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Crânios contribuem para a teoria da origem humana na África

Padrão de variação de crânios corrobora a idéia de que os humanos modernos suplantaram outras espécies mais antigas

O formato dos crânios de humanos encontrados no mundo todo pode ter aberto uma nova janela para a compreensão do êxodo dos primeiros humanos modernos da África. De acordo com um novo estudo, grupos de crânios de populações locais que se afastaram mais de seu continente ancestral têm menos variações entre si.

O resultado apóia a popular teoria cientifica de que os humanos modernos saíram da África há 50 mil anos e tomaram o lugar de espécies mais antigas, como os neandertais. O estudo também pode ajudar os pesquisadores a identificar com precisão o berço dos seres humanos na África e como esse êxodo deve ter sido confuso, afirma o geneticista evolucionário William Amos da University of Cambridge, na Inglaterra.

Amos, juntamente com a bióloga evolucionária Andrea Manica e seus colegas, analisaram dados sobre os formatos de 4.666 crânios de machos, todos com menos de 2mil anos de idade, vindos de 105 locais no mundo. Para cada local, eles compararam a variação em 37 medidas diferentes com a distância que os ancestrais da população devem ter viajado para chegar lá partindo da África. (Cairo e Nova York parecem relativamente próximas em um mapa, mas os primeiros humanos teriam que atravessar a Ásia e o Estreito de Bering a pé para chegar até a América do Norte a partir do continente africano).

À medida que bandos menores se separaram de grandes assentamentos, devem ter levado um subgrupo menos diverso dos genes do grupo maior, o que se traduziu em parte em características anatômicas como o formato do crânio. Assim, quanto mais longe os primeiros Homo sapiens se afastaram de sua terra natal, menos variáveis seus crânios deveriam ser. A não ser que eles tenham procriado previamente com populações estabelecidas de neandertais ou outros humanos primitivos, o que deveria ter injetado novos genes e impulsionado a variabilidade.,Os pesquisadores não encontraram sinais de interprocriação, como afirmam na revista Nature. “O que se vê é a um declínio linear de variabilidade à medida que os indivíduos se afastam da África”, explica Amos. Estudos anteriores já tinham identificado uma tendência idêntica na diversidade de simples seqüências ou marcadores genéticos.

“A beleza dos crânios”, diz Amos, “é que há tantos deles e eles vêm de populações que não são muito bem representadas geneticamente”, como americanos e australianos aborígenes. Ele ressalta que outros crânios de populações africanas poderiam ajudar a mapear as primeiras migrações humanas a partir da Etiópia (lar do humano mais antigo já conhecido) ou para lá.

O antropólogo Erik Trinkaus, da Washington University em St. Louis, diz que poucos especialistas contestam o êxodo da África. “A questão é como, onde e quando os humanos modernos que saíram do continente há 50 mil anos interprocriaram com grupos regionais de humanos arcaicos” – algo que talvez nunca saibamos, ele diz.

Amos afirma que mesmo uma interprocriação muito limitada teria alterado o padrão dos crânios se os filhos tivessem sobrevivido e se propagado – apesar da extensão desse limite ainda não ter sido descoberto. A grande questão a se descobrir, ele diz, é a confusão do êxodo africano, incluindo o momento em que ocorreu para grupos diferentes. Modelos matemáticos de migração poderiam mostrar soluções para o problema, ele explica, dizendo que os dados dos crânios “abrem uma série de hipóteses testáveis”.

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