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Banco Europeu de Investimento não irá mais financiar projetos com combustíveis fósseis

Em decisão considerada como importante avanço ambientalista por parte de uma instituição financeira, o banco anunciou que o dinheiro deve ser direcionado a fontes alternativas de energia

O Banco Europeu de Investimentos, em Bruxelas, Bélgica. Foto: Shutterstock

O Banco Europeu de Investimento (BEI) irá parar de conceder empréstimos para projetos que envolvam combustíveis fósseis em dois anos, anunciaram autoridades da instituição ontem.

O conselho de administração do BEI adotou o plano após um acalorado debate, com alguns países contestando a inclusão do gás natural na lista de proibições de empréstimos. A mudança é a medida mais ousada adotada contra combustíveis fósseis por um banco de desenvolvimento até agora, e pode pressionar outras instituições financeiras a seguir o mesmo caminho, como o Banco Mundial e o Banco Asiático de Desenvolvimento.

A nova política fará com que o BEI deixe de emitir empréstimos para projetos voltados para infraestrutura relacionados a carvão, petróleo e gás natural. A medida entra em vigor no final de 2021, disseram autoridades, deixando tempo suficiente para que os projetos atualmente em andamento sejam concluídos.

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O conselho do BEI disse que a decisão visa alinhar o banco aos esforços coletivos para combater as mudanças climáticas. O dinheiro anteriormente gasto em projetos de combustíveis fósseis será direcionado à promoção de “inovações em energia limpa, eficiência energética e renováveis”.

Ambientalistas comemoram a decisão. Leonardo Martinez-Diaz, diretor de finanças sustentáveis da organização conservacionista World Resources Institute, disse em um comunicado que a decisão marca “um avanço” e coloca o ônus em outras instituições financeiras.

“A decisão de hoje do Banco Europeu de Investimento de interromper o financiamento para combustíveis fósseis até 2021 estabelece um importante precedente para ser seguido por outros bancos de desenvolvimento”, disse ele.

Bancos do setor privado vêm se afastando de empréstimos para projetos com carvão, mas as políticas existentes geralmente incluem exceções que permitam empréstimos para projetos do tipo em circunstâncias especiais. Projetos de gás natural e petróleo têm sido, em geral, isentos de proibições.

Grandes instituições financeiras no Japão e em Cingapura também anunciaram recentemente novas diretrizes para reduzir o financiamento ao carvão.

O Institute for Energy Economics and Financial Analysis estima que mais de 100 instituições financeiras em todo o mundo estão se afastando de empréstimos para projetos envolvendo carvão, “incluindo 40% dos 40 principais bancos globais e 20 seguradoras com importância global”.

O BEI diz que “alinhará todas suas atividades de financiamento com os objetivos do Acordo de Paris”.

Além de evitar combustíveis fósseis, o BEI afirma que vai buscar empréstimos para apoiar a modernização da rede de tecnologias destinadas a mitigar a intermitência da energia eólica e solar. Os empréstimos também serão estendidos à “produção descentralizada de energia, armazenamento inovador de energia e mobilidade eletrônica”.

O banco também promete gastar dinheiro com países membros da União Europeia que são fortemente dependentes de combustíveis fósseis e menos capazes de expandir rapidamente a participação de fontes renováveis em suas redes energéticas. Um “Fundo de Transição Justa” deve ser estabelecido com a missão de financiar até 75% dos custos do projeto em pelo menos dez países da UE que estejam enfrentando “desafios específicos de investimento em energia”.

O BEI diz que suas novas práticas terão como objetivo ajudar a União Europeia a atingir a marca de 32% de toda sua energia proveniente de fontes renováveis até 2030.

“Embora o BEI possa ter concordado em eliminar gradualmente o financiamento de combustíveis fósseis, este é um passo importante que deve ser tomado pelo setor financeiro em geral”, disse Martinez-Diaz, do World Resources Institute.

Atualmente, o Banco Asiático de Desenvolvimento está financiado a construção de uma usina de ciclo combinado com foco em carvão no Vietnã, mas a instituição começou a se esquivar de empréstimos para projetos de carvão na Indonésia.

Há muito tempo o Banco Mundial vem sendo criticado por apoiar publicamente ações sobre mudanças climáticas, enquanto continua a direcionar capital para projetos com carvão. Mas as autoridades do banco já sinalizaram uma mudança em favor de fontes alternativas de energia.

No final do ano passado, o Banco Mundial anunciou uma parceria com o Canadá e o Reino Unido para fornecer financiamento e apoio técnico a países em desenvolvimento “que decidiram deixar o carvão e acelerar a captação de fontes de energia mais limpas”.

O banco disse que também está no meio de uma transição para “integrar as considerações climáticas em todos os projetos de desenvolvimento”, incluindo “uma mudança para economias resilientes com baixo carbono”.

O World Resources Institute diz que a decisão agressiva do BEI mostra que é hora de o Banco Mundial e de outros credores internacionais deixarem de conceder empréstimos para combustíveis fósseis.

“Nós encorajamos fortemente as diretorias de outros bancos de desenvolvimento multilateram a igualarem ou excederem esse nível de ambição e liderança”, afirmou Martinez-Diaz.

Nathanial Gronewold

Publicado originalmente em E&E News e republicado com permissão.

 

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