotossíntese -, menos mistura significa menos oxigênio nas áreas profundas.

Os efeitos de oscilações sutis no oxigênio em locais onde o zooplâncton – animais na base da cadeia alimentar – se reúne em coluna de água foram documentados em um relatório de dezembro de 2018 da Science Advances. “Eles são muito sensíveis”, diz Karen Wishner, líder do estudo, oceanógrafa da Universidade de Rhode Island, mais até do que ela esperava. Algumas espécies nadam para águas mais frias e profundas com mais oxigênio. “Mas em algum momento não funciona para eles irem mais fundo”, diz ela, porque pode ser mais difícil encontrar comida ou se reproduzir em águas de baixa temperatura. Muitos predadores – incluindo peixes, lulas e baleias – ou comem zooplâncton ou comem peixes que comem zooplâncton, então as formas como o zooplâncton lidam terão ramificações na cadeia alimentar, observa ela.

Além das interrupções na rede alimentar, os animais enfrentam vários outros desafios fisiológicos à medida que seus corpos se ajustam para reduzir os níveis de oxigênio. Camarões chineses lançam suas caudas de forma menos vigorosa para economizar energia em ambientes de oxigênio mais baixos, tornando-se menos ágeis como resultado, informou um estudo sobre Fisiologia e Comportamento Marinho e de Água Doce no mês passado. Além disso, alguns peixes machos produzem menos e menos espermatozóides móveis à medida que os níveis de oxigênio diminuem – e a tendência parece não se recuperar nas gerações futuras quando os níveis de oxigênio melhoram, disseram pesquisadores na Nature Communications.

As funções sensoriais básicas, como ver e ouvir, também podem sofrer em um oceano com falta de oxigênio, diz Lillian McCormick, estudante de doutorado na Universidade da Califórnia, em San Diego. Seus resultados preliminares sugerem que mesmo pequenas quedas no oxigênio prejudicam a visão em alguns zooplânctons. (Isso também acontece em humanos, com evidências de pessoas viajando em altas altitudes experimentando visão noturna e cores reduzidas.) Muitas espécies de zooplâncton confiam em pistas visuais para migrar pela coluna d`água a cada manhã para evitar predadores, então a perda de visão pode impedir sua capacidade de captar essas dicas de luz, diz ela.

Algumas criaturas, como as medusas, são mais tolerantes a baixos níveis de oxigênio do que outras. Mas, todos os animais irão sentir o impacto da desoxigenação porque todos eles desenvolveram sua capacidade de oxigênio por uma razão, diz Brad Seibel, um oceanógrafo da Universidade do Sul da Flórida que trabalhou com Wishner no recente estudo sobre zooplâncton. “Qualquer queda no oxigênio vai prejudicar a capacidade de sobrevivência e o desempenho”, diz ele.

HABITATS ENCOLHENDO

À medida que as regiões ricas em oxigênio se tornam mais escassas, os atuais habitats de peixes também irão encolher e forçar espécies economicamente importantes – como o atum, que gera globalmente estimados US$ 42 bilhões por ano – a novas faixas. No nordeste do Atlântico tropical, os pesquisadores descobriram que o hábitat para o atum e a pesca do peixe-agulha diminuíram 15% entre 1960 e 2010 devido à perda de oxigênio.

As pescarias costeiras também podem enfrentar a pressão adicional das lavouras de algas que consomem o escoamento da agricultura e consomem oxigênio copioso à medida que decaem – como tem sido o caso no Golfo do México, perto da foz do rio Mississippi. Essas “zonas mortas” forçam alguns peixes a buscar áreas de oxigênio mais altas nas bordas de suas faixas típicas. Isso pode ajudar os pescadores a encontrá-los porque os peixes se reúnem nessas áreas condensadas, mas também fornece uma falsa sensação de abundância e não será sustentável a longo prazo, observa Seibel.

Para resolver o problema geral de desoxigenação, Oschlies ajudou a organizar uma conferência internacional sobre o assunto em Kiel em setembro passado. Os participantes elaboraram uma declaração improvisada chamada Declaração de Kiel sobre a desoxigenação oceânica para conscientizar os governos internacionais, as Nações Unidas e o público, bem como exigir ações imediatas. Eles querem que governos e grupos internacionais façam avanços mais sérios para diminuir a mudança climática e reduzir a poluição do escoamento da costa que agrava o declínio de oxigênio. Os pesquisadores modelaram a nova declaração após a Declaração de Mônaco, que a Oschlies acredita ter ajudado a aumentar a conscientização internacional sobre a acidificação dos oceanos em 2008.

“É realmente um alerta para o público e para as várias agências governamentais e internacionais sobre a importância desta questão”, diz Wishner, um dos mais de 300 cientistas de mais de 30 países que assinaram a declaração. Seibel, também signatário, não mede palavras sobre o assunto: “Eu acho que é potencialmente muito terrível.”

Laura Poppick

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