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Descoberto fóssil inédito de cobra quadrúpede

Réptil “abraçador” que viveu no Brasil abala noções sobre a evolução de serpentes

Anastasia Christakou e revista Nature

O primeiro fóssil de uma cobra de quatro patas já encontrado no mundo está obrigando cientistas a repensar como serpentes evoluíram de lagartos.

Embora seja quadrúpede, a Tetrapodophis amplectus tem outras características que a identificam claramente como uma cobra, observa Nick Longrich, paleontólogo da Universidade de Bath, no Reino Unido, e um dos autores do artigo que descreveu a criatura no periódico Science.

De acordo com os pesquisadores, o animal provavelmente não usava suas patas para se locomover, mas para agarrar presas, ou talvez para se segurar em parceiros durante o acasalamento. 

Foram essas especulações que inspiraram o nome do animal, que se traduz livremente como “serpente abraçadora de quatro patas”.

Originalmente, a Tetrapodophis foi encontrada há várias décadas na Formação Crato, rica em fósseis, no nordeste do Brasil.

Como suas pernas não saltam aos olhos à primeira vista, o fóssil ficou “mofando” anos após sua descoberta em uma coleção particular e considerado “comum”, nada de especial.

“Eu estava confiante que poderia se tratar de uma cobra”, afirma David Martill, paleobiólogo da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, que se deparou com o achado em 2012.

“Foi só depois de colocar o espécime sob o microscópio e observá-lo detalhadamente que minha certeza aumentou. Tínhamos ido ver o arqueoptérix (Archaeopteryx), o elo perdido entre aves e dinossauros, e descobrimos o Tetrapodophis, o elo perdido entre cobras e lagartos”. 

Cientistas vinham debatendo há tempos se as cobras evoluíram de animais terrestres ou marinhos.

A Tetrapodophis é desprovida de adaptações para a vida marinha, como uma cauda útil para o nado. Mas as proporções de seu crânio e corpo são consistentes com características desenvolvidas para cavar, ou se entocar.

De acordo com Longrich, a descoberta mostra inequivocamente que as cobras se originaram no hemisfério sul e sustenta fortemente uma origem terrestre.

Outra característica marcante do fóssil é seu comprimento relativo.

O Tetrapodophis tem 272 vértebras, das quais 160 estão na parte principal de seu corpo e não na cauda. Esse número é mais de duas vezes superior ao limite que pesquisadores julgavam que corpos alongados poderiam atingir antes de começar a perder seus membros. 

Martin Cohn, biólogo de desenvolvimento evolutivo da Universidade da Flórida em Gainesville, especula que os “braços e pernas” da criatura devem ter sido readaptados pela evolução em vez de simplesmente definharem (e desaparecerem) à medida que seu corpo foi ficando mais longo.

Essa opinião contradiz algumas suposições sobre a evolução de serpentes.

Como explica Cohn, o paradigma de que o alongamento do tronco conduz à perda dos membros agora tem de ser ajustado.

“Esse fóssil mostra que os dois processos podem ser dissociados”, argumenta ele.

A descoberta ocorre em um ano importante para a pesquisa evolutiva de cobras, salienta Cohn.

Em janeiro, o registro fóssil de ofídios foi recuado em cerca de 70 milhões de anos no tempo geológico, para o período Jurássico Médio, por volta de 160 milhões de anos atrás, com o relato sobre a serpente mais antiga já encontrada.

Embora a Tetrapodophis não seja a cobra mais antiga, “de uma perspectiva desenvolvimentista, este poderia ser um dos fósseis mais importantes já encontrados. A combinação de um corpo serpentiforme, com patas dianteiras e traseiras completas, é como uma ‘versão cobra’ do arqueoptérix”, comemora Cohn. 

Este artigo foi reproduzido com permissão e publicado originalmente em 23 de julho de 2015.

Publicado em Scientific American em 24 de julho de 2015.

 

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