China prepara primeira missão de coleta de amostras na Lua em quatro décadas
No final deste mês, uma sonda chinesa viajará para a Lua para recolher rochas lunares, um tipo de missão que não ocorria há mais de 40 anos. A missão, chamada Chang’e-5, é a mais recente entre a série de viagens à superfície lunar, cada vez mais complexas à superfície lunar, que vem sendo conduzidas pela Administração Espacial Nacional da China (CNSA), após o primeiro pouso da nave Chang’e-4 no lado distante da Lua, registrado no ano passado.
“Optar por uma missão mais complexa e buscar coletar amostras da Lua demonstra uma capacidade tecnológica significativa”, diz Carolyn van der Bogert, geóloga planetária da Universidade de Münster, Alemanha.
A nave deve decolar no dia 24 de novembro do Centro de Lançamento de Satélites de Wenchang, na Ilha de Hainan. Seu lançamento original, planejado para 2017, foi adiado por causa de uma falha no motor do foguete de lançament chinês Longa Marcha 5.
O objetivo da Chang’e-5 será coletar poeira e detritos em uma região ainda inexplorada do lado próximo da Lua, e trazê-los à Terra. Se for bem-sucedida, a Chang’e-5 terá sido a primeira a trazer material lunar desde o período das missões empreendidas por Estados Unidos e União Soviética, nas décadas de 1960 e 1970. Os cientistas lunares estarão ansiosos para estudar as novas amostras, pois ela spodme trazer novas informações sobre a evolução da Lua. O material também pode ajudar os pesquisadores a datar com mais precisão as superfícies de planetas como Marte e Mercúrio.
“O local de pouso foi muito bem escolhido”, diz Harald Hiesinger, geólogo também da Universidade de Münster.
Coletar e voltar
A missão Chang’e-5 é composta de inclui um módulo de aterrissagem, um ascensor, uma sonda que ficará em órbita e um dispositivo que voltará à Terra trazendo as amostras. Depois que a espaçonave entrar na órbita da Lua, o par módulo de aterrissagem/ascensor vai se separar e descerá perto de Mons Rümker, um complexo vulcânico de 1.300 metros de altura na região norte de Oceanus Procellarum – as vastas planícies de lava escuras visíveis da Terra .
Assim que a nave pousar, ela perfurará até 2 metros no solo e estenderá um braço robótico para recolher cerca de 2 kg de material da superfície. O material será armazenado no ascensor, que irá decolar.
A descida e a ascensão ocorrerão durante um único dia lunar, o que equivale a cerca de 14 dias terrestres, para evitar as temperaturas extremas durante a noite que podem danificar os equipamentos eletrônicos, diz Clive Neal, geocientista da Universidade de Notre Dame em Indiana.
A missão é tecnicamente desafiadora e muitas coisas podem dar errado, diz Neal. O módulo de pouso pode colidir com a superfície ou tombar, e as amostras podem escapar do compartimento de transporte ao longo da viagem. “Todos esperamos que dê certo”, diz ele.
Assim que o ascensor estiver de volta à órbita lunar, as amostras serão transferidas para o dispositivo de retorno. Fazer esta manobra em órbita durante o vôo será algo complexo e “um bom ensaio para uma futura missão de exploração humana”, diz James Carpenter, coordenador de pesquisa para exploração humana e robótica da Agência Espacial Europeia em Noordwijk, na Holanda. A China planeja enviar pessoas à Lua por volta de 2030.
A espaçonave Chang’e-5 irá então viajar de volta à Terra, com a sonda caindo de pára-quedas na Mongólia Interior, norte da China, provavelmente no início de dezembro.
De volta à Terra
A maioria das amostras lunares será armazenada no Observatório Astronômico Nacional da Academia Chinesa de Ciências (NAOC) em Pequim, disse Li Chunlai, chefe0adjunto da missão Chang’e-5. Parte do material será armazenado em um local separado, protegido de perigos naturais, e parte será reservada para exibição pública, diz Li.
Mas não está claro se as amostras sairão do país. O CNSA apóia a cooperação internacional e dará aos pesquisadores de fora da China acesso às amostras, desde que trabalhem com cientistas chineses, diz Xiao Long, geólogo planetário da Universidade de Geociências da China em Wuhan, envolvido na seleção do local de pouso.
Hiesinger espera que as condições de acesso às amostras seja semelhante aquelas que foram estabelecidas para as rochas coletadas pelas missões Apollo dos Estados Unidos, que estipulavam que se enviasse uma proposta de pesquisa à Nasa.
Mas Xiao aponta que cientistas de instituições chinesas não podem acessar amostras da Apollo porque o governo dos EUA restringe colaborações diretas entre a Nasa e a China.
Novas ideias sobre a evolução
As amostras do Chang’e-5 podem preencher uma lacuna importante na compreensão dos cientistas sobre a atividade vulcânica da Lua. Rochas obtidas por missões lunares anteriores de EUA e União Soviética sugerem que a atividade vulcânica na Lua atingiu o pico de 3,5 bilhões de anos atrás, depois colapsou e cessou. Mas as observações da superfície lunar revelaram regiões que poderiam conter lava vulcânica formada recentemente, coisa de um bilhão ou dois bilhões de anos atrás.
Se as amostras de Chang’e-5 confirmarem que a Lua ainda estava ativa geologicamente durante este período, “iremos reescrever a história da Lua”, diz Xiao.
Estudar a composição das rochas também pode esclarecer o que alimentou essa atividade térmica por tanto tempo. “A Lua é pequena, então seu motor térmico já deveria ter se esgotado muito antes”, diz Neal.
A Lua também é uma referência importante para datar outros planetas, com base no método de contagem de crateras. A regra geral é que as regiões mais antigas têm mais crateras e maiores, enquanto as regiões mais jovens têm menos crateras e menores. Essas idades relativas recebem datas absolutas usando-se amostras da Lua. Mas não existem amostras para o período entre 850 milhões de anos e 3,2 bilhões de anos atrás. A Chang’e-5 poderia preencher essa lacuna. “A Lua é o único lugar onde temos amostras que sabemos exatamente de onde vieram”, diz van der Bogert.
Smriti Mallapaty
Publicado em 11/11/2020