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Hubble supera defeito, volta a funcionar e já liberou novas imagens espetaculares

Telescópio espacial contrariou previsões pessimistas e já registrou uma galáxia com braços espirais incomuns e a interação entre duas outras.
Imagens captadas pelo Hubble de galáxias

À esquerda, imagem de interação entre par de galáxias. À direita, galáxia espiral dotada de três braços espirais, algo raro.  Crédito: NASA, ESA, STScI, Julianne Dalcanton (UW), Alyssa Pagan (STScI).

Após recuperar-se de uma anomalia em seus computadores que suspendeu observações por mais de um mês, os instrumentos científicos do Telescópio Espacial Hubble voltaram a operar por completo, dando continuidade a sua missão de explorar as regiões próximas e distantes do Universo.

A retomada das observações aconteceu na tarde de sábado, 17 de julho. Os alvos do telescópio no fim de semana passado incluíram algumas galáxias incomuns, que aparecem nas imagens acima.

“Estou emocionado em ver que o Hubble voltou a observar o Universo, novamente capturando as imagens que nos intrigam e inspiram há décadas”, disse o Administrador da Nasa, Bill Nelson. “Este é um momento para celebrar o sucesso de uma equipe verdadeiramente dedicada à missão. Por meio de seus esforços, o Hubble continuará seu 32º ano de descobertas e nós continuaremos a aprender com sua visão transformadora.”

As novas imagens, parte de um programa liderado por Julianne Dalcanton da Universidade de Washington em Seattle, apresentam uma galáxia com estranhos braços espirais estendidos, sendo o primeiro vislumbre em alta resolução da colisão de um intrigante par de galáxias. Outros alvos iniciais para o Hubble incluíram aglomerados globulares de estrelas e auroras em Júpiter.

Como o Hubble voltou a funcionar

O computador de carga útil do telescópio, que controla e coordena os instrumentos científicos de bordo do observatório, parou repentinamente em 13 de junho. Quando o computador principal não recebeu um sinal do computador de carga útil, ele automaticamente colocou os instrumentos científicos do Hubble em modo de segurança. Isso significava que o telescópio não retornaria a suas atividades até que especialistas analisassem a situação.

A equipe do Hubble foi rápida em investigar o que afetou o observatório. Trabalhando no Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa, bem como remotamente, devido às restrições do COVID-19, os engenheiros colaboraram para descobrir a causa do problema.

Como o Hubble foi lançado em 1990 e observa o universo há mais de 31 anos, o conserto exigiu à consulta a equipes que operaram o telescópio anteriormente.

Os veteranos do Hubble retornaram para oferecer apoio à equipe atual, compartilhando décadas de experiência em missões. A equipe que ajudou a construir o telescópio, por exemplo, conhecia os detalhes da unidade Instrumento Científico e de Comando e Manuseio de Dados, onde reside o computador de carga útil – algo essencial para determinar  as próximas etapas do processo de recuperação. Outros ex-membros vasculharam a papelada original do Hubble e encontraram documentos de 30 ou 40 anos atrás que ajudaram a equipe atual em seu planejamento.

“Esse é um dos benefícios de um programa que está em execução há mais de 30 anos: a incrível quantidade de experiências e especializações”, disse Nzinga Tull, gerente de resposta a anomalias de sistemas do Hubble. “Trabalhar com a equipe atual e com aqueles que passaram para outros projetos tem sido uma lição de humildade e uma inspiração. Há muita dedicação entre os colegas de equipe ao observatório e à ciência pela qual o Hubble é famoso.”

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Juntos, os membros novos e antigos  trabalharam na lista de possíveis causas, procurando isolar o problema para garantir que eles tivessem um inventário completo de quais hardwares ainda estão funcionando.

No início, pensaram que houvesse um erro no módulo de memória degradado, mas a mudança para módulos de backup não solucionou o problema. A equipe, então, projetou e executou testes, tais como ligar pela primeira vez, no espaço o computador reserva de carga útil, para determinar se dois outros componentes poderiam ser os  responsáveis pela falha. Um deles é o hardware de interface padrão, que conecta as comunicações entre o módulo de processamento central do computador e outros componentes, ou o próprio módulo de processamento central. Mas ligar o computador reserva não solucionou o problema, o que eliminou também essas possibilidades.

Em seguida, foi explorada a hipótese de que outro hardware apresentasse algum defeito, incluindo a unidade de comando/formatador de dados científicos e a unidade de controle de energia, que é projetada para garantir um fornecimento de tensão constante para o hardware do computador de carga útil. No entanto, isso é algo de ser feito e apresenta certos riscos para o telescópio em geral. Além disso, a troca para as unidades de reserva desses componentes exige que várias outras caixas de hardware também sejam trocadas.

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“Isso exigiu 15 horas de comandos transmitidos via solo. O computador principal precisou ser desligado e um computador de reserva em modo de segurança assumiu temporariamente o controle da espaçonave. Também foi necessário ligar várias caixas que nunca haviam sido ligadas antes no espaço , e outro hardware precisou ter suas interfaces trocadas “, disse Jim Jeletic, vice-gerente de projeto do Hubble no Centro de Voos Espaciais Goddard. “Não havia razão para acreditar que tudo isso não funcionaria. Mas é função da equipe se preocupar e pensar em tudo que pode dar errado e como podemos reparar isso. A equipe planejou e testou meticulosamente cada etapa para ter certeza de que tudo iria dar certo. ”

Nas duas semanas seguintes, mais de 50 pessoas trabalharam para revisar, atualizar e examinar os procedimentos de troca para o hardware de backup, testando-os em um simulador e realizando uma revisão formal do plano proposto.

Simultaneamente, a equipe analisou os dados de testes anteriores. Suas descobertas apontaram a Unidade de Controle de Energia como a possível causa do problema. Eles, então, fizeram a troca planejada para o backup da unidade de Instrumento Científico e de Comando e Manuseio de Dados, que contém a Unidade de Controle de Energia reserva.

Por volta de 00h30 (horário de Brasília) do dia 16 de julho, a equipe determinou que a troca foi bem-sucedida. Os instrumentos científicos foram colocados em estado operacional, e o Hubble começou a coletar dados novamente em 17 de julho. A maioria das observações perdidas enquanto as operações estavam suspensas serão reprogramadas.

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Esta não é a primeira vez que o Hubble depende do hardware de reserva. Em 2008, outra parte do Instrumento Científico e de Comando e Manuseio de Dados falhou. A missão de serviço final do Hubble em 2009 – um conserto muito necessário que foi defendido pela ex-senadora dos Estados Unidos Barbara Mikulski – substituiu toda a unidade, estendendo a vida operacional do Hubble. Desde então, o Hubble fez mais de 600 mil observações, que continuam a mudar nossa compreensão do universo.

“O Hubble está em boas mãos. Sua equipe mostrou mais uma vez sua resiliência e destreza em lidar com as anomalias inevitáveis ​​que surgem da operação do telescópio mais famoso do mundo”, disse Kenneth Sembach, diretor do Space Telescope Science Institute (STScI) em Baltimore, Maryland, que conduz as operações científicas do Hubble. “Estou impressionado com a dedicação da equipe ao longo do último mês. Agora que o Hubble está novamente fornecendo imagenssem precedentes do Universo, espero que ele continue a nos surpreender com muitas outras descobertas científicas. ”

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O Hubble contribuiu para algumas das descobertas mais significativas do nosso cosmos, incluindo a expansão acelerada do Universo, a evolução das galáxias ao longo do tempo e os primeiros estudos atmosféricos de planetas além do nosso sistema solar. Sua missão era passar pelo menos 15 anos sondando os confins mais distantes do cosmos, e ele continua a exceder às expectativas”.

“O quantidade recorde de informações científicas que o Hubble entregou é impressionante”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado do Diretório de Missão Científica da Nasa. “Temos muito a aprender com este próximo capítulo da vida do Hubble – por conta dele mesmo e com a colaboração de outros observatórios. Eu não poderia estar mais animado com o que a equipe do Hubble consquistou nas últimas semanas. Eles enfrentaram desafios deste processo, garantindo que os dias de exploração do Hubble estejam longe de acabar. ”

Claire Andreoli

Publicado em 22/07/2021

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