Nova estação espacial da China recebe primeiros ocupantes
A missão tripulada Shenzhou 12 realizada pela China é o terceiro voo em direção à Estação Espacial Chinesa. Créditos: Xinhua / Ju Zhenhua
A nova estação espacial da China já recebeu seus primeiros ocupantes.
O lançamento da Shenzhou 12, a nave que levou os astronautas até lá, ocorreu nesta quarta-feira (16 de junho) no Centro de Lançamento de Satélite de Jiuquan, localizado no noroeste da China. O foguete Longa Marcha 2F deixou a plataforma de lançamento às 18h22 do Horário de Brasília (ou 9h22, horário de Pequim, em 17 de junho).
O Shenzhou 12 foi o primeiro voo espacial tripulado da China em quase cinco anos. Ele levou os astronautas até o Tianhe (“Harmonia dos Céus”), o módulo central da nova estação espacial Tiangong. Caso tudo ocorra conforme o planejado, o trio passará três meses a bordo do Tianhe, que possui 16,6 metros de comprimento, e farão diversos testes e atividades de manutenção.
“Estamos honrados em assumir a liderança de uma série de missões tripuladas para a construção da estação espacial e estamos muito esperançosos.”, disse o comandante do Shenzhou 12, Nie Haisheng, durante uma entrevista coletiva em Jiuquan na terça-feira, 15 de junho (16 de junho, horário de Pequim), conforme divulgou a agência de notícias estatal chinesa Xinhua.
“Não iremos apenas transformar o módulo principal em uma ‘casa espacial’, mas também faremos uma série de verificações de tecnologia chave.”, disse Nie. “Teremos mais tarefas árduas e desafios.”
Nie já participou de duas viagens à órbita da Terra antes deste lançamento, tendo voado na missão Shenzhou 6 em 2005 e comandado a Shenzhou 10 em 2013. Junto a ele, na Shenzhou 12, estão dois outros homens: Liu Boming, um veterano da Shenzhou 7 em 2008, e Tang Hongbo, que é um astronauta novato.
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A Shenzhou 12 é o terceiro de um total de 11 lançamentos que serão necessários para a construção da nova estação espacial da China, que o país espera concluir até o final de 2022. A primeira decolagem ocorreu em 28 de abril, com o envio do módulo Tianhe enquanto a segunda, em 29 de maio, transportou a nave de carga robótica Tianzhou 2. Ela continha a mais de 6,6 toneladas de suprimentos e ainda está conectada ao módulo principal.
O lançamento de Tianhe causou uma certa controvérsia, uma vez que o enorme estágio central do foguete Longa Marcha 5B retornou à Terra em uma queda descontrolada 10 dias depois. Mas esse problema não voltou a acontecer com o Tianzhou 2, lançado no topo do foguete Longa Marcha 7, e não deve ocorrer com o Shenzhou 12.
Duas das oito missões restantes serão “módulos de laboratório”. Chamados de Wentian e Mengtian, eles serão anexados em ambos os lados de Tianhe para formar um posto avançado em forma de T com cerca de 15% do tamanho da Estação Espacial Internacional (EEI), que pesa 450 toneladas. Além disso, devem haver mais três voos robóticos de reabastecimento e três missões com tripulação durante a fase de construção, disseram autoridades espaciais chinesas.
PAVIMENTANDO O CAMINHO
O Shenzhou 12 foi o primeiro lançamento tripulado feito pela China desde outubro de 2016, quando o Shenzhou 11 enviou três astronautas até o laboratório espacial do protótipo Tiangong 2 para uma estadia de um mês.
Como o próprio nome sugere, o Tiangong 2 foi o segundo veículo chinês do tipo, depois do Tiangong 1, lançado em setembro de 2011. (A China não fez lançamentos para a Estação Espacial Internacional, ISS, pois o país não é um parceiro do grande projeto internacional. Na verdade, desde 2011, o poder legislativo dos EUA proibiu a Nasa e o Escritório de Política Científica e Tecnologia da Casa Branca de colaborarem com suas organizações chinesas em atividades espaciais, a menos que o Congresso tenha aprovado essa cooperação com antecedência.)
O Tiangong 1 hospedou duas tripulações, de três astronautas cada. Vindas nas espaçonaves Shenzhou 9 e Shenzhou 10, as equipes chegaram em junho de 2012 e junho de 2013, respectivamente. Ambas passaram cerca de duas semanas a bordo do laboratório espacial.
A Shenzhou 11 foi a única missão tripulada para o Tiangong 2. Mas a China também enviou a espaçonave robótica de carga Tianzhou 1 até o laboratório espacial em abril de 2017. Foram realizados diversos testes de atracação e reabastecimento com o cargueiro durante os cinco meses seguintes.
Os testes de tecnologia realizados nas missões para Tiangong 1 e Tiangong 2 foram concluídos há vários anos, e ambos os laboratórios espaciais não existem mais. O Tiangong 1 caiu descontroladamente na Terra em abril de 2018, incendiando-se no Oceano Pacífico. A China derrubou o Tiangong 2 de forma controlada em julho de 2019, e a queda também aconteceu sobre o Pacífico.
MUITO A SER FEITO
O Tianhe é muito maior e mais complexo do que Tiangong 1 e Tiangong 2, ambos com 10,4 m de comprimento. O módulo principal recém-lançado possui três dormitórios independentes e três vezes mais espaço interior do que seus dois antecessores, de acordo com a Xinhua.
Nie, Liu e Tang ajudarão a colocar o Tianhe em funcionamento. Eles têm quatro tarefas principais para executar durante a missão de três meses, informou a Xinhua, citando funcionários da Agência Espacial Tripulada da China.
Os astronautas irão testar, verificar e operar o módulo principal e seus vários sistemas; montar e testar trajes espaciais e realizar duas caminhadas espaciais externas ao módulo; conduzir e divulgar experimentos científicos e tecnológicos; e gerenciar e monitorar seus estados de saúde.
Os últimos meses foram bastante ativos para o programa espacial da China, e não apenas por causa dos lançamentos Tianhe, Tianzhou 2 e Shenzhou 11. Em 14 de maio, por exemplo, a nação pousou seu primeiro rover de Marte no Planeta Vermelho e continua a operar um rover na misteriosa e inexplorada região lunar.
Mike Wall
Texto publicado originalmente no site SPACE.COM em 17/06/2021.
Publicado em 17/06/2021