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Fósseis mostram que as cores dos ovos de pássaros tiveram origem nos dinossauros

Os matizes e padrões dos modernos ovos de pássaros remontam aos seus ancestrais dinossauros

As cascas de ovos dos pássaros modernos exibem uma variedade espetacular de tons, do amarelo manteiga ao vermelho sangue, do azul-bebê ao mais escuro ciano. Alguns são manchados ou salpicados; outros são lisos. Como e quando a surpreendente diversidade de cores e padrões de ovos evoluiu? Entre os modernos amniotes (o grupo que inclui aves, répteis e mamíferos), apenas os pássaros produzem ovos coloridos. Os outros grupos que produzem ovos os têm brancos ou claros. Portanto, a visão predominante é que a cor dos ovos é estritamente uma inovação ocorrida com as aves – mas novas descobertas indicam que, muito antes do ovo azul do pisco-de-peito-ruivo, havia o ovo azul do Deinonychus.

Em um artigo publicado nesta semana na revista Nature, pesquisadores relataram pigmentos encontrados em cascas de ovos fossilizadas de várias espécies de dinossauros. O trabalho indica que a variedade estonteante de cores e padrões nos modernos ovos das aves remonta a uma única origem evolucionária nos dinossauros não-aviários. (Tecnicamente, as aves são um subgrupo de dinossauros; daí a distinção entre aviários e não-aviários.) A descoberta se soma a um corpo crescente de evidências de pigmentos fósseis que estão revolucionando a ciência dos dinossauros.

A primeira cor de ovo pode ter se originado em um dinossauro não-aviário descoberto no ano passado, quando Jasmina Wiemann, estudante de doutorado na Universidade de Yale, e seus colegas anunciaram a descoberta do pigmento responsável pela coloração dos ovos verde-azulados em cascas de ovos fossilizadas de vários dinossauros Oviraptoridae na China. Os Oviraptoridae eram dinossauros relativamente pequenos, bípedes, com mãos que agarravam, bicos desdentados e penas.

A descoberta estabeleceu que pelo menos um grupo de dinossauros não-aviários tinha ovos coloridos, levantando a questão de saber se os pássaros herdaram a cor do ovo de seus ancestrais dinossauros não-aviários ou se a coloração evoluiu independentemente em aves e dinossauros não-aviários.

No novo estudo, Wiemann e seus colegas coletaram amostras das cascas de ovos de 19 espécies de aves, crocodilos e dinossauros não-aviários, e analisaram sua composição química usando uma técnica chamada espectroscopia Raman, que consegue identificar pigmentos. As cores dos ovos das aves modernas derivam de apenas dois pigmentos: biliverdina e protoporfirina IX. Os pesquisadores detectaram ambos os pigmentos nas amostras de casca do ovo fóssil. Mapeando os resultados para uma árvore genealógica, a equipe determinou a cor dos ovos surgindo apenas uma vez – dentro do grupo de dinossauros Eumaniraptora, que inclui oviraptoridae e alguns outros dinossauros não-aviários, bem como todos os pássaros modernos. Os Saurópodes (como o Apatossaurus e seus parentes) e ornitísquios (Triceratops e parentes) não parecem ter colocado ovos pigmentados. As poucas linhagens maniraptoranas que perderam a cor dos ovos não a recuperaram – presumivelmente porque os genes que dão origem à cor dos ovos são bastante complexos, observa Wiemann.

Os resultados do estudo oferecem informações sobre a questão de por que a cor do ovo evoluiu para começo de conversa. Os cientistas já propuseram várias hipóteses para explicar o fenômeno, argumentando que os pigmentos podem ter ajudado a camuflar os ovos em certos ambientes, fornecer proteção contra a radiação solar prejudicial e fortalecer a casca, entre outros benefícios. Os pigmentos de casca de fóssil encontrados por Wiemann e seus colegas são provenientes de dinossauros conhecidos por terem depositado seus ovos em ninhos acima do solo, em vez de enterrá-los como fizeram seus predecessores. Essa associação sugere que uma mudança no comportamento de nidificação foi um fator-chave para o surgimento da cor dos ovos, embora outros fatores também possam ter contribuído. Por exemplo, no caso dos oviraptoridae chineses – que acredita terem se aninhado perto de rios – a cor do ovo azul-verde pode muito bem tê-los ajudado a misturar-se com os materiais do ninho e a vegetação circundante, ocultando-os dos predadores.

Especialistas externos consideram as alegações da equipe de preservação de pigmentos dos ovos fósseis convincente. “Isso é bom”, diz Jakob Vinther, da Universidade de Bristol, na Inglaterra, uma autoridade em pigmentos antigos. Ele observa que a equipe demonstrou que a espectroscopia Raman pode diferenciar de forma confiável os pigmentos das proteínas, que podem ser bastante semelhantes.

As descobertas podem ter implicações intrigantes para entender o cuidado parental dos dinossauros. Na década de 1990, os paleontólogos que trabalhavam na Mongólia recuperaram um fóssil primorosamente preservado de um oviraptoridae posicionado no topo de um ninho de ovos. Aclamado como prova poderosa de que o comportamento das aves modernas se originou nos dinossauros não-aviários, o fóssil, que se presumia ser feminino, foi apelidado de “Big Mama”(Grande Mãe). Mas anos depois os pesquisadores examinaram vários fósseis de dinossauros adultos preservados com garras de ovos (incluindo oviraptoridae) e, compararam o volume do ovo e a estrutura óssea dos espécimes fósseis com os das aves modernas. Sua conclusão: os dinossauros encontrados eram provavelmente do sexo masculino. A nova evidência de cor do ovo “acrescenta a peça que faltava no quebra-cabeça”, diz Wiemann.

Nas aves modernas, como os piscos-de-peito-ruivo, a cor dos ovos azuis é frequentemente associada a níveis mais elevados de cuidados paternos. Acredita-se que a cor dos ovos é um sinal de qualidade dos cuidados da mãe por seus filhotes, o que faz com que o pai se esforce ao máximo para sustentar sua família. A revelação de que oviraptoridae e alguns outros maniraptoranos tinham ovos azuis, assim, apóia a alegação de cuidado paterno em aves originadas em dinossauros não-aviários. Isto é, a Big Mama pode ser mais apropriadamente chamada de Big Papa (Grande Pai).

“A descoberta de uma única origem de cor de casca de ovo em dinossauros e aves é um lembrete maravilhoso de que as aves modernas herdaram muitas características de seus ancestrais dinossauros”, diz Mary Stoddard, da Universidade de Princeton, que estuda a evolução dos ovos de aves e não participou do novo trabalho. Ela observa que, nos últimos anos, a percepção de que muitos dinossauros não-aviários possuíam penas coloridas transformou o pensamento dos cientistas sobre a biologia e o comportamento dos dinossauros. Este novo estudo, acrescenta ela, “provavelmente inspirará toda uma nova área de pesquisa sobre o comportamento de aninhamento e incubação de dinossauros”.

Kate Wong

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