Estudo ajuda a explicar origem do cinturão de asteroides
Os asteroides da classe dos condrito carbonáceos são ricos em água e aminoácidos, e existem em grande número na região do Sistema Solar interior. Imagina-se que, no passado, eles trouxeram esses elementos para a Terra, e contribuído assim para o surgimento da vida na Terra. Agora, um estudo publicado na revista Nature Communications Earth and Environment consegui estabelecer quando foi a primeira vez esses asteroides chegaram pela primeira vez ao Sistema Solar interno. Os resultados podem ajudar a entender por que a Terra se tornou habitável, enquanto outros planetas, como Marte, não.
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“Devido ao grande número de exoplanetas descobertos, existe um interesse especial para definir a história do Sistema Solar para deduzir se eventos podem ter ocorrido de forma similar ou não em outros sistemas”, diz John Tarduno, que é professor da Universidade de Rochester. “Este estudo é outro braço na pesquisa que busca outros planetas habitáveis.”
Resolvendo um paradoxo utilizando um meteorito no México
Alguns dos meteoritos que encontramos aqui na Terra são fragmentos de asteroides. Após se separarem de seus “corpos originais”, esses fragmentos conseguem atravessar a atmosfera e eventualmente atingem a superfície de um planeta ou alguma lua.
Estudar a magnetização dos meteoritos pode dar aos pesquisadores uma ideia melhor de quando os objetos se formaram e onde estavam no início da história do Sistema Solar. “Percebemos muitos anos atrás que poderíamos utilizar o magnetismo de meteoritos provenientes de asteroides para determinar a distância desses meteoritos em relação ao Sol quando seus minerais magnéticos se formarem”, diz Tarduno.
Para aprender mais sobre a origem de meteoritos e seus corpos originais, Tarduno e os pesquisadores estudaram dados magnéticos coletados do meteorito Allende, que caiu na Terra e pousou no México em 1969. O meteorito Allende é o maior meteorito condrito carbonáceo encontrado na Terra e contém minerais se que acredita serem os primeiros sólidos formados no Sistema Solar, incluindo cálcio e alumínio. É um dos meteoritos mais estudados, e foi considerado por décadas como o exemplo clássico de meteorito derivado de um asteroide primitivo.
Para determinar quando os objetos foram formados e onde estavam localizados, os pesquisadores primeiro tiveram de endereçar um paradoxo sobre os meteoritos que estava confundindo a comunidade científica: como os meteoritos se magnetizaram?
Recentemente, a controvérsia apareceu quando alguns pesquisadores propuseram que meteoritos condritos carbonáceos como o Allende foram magnetizados pela ação de um dínamo central, como a Terra. A Terra é conhecida como um corpo diferenciado porque sua crosta, seu manto e seu núcleo possuem diferentes composições e densidades. Logo no começo de suas existências, corpos planetários podem se aquecer tanto que uma espécie de derretimento geral acontece, e o material denso — ferro — se concentra no núcleo.
Novos experimentos feitos por pesquisador da Universidade Rochester, Tim O’Brien, o primeiro autor da pesquisa, descobriu que sinais magnéticos que foram anteriormente analisados por outros pesquisadores não provinham do núcleo na realidade. Ao invés disso, O’Brien descobriu que o magnetismo é uma propriedade dos minerais magnéticos incomuns do Allende.
Determinando o papel de Júpiter na migração de asteróides
Ao resolver esse paradoxo, O’Brien conseguiu identificar meteoritos que possuem outros minerais que podem registrar fielmente as magnetizações antigas do Sistema Solar. Utilizando simulações de computador, Tarduno e seus colegas mostraram que ventos solares atingiram corpos antigos do sistema solar e foi esse vento solar que magnetizou os corpos.
Utilizando essas simulações em cominação com outros dados, os pesquisadores determinaram que a população de asteroides pais dos quais surgiram os meteoritos condritos carbonáceos chegaram ao cinturão de Asteróides, vindos do Sistema Solar externo, cerca de 4,562 milhões de anos atrás, durante os primeiros cinco milhões de anos da história do Sistema Solar.
Tarduno diz que as análises e os modelos oferecem mais apoio para a chamada teoria Great Tack do movimento de Júpiter. Embora no passado os cientistas tenham pensado que planetas e outros corpos planetários se formaram da partir de gás poeira a distâncias espaçadas do Sol, hoje eles percebem que as forças gravitacionais associadas com planetas gigantes — como Júpiter e Saturno — podem direcionar tanto a formação como a migração de corpos planetários e asteroides. A teoria da Great Tack sugere que alguns asteroides se separaram devido às forças gravitacionais do planeta gigante Júpiter, cuja migração subsequente então misturou os dois grupos de asteroides.
“Essa movimentação inicial de asteroides condrito carbonáceos preparou o cenário para um posterior espalhamento pelo Sistema Solar de corpos ricos em água, que potencialmente teriam chegado à Terra. Isso pode ser um padrão comum na formação de sistemas de exoplanetas”.
Publicado em 18/12/2020