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Destino de usina nuclear no Japão é incerto

Poças de combustível expostas e leituras de baixa pressão na usina Daiichi sugerem que os níveis de perigo aumentam, despertando preocupações sobre o rumo da crise nuclear

Por David Biello
Trabalhadores e soldados continuavam seu esforço heróico para evitar a potencial fusão em andamento na usina nuclear Daiichi, em Fukushima. A escuridão que cobre o lugar não é a única razão para confusão: monitores de sistemas vitais perderam energia, tornando indisponível o status de elementos críticos – como a integridade das varetas de combustível no reator No 2 ou do vaso de aço em que estão confinados.
Todos os prédios que abrigam os reatores 1, 2, 3 e 4 sofreram danos provocados por explosões de hidrogênio. Com tetos arrancados e outros caminhos abertos para o hidrogênio escapar (único elemento capaz de não sofrer os efeitos da gravidade da Terra), as chances de haver outra explosão do gênero diminuíram, exceto nos reatores 5 e 6. Mas os tanques de combustível irradiado desses reatores se beneficiam de um gerador a diesel, ainda em operação, para manter a água de refrigeração, de acordo com World Nuclear News, no entanto, as temperaturas também estão subindo nesses tanques.

O Fórum Industrial Atômico do Japão também calcula que as varetas de combustível nos reatores Nos 1, 2 e 3 ferveram a água do mar e o ácido bórico que os trabalhadores injetaram para apagar incêndios. Essas varetas de combustível estão provavelmente expostas e gerando calor, a caminho de uma potencial fusão.

Essa intensa fervura sugere que a pressão deve estar subindo dentro das estruturas de aço e concreto que contêm cada um desses reatores nucleares. De fato, a pressão atmosférica rapidamente aumentou oito vezes antes da explosão no reator No 1 em 12 de março (usinas nucleares geralmente operam a cerca de 4 atmosferas de pressão).

Sem resfriamento, as varetas de combustível continuam a derreter e podem romper o revestimento de zircônio – material cerâmico que as mantém unidas. Nesse ponto, as pastilhas de urânio vão cair no fundo do vaso de confinamento e continuarão a superaquecer, com possibilidade de fundir e vazar através do próprio vaso de aço.

Isso por si só não causaria uma explosão. O perigo é que o combustível quente e derretido caia na água, o que a vaporizaria instantaneamente e causaria uma explosão de vapor. Assim, as partículas de urânio e outros materiais radiativos seriam liberadas no ar.

“Estamos envidando o máximo de esforços para impedir novas explosões e a liberação de materiais radiativos”, disse o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan. Porém, mesmo que uma explosão de vapor ou de hidrogênio ocorra, a nuvem radiativa não atingiria altura suficiente na atmosfera para espalhar para muito longe os materiais perigosos.

“Se os japoneses não conseguirem manter os reatores resfriados e manter a pressão nos vasos de confinamento num nível apropriado, vai ocorrer fusão”. Mas o que isso significa de fato?”, pergunta Sir John Beddington, principal representante científico do governo do Reino Unido. “Na pior hipótese, teria uma explosão e material radiativo subindo 500 metros no ar.”

Os problemas estão dentro do raio de 30 km do reator. Afinal, 30 km foi a extensão da propagação de material radiativo em Chernobyl, um acidente nuclear muito pior, em que houve um forte incêndio que liberou partículas radiativas a uma altura de mais de 9 mil metros no ar.

O vapor indica que pelo menos algum resfriamento está acontecendo, e o calor das varetas de combustível cairá drasticamente em semanas. O resfriamento deve continuar meses a fio, mas o risco de uma fusão catastrófica diminui a cada hora.

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