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Inteligência artificial revela centenas de milhões de árvores no Saara

Ao fazer em poucas horas trabalho que para humanos levaria anos, software desafia estereótipos sobre o maior deserto do mundo

Panorama de região árida no Oeste da África Créditos: Martin Brandt


Se você pensa que o Saara é coberto somente por dunas douradas e rochas chamuscadas, com certeza não está sozinho. Mas talvez seja hora de atualizar esta imagem. Ao analisar uma área no oeste da África com tamanho equivalente a 30 vezes o território  da Dinamarca, um equipe internacional contabilizou mais de 1,8 bilhões de árvores e arbustos. A área de 1,3 milhão de quilômetros quadrados cobre a porção mais ocidental  do Deserto de Saara, o Sahel e o que é conhecido como zonas sub-húmidas do Oeste da África. 

“Ficamos surpresos em ver que existe um bom número de  árvores no Deserto do Saara, uma vez que até agora a maioria das pessoas pensava que não existia quase nenhuma. Contamos  centenas de milhares de árvores, somente no deserto”, diz  Martin Brandt, do Departamento de Geociências da Universidade de Copenhague e autor principal do artigo científico do estudo,  publicado na revista Nature

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O trabalho foi alcançado através de uma combinação detalhada de imagens de satélites fornecida pela Nasa e de deep learning , um método avançado de inteligência artificial. Imagens comuns de satélite não conseguem enxergar  árvores individuais. A esta limitação somava-se o pouco interesse dos cientistas em contar árvores que não fazem partes de florestas, e o resultado era a ideia de a região quase não abrigava árvores. Essa foi a primeira vez em que se buscou contar o número de árvores existente em uma grande área seca. 

O papel das árvores no orçamento de carbono global 

Conhecer mais as árvores que vivem em áreas secas pode trazer novas luzes em diversas áreas de pesquisa. Por exemplo, estes resultados podem impactar nossos modelos sobre o carbono no planeta. “As árvores que estão fora de áreas florestais geralmente não estão incluídas em modelos climáticos. São um componente desconhecido no ciclo global de carbono”, diz  Brandt. 

A pesquisa foi conduzida em colaboração com o Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Copenhague, cujos  pesquisadores desenvolveram o algoritmo de deep learning que possibilitou que se fizesse a contagem das árvores em uma área tão grande. Os desenvolvedores usaram um banco de dados com milhares de exemplos de árvores para ensinar o algoritmo a reconhecer três formatos básicos. De posse dessas informações,  o software pode  automaticamente analisar milhares de imagens para mapear seus alvos e conseguiu fazer, em algumas horas, um trabalho que se fosse desempenhado por pessoas demoraria anos. 

O próximo passo é expandir a contagem para uma área muito maior na África. E, a longo prazo, o objetivo é criar um conjunto de dados global de todas as árvores que crescem fora de áreas florestais.   

 

Publicado em 21/10/2020

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