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Maconha causa prejuízos cognitivos persistentes, mostra estudo

Revisão sistemática englobando dados de mais de 43 mil indivíduos mostra que uso de maconha afeta memória, atenção e aprendizado verbal de forma persistente.
Maconha.

Uso de maconha pode deixar sequelas duradouras, indica novo meta-estudo. Crédito: lovingimages/Pixabay

Novo estudo indica que o uso da maconha causa prejuízos de memória, percepção, reação e controle, que permanecem mesmo após o período inicial de intoxicação aguda

O trabalho em questão, publicado no periódico Addiction, é uma revisão sistemática, um tipo de estudo de alto rigor que avalia a qualidade e os resultados de trabalhos anteriores, e busca tirar conclusões mais abrangentes e precisas. Foram consideradas 10 meta-análises que estudavam a performance cognitiva de usuários de maconha na população em geral, todas encontradas em plataformas de artigos acadêmicos. No total, elas correspondem a mais de 43 mil participantes

O estudo focou em prejuízos ao redor de alguns domínios das funções cognitivas: funções executivas, aprendizado e memória, atenção, velocidade de processamento, função motora perceptiva e uso da língua, entre outros. Os pesquisadores avaliaram não só os prejuízos agudos imediatamente após a intoxicação, mas também mediram os efeitos persistentes.

Assim, dentre esses domínios, o estudo identificou os maiores prejuízos e as evidências mais robustas em aprendizado verbal e memória, que persistiam consistentemente após o uso. Prejuízos de pequenos a moderados foram identificados em: funções motoras simples, tomada de decisões e memória de trabalho (envolvida na manipulação de informações durante tarefas). Quanto à flexibilidade cognitiva e velocidade de processamento de estímulos, a maconha gerou apenas pequenos prejuízos. Entretanto, quanto a linguagem, o estudo não revelou nenhum impacto significativo.  

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Em seu artigo, os pesquisadores ressaltam que os prejuízos são mais significativos para jovens e adolescentes, cujos cérebros ainda estão em etapas importantes de seu desenvolvimento. E, apesar de não ser o foco do estudo, eles destacam que diferenças na frequência de uso podem exacerbar ou mitigar os resultados.

De forma geral, os prejuízos cognitivos gerados no momento da intoxicação são semelhantes àqueles que foram identificados no estudo. Portanto, isso reforça a ideia de que eles permanecem após o uso. Ainda assim, o trabalho não apresenta uma conclusão definitiva se eles são ou não permanentes, sugerindo que longos períodos de abstinência podem diminuí-los ou eliminá-los por completo, na maioria dos casos. 

“Nosso estudo nos permitiu destacar diversas área da cognição prejudicadas pelo uso da maconha, incluindo problemas de concentração e dificuldades de memória e aprendizado, que podem gerar impactos consideráveis no dia a dia dos usuários”, afirma Alexandre Dumais. Ele é coautor do estudo e professor clínico associado na Universidade de Montreal (Canadá). “O uso da maconha por jovens pode, consequentemente, levar a uma menor retenção educacional, e, em adultos, a resultados ruins no trabalho e perigos ao dirigir. Essas consequências podem ser piores em usuários regulares e intensivos”.

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Nas suas conclusões, os pesquisadores destacam a importância de mais trabalhos como este, visando gerar um melhor entendimento do tema do ponto de vista da saúde pública — a maconha é a terceira substância psicoativa mais consumida do mundo, atrás apenas do álcool e da nicotina

O artigo sugere realizar um acompanhamento de usuários intensivos, e prestar atenção especial aos jovens e adolescentes, faixa etária na qual o uso é mais comum. Segundo o artigo, isso é especialmente relevante na atualidade, com a percepção sobre a maconha mudando, e muitos países — incluindo o Canadá, onde foi realizado o meta-estudo — caminhando em direção à legalização completa da substância

Publicado em 31/01/2022.

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