Conheça a aldeia Apiwtxa, trazendo lições do interior da floresta amazônica para o mundo
A cidade mais próxima da aldeia Apiwtxa, a pequena Marechal Thaumaturgo, no Acre, fica a três horas de viagem de barco para dentro da floresta amazônica. Ela é acessível por um voo fretado a partir de Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do estado. Por mais distante que esteja dos centros urbanos, a comunidade de cerca de mil pessoas do povo indígena Ashaninka nos traz importantes lições em seu modo de vida e organização, transpassado por uma rica história de resistência e convívio sustentável com a natureza.
A fundação da comunidade remonta à década de 1930, quando o local da aldeia começou a receber diversas famílias da região, se afastando da violência e exploração por madeireiros, pecuaristas, colonizadores e mineradores. Desde o início, o grupo lutou pelo certificado de suas terras e para preservá-las das incursões cada vez mais intensas buscando extrair os recursos naturais da região do rio Amônia.
A oportunidade de obter um registro oficial só surgiu com a Constituição de 1988, que assegurava aos indígenas o uso dos recursos de suas terras, além de abrir mais espaço para políticas de demarcação e preservação através da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Por mais notável que seja a luta dos Ashaninka, no entanto, o grande destaque do artigo de capa da edição especial de julho de 2022 — “Lições da Amazônia para o mundo”, de Carolina Schneider Comandulli, antropóloga pela Universidade College de Londres que estuda povos indígenas desde os anos 2000 — é o modo de vida Apiwtxa.
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Derivada de um extenso planejamento que leva em conta diversas dimensões de sua vida — desde aspectos espirituais e religiosos até as necessidades mais práticas de renda —, a comunidade fundou a Associação Apiwtxa. Seu objetivo é representar os interesses do grupo para a sociedade não-indígena, garantindo que a comunidade tenha, acima de tudo, independência e capacidade autossuficiência.
Extraindo (quase) todos os recursos de que necessita para viver de seus entornos naturais, entre caça, agricultura e extrativismo, a aldeia garante sua autonomia alimentar. E, através da produção de peças artísticas para venda, garante também autonomia econômica.
Essas autonomias são essenciais para que o grupo permaneça unido e consiga resistir às frequentes incursões em suas terras — muitos dos mesmos desafios que levaram a formação da comunidade em primeiro lugar. Mas, sem depender de seus recursos, a Apiwtxa se torna um agente ativo na sua história, capaz de moldar as circunstâncias ao seu redor.
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Para resistir aos desafios, a Apiwtxa trabalha junto de ONGs e está em constante contato com instituições ambientais e governos, marcando presença na mídia. Em seu texto, Comandulli entende que o trabalho da comunidade não é moderno, “no sentido de que não buscavam um estado de desenvolvimento modelado em um ideal de progresso e crescimento que muitos aspiram mas poucos podem alcançar”. Mas, ao contrário, pode certamente ser considerado contemporâneo, “no sentido de encontrar suas próprias soluções para os problemas atuais”. É através dessa contemporaneidade que algumas de suas maiores lições se revelam: viver com a natureza (e não a partir dela) não se trata de um ideal nostálgico, mas sim de uma necessidade do mundo atual diante das circunstâncias de crise ambiental e climática.
Se interessou pela aldeia Apiwtxa e seu modo de vida? Então leia o artigo “Lições da Amazônia para o mundo” de Comandulli na edição de julho de 2022 (nº 232), comemorativa de 20 anos da Scientific American Brasil. Venha celebrar conosco e adquira a sua, disponível por compra avulsa ou assinatura nas versões impressa e digital.
Publicado em 20/07/2022.