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Colisão de satélite chinês é um alerta para o problema de detritos espaciais

Acidente que envolveu espaçonave chinesa e, possivelmente, um dos destroços de foguete russo em março de 2021 pode ser apenas o começo de um grande problema para a exploração espacial.
Detritos espaciais em órbita da Terra

Representação artística do campo de detritos espaciais, ou lixo espacial, orbitando próximos à Terra. Créditos: Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa

Em março deste ano, o satélite militar chinês Yunhai 1-02 foi danificado. Por motivos até então desconhecidos, 21 pedaços se separaram da sonda, conforme detectou o 18º Esquadrão de Controle Espacial da Força Espacial dos EUA, que monitora objetos artificiais na órbita da Terra. O satélite foi lançado em setembro de 2019. Sua missão era observar os oceanos, a atmosfera e o espaço, a fim de prevenir e mitigar desastres.

Na época do acidente, especulava-se que poderia ter havido alguma falha em seu sistema de propulsão ou uma colisão com outro objeto em órbita, como o satélite meteorológico norte-americano NOAA-17, cuja destruição deixou vários destroços apenas 10 dias antes.

Mas, após 5 meses de incertezas, astrônomos parecem ter finalmente encontrado a resposta para o que realmente aconteceu com o Yunhai 1-02. Segundo o astrofísico Jonathan McDowell, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, ele deve ter colidido com o que restou de um foguete russo.

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No dia 14 de agosto, McDowell notou uma recente atualização no Space-Track.org, site disponibilizado pelo Esquadrão de Controle Espacial dos EUA: ” uma observação para o objeto 48078, 1996-051Q: ‘Colidiu com satélite'”.

O objeto 48078  em questão é um pedaço de lixo espacial que mede entre 10 e 50 cm. Ele pertenceu ao foguete Zenit-2, que lançou o satélie Tselina-2, da Rússia, em setembro de 1996. Sua identificação aconteceu em março deste ano, mesma época em que o Yunhai 1-02 se despedaçou .

“Eu conclui que, muito provavelmente, os dados foram coletados após a sua colisão com alguma outra coisa e é por isso que temos apenas um conjunto de dados orbitais. A colisão deve ter acontecido logo após seu período orbital. O que ele atingiu?”, postou o astrofísico em seu perfil no Twitter. “O candidato mais óbvio é o Yunhai-1-02, despedaçado em 18 de março por motivos desconhecidos”.

Ao analisar os dados das órbitas dos objetos, McDowell descobriu que eles estiveram a cerca de 1 Km um do outro no mesmo horário e dia em que o satélite chinês se despedaçou. Um vez que essa distância aproximada apresenta uma certa margem de erro e ambos estariam em alta velocidade, é possível que um pequeno contato entre os dois tenha resultado em um explosão de detritos espaciais.

No entanto, a colisão não foi catastrófica. Apesar dos danos causados, o Yunhai 1-02 pode ter sobrevivido ao violento encontro, pois já fez uma série de ajustes orbitais. Isso indicaria que a China ainda consegue controlá-lo. Além disso, foram detectados sinais de rádio emitidos pelo satélite. Mas ainda não está claro se ele ainda poderá cumprir sua missão.

Alerta para o futuro

Esta é primeira colisão entre dois grandes objetos que orbitam a Terra em mais de 10 anos. No ano de 2009, um satélite militar russo que não estava mais em funcionamento colidiu com um satélite ativo acima da Sibéria.  O encontro, junto de outro evento parecido em 2007, aumentou em cerca de 70% a quantidade de detritos espaciais na órbita baixa do nosso planeta.

Aproximadamente 130 milhões pedaços de lixo espacial orbitam a Terra atulamente. Suas origens vão desde satélites abandonados até espaçonaves quebradas.  Eles viajam a cerca de 27.000 km/h, sendo rápidos o suficiente para causar danos em equipamentos importantes e acidentes fatais para astronautas dentro de espaçonaves.

Conforme esse número de objetos em órbita aumenta, as chances de colisões acontecerem também cresce e, logo, mais detritos espaciais em alta velocidade podem existir perdidos no espaço. .

“As colisões são proporcionais ao quadrado do número de coisas em órbita”, disse McDowell ao Space.com. “Ou seja, se você tiver 10 vezes mais satélites, terá 100 vezes mais colisões. Assim, à medida que a densidade do tráfego aumenta, as colisões deixarão de ser um problema menor do lixo espacial para ser o seu principal. Isso é apenas matemática. ”

E, segundo ele, que aconteceu com o Yunhai pode ser um sinal de alerta para o que estaria por vir no futuro caso não haja nenhuma interferência “Isso é muito preocupante e é uma razão adicional pela qual você deseja remover esses grandes objetos da órbita”, disse McDowell. “Eles podem gerar esses outros detritos menores.”

Publicado em 20/08/2021

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