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Enorme tempestade solar de “Sol jovem” revela o passado turbulento de nossa estrela

Astrônomos observam pela primeira vez uma tempestade solar de grandes proporções da estrela EK Draconis, indicando que nosso Sol também teria sido capaz disso no passado.
Tempestade solar.

Ilustração do Sol durante uma tempestade solar comum, lançando material de sua superfície ao espaço. Crédito Wikimedia Commons/Magnificent CME Erupts on the Sun – August 31

Uma tempestade solar de grandes proporções é observada pela primeira vez em uma estrela muito semelhante ao nosso Sol em sua juventude, chamada de EK Draconis e localizada a algumas dezenas de anos-luz da Terra. Essas tempestades — em que material da superfície é expelido da estrela — ocorrem constantemente no Sol, mas em proporções muito menores e mais inofensivas.

Também chamados de ejeções de massa coronal, eventos desse tipo fazem parte da rotina de uma estrela. Mudanças no seu campo magnético interno movimentam material, causando erupções na sua superfície: grandes arcos, picos de radiação e explosões muito maiores do que qualquer planeta. Dessa forma, se as erupções tiverem energia suficiente, pode ser que parte do material — íons, plasma superaquecido e outras partículas da coroa, a camada mais superficial de uma estrela — escapem da sua gravidade e sejam lançados a velocidades de milhões de quilômetros por hora no espaço ao redor. 

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As tempestades do Sol, mesmo não ameaçando a vida na Terra, ainda podem ter consequências sérias para as nossas vidas. Se uma atingir nosso planeta diretamente, talvez destrua satélites em órbita e derrube linhas de comunicação e transmissão de energia pelo globo. “Ejeções de massa coronal podem ter um sério impacto na Terra e na sociedade humana,” resume Yuta Notsu. Ele é pesquisador no Laboratório para Física Atmosférica e Espacial (LASP, na sigla em inglês), da Universidade do Colorado em Boulder, e no Observatório Solar Nacional dos EUA.

Caçadores de tempestade

Ainda assim, segundo o estudo, publicado no periódico Nature Astronomy, as ejeções de massa coronal de EK Draconis podem ser muito piores. No ano passado, a equipe de astrônomos utilizou o telescópio Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS), da NASA, e o Telescópio SEIMEI, da Universidade de Kyoto (Japão), para observar a estrela durante 32 noites

Eles buscavam estudar se super erupções solares — uma versão mais intensa e turbulenta desses eventos — poderiam gerar as correspondentes “super ejeções de massa”. “Super erupções são muito maiores que as erupções que vemos do Sol,” afirma Notsu. “Então, suspeitamos que elas também poderiam produzir ejeções de massa muito maiores. Mas, até recentemente, isso era apenas conjectura.”

Em abril, eles conseguiram observar um desses eventos pela primeira vez: EK Draconis iniciou uma super erupção solar enorme e, aproximadamente meia hora depois, a equipe observou o que parecia ser uma ejeção lançada de sua superfície. Eles só conseguiram captar um dos seus estágios iniciais, a “erupção de filamento”, mas já foi possível aproximar sua velocidade e massa. Eram quadrilhões de quilogramas se movendo a cerca de 1,6 milhão de quilômetros por hora, cerca de dez vezes maior do qualquer tempestade já medida no Sol.

Mas e o nosso Sol?

Não é preciso reforçar que essa tempestade solar está distante demais para ter qualquer efeito na Terra. Mas isso não quer dizer que o Sol não possa praticar façanhas parecidas. “Esse tipo de ejeção de massa poderia, teoricamente, acontecer com nosso Sol também,” explica Notsu.

De fato, EK Draconis é como uma versão mais jovem da nossa estrela: do mesmo tipo e tamanho semelhante. Enquanto o nosso Sol está no meio de sua vida, com 4,6 bilhões de anos, EK Draconis existe há apenas 100 milhões. “Ela tem a aparência do nosso Sol 4,5 bilhões de anos atrás,” afirma  Notsu.

Erupção solar de estrela alienígena.

Ilustração de estrela hipotética durante uma super erupção solar. Crédito NASA, ESA and D. Player/Universidade do Colorado em Boulder 

Dessa forma, durante a fase inicial de sua vida, as super erupções necessárias para esse tipo de tempestades são muito mais comuns. Segundo um estudo de 2019, em que Notsu e alguns de seus colegas trabalharam, estrelas jovens tendem a passar por esses eventos com uma frequência similar com a qual o Sol passa por suas erupções normais. A diferença é que estas são dezenas ou centenas de vezes menos intensas

Entretanto, isso não quer dizer que não possam ocorrer com a nossa estrela nos dias de hoje. As probabilidades são remotas — uma vez a cada mil anos — mas ainda são perfeitamente possíveis.

As tempestades na juventude do Sol

Quando nosso Sol era tão jovem quanto EK Draconis, ele pode ter passado por muitas ejeções de massa coronal. Esse material teria banhado planetas próximos constantemente, interferindo no seu processo de formação

“A atmosfera de Marte hoje em dia é muito rarefeita quando comparada à da Terra,” afirma Notsu. “No passado, achamos que Marte pode ter tido uma atmosfera muito mais espessa. Ejeções de massa coronal podem nos ajudar a entender o que aconteceu com esse planeta ao longo de bilhões de anos.”

Publicado em 09/12/2021.

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