Como a COVID-19 irá afetar a próxima geração?
A exposição à COVID-19 poderia pôr em risco a saúde e o envelhecimento de indivíduos que ainda nem nasceram, sugere um novo estudo. O artigo foi publicado na revista científica Journal of Developmental Origins of Health and Disease.
No artigo, os pesquisadores Eileen Crimmens, Caleb Finch e Molly Easterlin, da Universidade da Califórnia, notam que até o fim de 2020, aproximadamente 300 mil mães infectadas por SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19, podem dar à luz. E outros milhões de bebês, mesmo que não tenham sido infectados, vão nascer em famílias que vivenciaram um estresse e uma agitação tremenda devido à pandemia.
++ LEIA MAIS
Tomar vacina contra gripe poderia reduzir chance de contrair coronavírus?
COVID-19 pode ser dividida em sete variedades, sugere estudo
Embora ainda seja preciso observar quais podem ser os efeitos de longo prazo da COVID-19 sobre bebês, os pesquisadores podem buscar ideias no passado. Isso inclui a pandemia de gripe espanhola em 1918 e doenças de coronavírus anteriores, como a SARS em 2022 e a MERS em 2012, disse Finch.
“A pandemia de influenza em 2018 teve impactos duradouros no grupo que foi exposto dentro do útero. Estas pessoas apresentaram uma menor expectativa de vida e maior incidência de diabetes, doenças do coração e depressão após os 50 anos”, ele disse. “É possível que a pandemia de COVID-19 também tenha impactos duradouros no grupo que estava no útero durante a pandemia, seja devido a um contato com a infecção através da mãe ou ao ambiente de estresse criado pela pandemia.”
Infecções maternas virais podem afetar fetos através de diversos caminhos, desde a transmissão direta através da placenta até respostas inflamatórias, que perturbam o metabolismo uterino e afetam negativamente o crescimento. Embora, nos surtos anteriores de coronavírus, a transmissão direta maternal-fetal do vírus e a ocorrência de defeitos graves no nascimento tenham sido aparentemente raros, houve crescimento no número de partos prematuros e diminuição no peso médio dos bebês ao nascer, tanto nos surtos de SARS em 2002 quanto no de H1N1 em 2009. Isso sugere possíveis consequências de um aumento da inflamação.
Embora os estudos sobre os efeitos da COVID-19 sobre a gravidez ainda estão em seus estágios iniciais, alguns resultados preocupam os autores. Taxas maiores de parto prematuro podem estar ligadas à infecções pelo SARS-CoV-2, e outros estudos indicam que casos graves da doença estariam correlacionados a um risco maior de natimortos. Outros perigos potenciais, incluindo o risco de formação de coágulos sanguíneos que é associado tanto à gravidez quanto aos casos graves de COVID-19, também precisam ser mais estudados.
Além dos riscos diretos impostos pela infecção, a pandemia também elevou os níveis de estresse, desemprego, insegurança alimentar, e violência doméstica, e prejudicou ou interrompeu a atenção pré-natal. Por esses motivos, os pesquisadores sugerem que estudos de grupo também incluam mães não infectadas e crianças, de forma a compará-las com o grupo com COVID-19, e com crianças nascidas antes ou depois da pandemia, e incluir diversas contextos socioeconômicos. “Esse tipo de comparação pode nos dar novas ideias de políticas sociais que possam diminuir o risco de nascimentos prematuros”, disse Crimmins.
Publicado em 17/11/2020