Faleceu Margaret Burbidge, pioneira no estudo do funcionamento interno das estrelas
Margaret Burbidge, astrônoma conhecida por suas contribuições vitais para o nosso entendimento do que acontece dentro de uma estrela e que trabalhou na instrumentação do telescópio espacial Hubble, faleceu aos 100 anos de idade.
A Universidade da Califórnia, em São Diego, onde Burbidge trabalhou de 1962 a 1988, anunciou seu falecimento na segunda (6 de abril) pelo Twitter, ressaltando que ela faleceu no domingo (5 de abril). Burbidge foi reconhecida principalmente por seu trabalho que ajudou a explicar como as estrelas produzem elementos cada vez mais pesados e os distribuem pelo Universo.
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Na década de 1950, já se aceitava a ideia de que os elementos químicos são sintetizados dentro das estrelas, mas o mecanismo pelo qual isso acontecia era desconhecido. Burbidge liderou uma equipe com quatro pessoas que publicou uma pesquisa com 100 páginas descrevendo os detalhes das reações que ocorriam nas estrelas, as observações astronômicas que suportavam tal ideia e uma hipotética cadeia de eventos que causariam as explosões estelares que dispersariam os elementos pelo espaço. Posteriormente, um colega ganhou um prêmio Nobel pela pesquisa da equipe nessas reações estelares.
“Foi o primeiro e ainda é o artigo mais importante que já foi escrito sobre o assunto… explicando como os elementos são feitos, e por que”, disse Mark Thiemens,químico da Universidade da Califórnia em São Diego num pronunciamento por ocasião da celebração do aniversário de 100 anos de Burbidge.
O trabalho levou alguns a apelidarem Burbidge de “Senhora Poeira Estelar” em reconhecimento a seu papel em explicar como as reações que ocorrem no interior das estrelas criam os elementos que estão à nossa volta.
Burbidge também pesquisou os quasares, ou grandiosos buracos negros que emanam jatos de alta velocidade, utilizando dados coletados pelo telescópio espacial Hubble. Ela encorajou a construção do Hubble, além de trabalhar no desenvolvimento do Espectrógrafo de Objetos Fracos, que passou sete anos ativo fazendo observações.
Como muitas outras mulheres astrônomas que fizeram pesquisas no século 20, Burbidge teve que superar obstáculos sistêmicos em seu trabalho. Em um dado momento, ela ganhou acesso a uma instalação de observação nova fingindo ser assistente de seu marido, que também era astrônomo e colaborou em sua pesquisa de química estelar.
Mais à frente em sua carreira, ela recusou um prêmio proeminente oferecido a mulheres na astronomia, escrevendo “já passou da hora de remover a discriminação contra ou a favor de mulheres em sua vida profissional”.
Nascida em 1919, Burbidge cresceu no Reino Unido, se apaixonou pelo céu noturno quando criança, e trabalhou no laboratório de química de seu pai.
De acordo com o astrofísico Andreea Font da Universidade John Moores de Liverpool, num texto que celebrou o centenário de Burbidge publicado no site The Conversation, quando Burbidge viu uma galáxia espiral pela primeira vez, ela escreveu: “Eu acha quase um pecado gostar tanto de astronomia, agora que é meu trabalho e minha fonte de subsistência”.
Megan Barthels, para space.com
Publicado em 09/04/2020