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Aumentam os enigmas envolvendo o visitante interestelar ‘Oumuamua

Novo estudo contesta teorias que sugerem que o objeto poderia ser um cometa. Livro de pesquisador defende que se trata de um artefato tecnológico

Ilustração do ‘Oumuamua. ESO/M. Kornmesser

O ‘Oumuamua — um misterioso objeto interestelar que atravessou nosso Sistema Solar dois anos atrás — poderia, na realidade, ser um objeto de uma tecnologia alienígena. É o que sugere um novo estudo que sustenta que  a explicação alternativa, que exclui os alienígenas, pode estar fundamentalmente errada.

Mas a maioria dos cientistas não acreditam na ideia de que nós observamos tecnologia alienígena em nosso sistema solar. 

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Em 2018, nosso Sistema Solar se encontrou com  um objeto perdido no espaço interestelar. O objeto, chamado ‘Oumuamua, parecia ser longo e fino, como o formato de um cigarro. Depois, observações feitas mais de perto  mostraram que estava o objeto estava se acelerando, como se algo estivesse empurrando-o. Os cientistas ainda não tem certeza do porquê.

Uma explicação? O objeto teria sido  impulsionado por uma máquina alienígena, como uma vela movida a luz  — um dispositivo  finíssimo e muito largo, que é acelerado à medida que é empurrado pela radiação solar. O principal proponente desse argumento era Avi Loeb, astrofísico da Universidade de Harvard. 

A maioria dos cientistas, entretanto, acreditam que a aceleração oscilante do ‘Oumuamua provavelmente ocorreu devido a um fenômeno natural. Em junho, uma equipe de pesquisa propôs que o hidrogênio sólido estava destruindo a superfície do objeto interestelar, acelerando-o. 

Agora, em uma nova pesquisa publicada no dia 17 de agosto, na revista The Astrophysical Journal Letters, Loeb e Thiem Hoang, um astrofísico do Instituto de Ciência Espacial e Astronomia da Coreia, argumenta que a hipótese do hidrogênio não ocorrer  no mundo real. Isso significaria que ainda há esperança de que nossa vizinhança  tenha sido visitada por alienígenas avançados, e que nós realmente tenhamos observado  sua presença em algum momento. 

O grande problema  com o ‘Oumuamua é que ele se movia  como um cometa, mas não tinha a calda clássica de um, diz o astrofísico Darryl Seligman, autor da hipótese do hidrogênio sólido, que está começando uma bolsa de pós-doutorado na Universidade de Chicago. 

O ‘Oumuamua foi o primeiro objeto já observado a entrar e deixar o Sistema Solar. Isso é o contrário do que ocorre com a maioria dos objetos do sistema solar, que orbitam ao redor do Sol e nunca abandonam a área.  Sua trajetória, e o fato de que ele estava acelerando, sugerem que o ‘Oumuamua, com comprimento estimado em cerca de 400 a 800 metros, fosse  um cometa. E mesmo assim, “não foram detectadas caudas e nem gases saindo do objeto”, disse Seligman. Normalmente, os cometas vem de regiões mais distantes que os asteróides, e o gelo em sua superfície vira gás logo que chegam próximos ao sol, deixando para trás um rastro de gás, que nós observamos como uma linda cauda de cometa, disse Seligman. 

Esse gás altera o modo como o cometa se move pelo espaço, ele diz. Ele funciona como se fosse um motor de foguete, mas muito lento: O sol atinge o cometa, a parte mais quente do cometa  explode na forma de  gás, e esse gás que deixa o  cometa empurra-o cada vez mais rápido na sua trajetória para longe do Sol. 

Em uma pesquisa publicada no dia 9 de junho na The Astrophysical Journal Letters, o astrofísico Seligman, junto com o astrofísico  Gregory Laughlin, de Yale,  propôs que o objeto era um cometa feito parcialmente ou inteiramente de hidrogênio molecular — moléculas leves, compostas de dois átomos de hidrogênio (H2). 

O gás H2 é capaz de se congelar na forma de  um sólido inchado de baixa densidade apenas em temperaturas muito baixa, como  — 259,14 graus Celsius negativos (ou apenas 14,01 graus a cima do zero absoluto) na atmosfera da Terra. Os pesquisadores já propuseram a existência de “icebergs de hidrogênio” nas regiões mais geladas do espaço, escrevem Laughlim e Seligman no estudo. E o gás de hidrogênio não seria visível da Terra, o que significa que não geraria  uma cauda de cometa visível. 

Os números se encaixaram perfeitamente; embora   outras substâncias  também pudessem  potencialmente explicar a aceleração, o hidrogênio foi que melhor explicou com os dados disponíveis. 

Mas em sua nova pesquisa, Hoeang e Loeb questionam essa ideia e argumentam que a explicação do iceberg de hidrogênio possui um problema básico: os cometas se formam quando grãos congelados de poeira se reúnem no espaço e formam aglomerações, e essas aglomerações atraem mais poeira e outras aglomerações. E os cometas são como homens de neve: eles sobrevivem enquanto  não derretem. 

A viscosidade que ajuda a formar os cometas é similar à de cubos de gelo dentro de um freezer gelado. Deixe um cubo de gelo no canto por um ou dois minutos, deixe sua superfície aquecer um pouco, e ela não parecerá pegajosa mais. Uma pequena camada de água líquida em sua superfície o torna escorregadio. 

Hoang e Loeb argumentaram que mesmo a luz das estrelas nas partes mais frias do espaço seria capaz de aquecer os pequenos aglomerados feitos de hidrogênio antes que estes pudessem  se reunir e formar um cometa do tamanho do ‘Oumuamua. E, mais importante, a “nuvem molecular gigante” mais próxima — uma região dos espaço com muita poeira e gases onde acredita-se que se formam os icebergs de hidrogênio são formados — fica  longe demais. Um iceberg de hidrogênio que viajasse por  centenas de milhares de anos através do espaço interestelar teria se despedaçado, cozinhado pela luz de estrelas.

Seligman disse que a análise de Loeb era correta, que nenhum cometa de hidrogênio sobreviveria a uma viagem tão longa. “Os icebergs de hidrogênio não vivem tanto tempo na galáxia”, ele disse. “E definitivamente não há tempo de viajar todo o caminho partindo da nuvem molecular gigante mais próxima”. 

 A teoria apenas funciona se o ‘Oumuamua tiver apenas 40 milhões de anos, ele disse. Ao longo desse espaço de tempo, o gás liberado poderia ter mudado o formato do cometa sem tê-lo destruído. 

Ele pontua uma pesquisa publicada em abril na The Astronomical Journal, que propôs diversas possíveis origens próximas para o ‘Oumuamua. 

Os autores da pesquisa não localizaram definitivamente  a “casa” do cometa, o que seria impossível, eles dizem. O ‘Oumuamua estava praticamente imóvel quando começou  a sentir os puxões exercidos pela atração gravitacional do Sol,  e isso  dificulta a localização de sua jornada  pelo espaço. Mas os pesquisadores também analisaram quais outros objetos existem no trecho da Via Láctea por onde o  Sol tem se deslocado ao longo da  história cósmica recente. Eles chegaram a dois grupos de estrelas jovens, os grupos móveis Carina e Columba, disse Tim Hallat, estudante e astrofísico da Universidade McGill em Montreal, e autor principal da pesquisa publicada em abril. 

Todas elas se formaram cerca de 30 a 45 milhões de anos atrás, em uma nuvem de gás que se dispersou. Essa pequena nuvem dissipada de gás molecular, com apenas algumas estrelas jovens, é onde os icebergs de hidrogênio podem ter sido formados, disse Hallat. 

“Existem muitos processos que podem fazer com que   objetos como o ‘Oumuamua sejam ejetados de grupos em movimento de estrelas jovens  — como choques gravitacionais entre as estrelas do grupo, a formação de planetas, ou como argumentam Seligman e Laughlin em 2020, as próprias nuvens moleculares que deram origem às estrelas”, disse Hallatt a Live Science

Todas as três pesquisas se encaixam perfeitamente se se considerar  assumir que o ‘Oumuamua era um iceberg de hidrogênio que se originou em Carina ou Columba, acrescenta Hallatt. 

“A ideia de Seligman e Laughlin poderia funcionar neste caso  porque objetos de H2 devem ter um curto período de vida na galáxia (como conclui corretamente Loeb), e uma origem em Carina ou Columba o tornaria jovem o suficiente para sobreviver a sua jornada”, ele diz. 

Loeb, entretanto, discorda. 

“Diminuir a distância que os icebergs de H2 precisam viajar não resolve os problemas que nós ressaltamos em nossa pesquisa, porque o iceberg de H2 teria se formado quando seu sistema planetário original  se formou, bilhões de anos atrás”, e ao longo de tanto tempo  o iceberg teria evaporado, ele disse a Live Science em um e-mail. 

Loeb também disse que espera que os icebergs de hidrogênio sejam provenientes de nuvens moleculares gigantes, não de regiões  do espaço como Carina e Columba. E ele reitera que nenhum iceberg de hidrogênio poderia sobreviver a viagem saindo da nuvem molecular gigante mais próxima. 

Perguntado se existe um candidata principal a explicação  para a aceleração do ‘Oumuamua, Loebe respondeu citando  um livro ainda não lançado, de sua autoria, chamado “Extraterrestre: O Primeiro Sinal de Vida Inteligente Além da Terra”, que deve sair  em janeiro. 

 Rafi Letzter

LiveScience

Publicado em 25/08/2020

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