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Estamos na calmaria antes de uma nova tempestade de infecções e mortes por COVID-19

Em vários lugares, elas diminuíram agora. Mas, à medida que começar o fim do isolamento, será preciso preparação para uma possível ressurgência

Pessoas usando máscara no metrô de Xangai. Shutterstock

As mortes e as novas infecções por COVID-19 parecem estar diminuindo agora mas, conforme começarmos a sair de nossas casas em uma tentativa de voltar ao normal, precisaremos nos preparar para a volta da tempestade. 

Recentemente, a nação assistiu a Geórgia, meu estado natal, encerrar  sua política de isolamento em casa. Mas dependendo do rigor com que  as pessoas seguirão  as medidas de distanciamento social, o número total de mortes no estado, que chegou a 1.300 na primeira semana de março, poderia variar de 6 mil até 18 mil  até agosto, e no pico da pandemia o número de novas infecções por dia poderia variar de 40 mil  a 80 mil. O pico da demanda por leitos em hospitais pode estar entre 11 mil e 25mil; para leitos de UTI, entre 1,800 e 4 mil; e para ventiladores 900 e 1.900. Essas demandas provavelmente vão exceder a capacidade disponível para pacientes com COVID-19 no estado.

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Nossa pesquisa sugere que haverá escassez  em 14 regiões de coordenação hospitalar  na Geórgia, especialmente nos casos em que houve  baixa ou média adesão às medidas de distanciamento social após o relaxamento das políticas de isolamento. Em alguns cenários, mesmo se todos os recursos hospitalares disponíveis forem destinados apenas aos pacientes com COVID-19, durante o pico não haverá recursoss suficientes disponíveis  para a maioria das regiões. 

Em algumas regiões, a escassez mortal poderia  se estender por várias semanas. Isso só enfatiza a importância da cooperação com o distanciamento social voluntário após o fim das políticas de quarentena.

O modelo por trás dessas projeções

Essas projeções são frutos de um modelo baseado em agentes que desenvolvemos para prever o contágio de COVID-19 geograficamente (a nível de quarteirões) e conforme o tempo (o modelo de simulação nessa pesquisa segue uma estrutura similar ao modelo em dois de nossas pesquisas iniciais aqui e aqui na pandemia de influenza). Ao contrário de modelos de ajuste de curva, a simulação baseada em agentes nos permite modelar a progressão da doença (como a doença segue seu curso em um indivíduo, dependendo da idade) e comportamento (por exemplo, cooperação com as recomendações de distanciamento social) a nível do indivíduo. Ele captura o contágio da doença modelando as interações de pessoas com pessoas em casa, no local de trabalho, em escolas e comunidades, utilizando dados detalhados como o tamanho das casas, fluxo de trabalho e densidade demográfica. 

No modelo de simulação, nós testamos vários cenários de quarentenas obrigatórias e voluntárias junto com o fechamento de escolas por diferentes períodos e com a variação dos níveis de cooperação.Os resultados do modelo sugerem que durante os primeiros 180 dias da doença (começando a partir do meio de fevereiro), se não houvesse intervenção nenhuma, a porcentagem da população infectada poderia exceder 64%, e o pico teria acontecido próximo da metade de abril. O fechamento de escolas reduziu essa porcentagem para cerca de 55% e atrasou o pico em uma semana. Em outras palavras, apesar de seu impacto representativo na sociedade, o fechamento de escolas apenas não é o suficiente para conseguir um grande atraso no contágio de COVID-19. 

O que podemos fazer?

Mesmo com a esperança de candidatos  a medicamentos aparecendo no horizonte, até agora não dispomos de nada  para desacelerar ou parar a COVID-19 nenhum antiviral, nem vacina. Nossa defesa primária contra essa doença altamente infecciosa para o futuro próximo é o distanciamento social (incluindo o fechamento de escolas), políticas para ficar em casa, isolamento de pessoas com casos confirmados e quarentena voluntária.  

A maioria das escolas estão fechadas nos Estados Unidos pelo restante do ano acadêmico, e a maioria dos estados já emitiu políticas de isolamento em março ou abril com duração de quatro semanas ou mais. Essas intervenções diminuíram o avanço da COVID-19. Nos nossos modelos, descobrimos que o isolamento social contribuiu significativamente para reduzir a velocidade do contágio da doença e atrasar o pico. 

Isso foi bom, mas também temporário, e agora estamos em uma conjuntura crucial. 

Conforme os estados vão relaxando suas políticas de isolamento, se a coordenação com o distanciamento social não for seguida a risca, a COVID-19 vai se espalhar rapidamente. Pode ajudar se avaliamros para a eficácia de  cada medida de isolamento social, e o nosso modelo registrou potencial particularmente na quarentena voluntária. 

O quanto a quarentena voluntária pode ajudar?

Sob quarentena voluntária, todos os moradores do lar  devem permanecer em casa, caso haja alguém com sintomas de gripe ou resfriado mesmo na falta de testes ou da confirmação que é COVID-19 até que a casa inteira esteja livre de sintomas. Nossa pesquisa sugere que os níveis de cooperação possuem um impacto tremendo na porcentagem da população que acaba infectada e no número de novas infecções por dia no pico da COVID-19. Após o relaxamento de políticas de isolamento, as quais duraram quatro semanas na Geórgia, a porcentagem poderia variar de 28% a 46% até agosto, e o pico poderia ocorrer em algum momento entre junho e agosto, nos casos de alta e baixa cooperação com a quarentena voluntária, respectivamente. 

Alta cooperação com a quarentena voluntária atrasa o pico e reduz significativamente o número total de infecções e morte. Isso reduziria a tensão nos profissionais do sistema de saúde, leitos de hospitais, leitos de UTI, ventiladores e outros recursos. 

Entretanto, nós gostaríamos de alertar que essa intervenção, por si só, não é suficiente. Algumas casas podem ter indivíduos infectados com COVID-19 mesmo que todos os residentes sejam assintomáticos; uma quarentena voluntária não iria impactar tais casas e eles iriam infectar outras pessoas. 

Uma forma de avançar 

A COVID-19 ameaça quase todos os aspectos da vida humana como conhecemos, desde a saúde pública à cadeia de suprimentos da economia aos relacionamentos. A saúde e o bem-estar da população são de máxima importância, mas também há uma vontade crescente de relaxar o distanciamento social, de voltar ao normal, conforme se acumula a pressão econômica e social. 

Embora seja  altamente efetivo em reduzir a efetividade do contágio, o isolamento social pode ser disruptivo social e economicamente  se durar  por um longo período. Como alternativa, a quarentena voluntária apenas visa casas com indivíduos com sintomas. Logo, o número de pessoas em casa é, em qualquer momento, significativamente menor mesmo sob altos níveis de cooperação quando comparado com o isolamento social.

Ainda não há caminho fácil de volta à normalidade. Mas conforme nos movemos em direção a uma nova realidade, devemos seguir consistentemente o distanciamento social e também nunca esquecer que pessoas assintomáticas também podem infectar outros. Estados devem advogar em favor do isolamento social voluntário, da quarentena voluntária e outras medidas de isolamento social. Nossa paciência coletiva e nosso comprometimento em continuar o distanciamento social salvará vidas e nos ajudará a retornar a uma sociedade mais saudável e forte, que é a base para uma economia forte.

Pinar Keskinocak

Publicado em 13/05/2020  

  

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