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Documento sugere que italianos já sabiam da América antes mesmo de Colombo

Análise de um documento italiano revela que conterrâneos de Colombo já sabiam da existência de uma terra no noroeste do Atlântico 150 anos antes de sua “descoberta”.
Italianos sabiam da América antes de Colombo.

Povos nórdicos já sabiam do continente americano antes de Colombo. Agora, documento sugere que os italianos também. Crédito Zephirx/Pixabay

A partir da análise, tradução e transcrição de um documento escrito por um frade genovês, um pesquisador encontrou a menção mais antiga, feita no sul da Europa, ao que hoje é considerado o continente americano, datando de  150 anos antes da viagem transatlântica de Cristóvão Colombo

O documento, chamado Cronica universalis, foi escrito em 1345 por Galvaneus Flamma, autor de vários outros registros históricos. Nele, Galvaneus faz menção a rumores de navegadores islandeses sobre Marckalada, uma terra no noroeste do Atlântico, além da Groenlândia. Paolo Chiesa, autor da pesquisa e especialista em literatura medieval em latim no Departamento de Estudos de Literatura, Filologia e Linguística da Universidade de Milão, afirma que o local provavelmente era a atual província de Terra Nova e Labrador, no extremo leste do Canadá.

Essa não é a primeira evidência que outros navegadores europeus já tinham chegado na América antes de Colombo — islandeses e outros povos nórdicos já conheciam o trajeto. Mas a importância do achado está em sugerir  que essas informações já circulavam no norte da Itália, terra natal de Colombo. “O que faz a passagem (sobre Marckalada) excepcional é sua localização geográfica. Não nas áreas nórdicas, como em outras menções, mas no norte da Itália,” afirma Chiesa. 

Dessa forma, a ideia de Colombo como aventureiro pioneiro na exploração da América, que cruzou o oceano sem saber o que encontraria do outro lado, sofre mais um golpe. O autor de Cronica universali  já tinha uma noção credível de terras além do Atlântico um século e meio antes da chegada do suposto “descobridor”.

Um relato credível

A pesquisa, publicada no jornal acadêmico Terrae Incognitae, indica que Cronica universalis é um dos últimos — ou talvez o último — trabalho de Galvaneus Flamma, que acabou deixando-o inacabado e sem o mesmo nível de refinamento de seus outros relatos. Durante sua vida como um frade dominicano, Galvaneus escreveu sobre o cotidiano das cidades-Estado italianas, e já forneceu informações confiáveis para os historiadores.

Chiesa aponta que a obra, esta versão reencontrada em 2013, tinha por objetivo reunir toda a história do mundo, desde sua “criação” até o momento da escrita. E Galvaneus estava bem posicionado para isso. Gênova (Itália), onde vivia, era uma importante rota comercial e marítima, reunindo em um só lugar notícias e rumores de diversos locais. “Não temos nenhuma evidência que navegantes italianos e catalães alcançaram a Groenlândia ou Islândia naquele momento. Mas eles certamente conseguiram obter mercadorias que foram transportadas dessas regiões para o Mediterrâneo,” afirma Chiesa.

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“A Marckalada descrita por Galvaneus é ‘rica em árvores’”, afirma Chiesa. Por mais que a descrição possa parecer genérica, este detalhe não é trivial. Isso pois ele ajuda o pesquisador a ter certeza que o trecho não faz referência a outras terras no extremo norte já conhecidas, como a Groenlândia ou a Islândia — ambas descritas como inférteis e desoladas, tanto por Galvaneus como por outros autores contemporâneos. 

As descrições do autor não ficam apenas na reprodução de rumores, mas também são apoiadas por referências a relatos de outras culturas — tanto reais como mitológicos — e se encaixam com o conhecimento de seu tempo. “Eu não vejo nenhuma razão para desacreditá-lo,” afirma Chiesa. Ainda assim, acrescenta  ele, as evidências eram muito fracas para que Marckalada fosse divulgada como uma nova terra e colocada nos mapas da época. Isso, por sua vez, explicaria porque sua menção só pôde ser encontrada agora, no relato de Galvaneus.

Cronica universalis ainda está sendo estudada e traduzida, mas já existem planos para publicação de uma edição acadêmica da obra. 

Publicado em 11/10/2021.

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