Antes raros, tigres negros mostram como funciona teoria da evolução
Os chamados tigres negros, mutantes genéticos que exibem listras largas, escuras e fundidas, eram raros, mesmo quando esses felinos eram abundantes em séculos passados. Mas na Reserva de Tigres Similipal, na Índia, agora um em cada três desses animais é “negro”. Um novo estudo, publicado em Proceedings ofthe National Academy of Sciences USA, identifica a causa genética do peculiar padrão das listras e revela a evolução em plena ação entre esses felinos ameaçados de extinção.
Depois de sequenciarem os genomas de três tigres negros nascidos em zoológicos e seus pais, que tinham a típica pelagem tradicional, pesquisadores no Centro Nacional de Ciências Biológicas da Índia e seus colegas rastrearam o padrão até uma minúscula mudança em um gene chamado taqpep. Eles então passaram meses percorrendo a pé cerca de 1.500 quilômetros de selvas através do país, coletando amostras de excrementos, pelos, sangue e saliva ou baba dos animais. Analisar esses espécimes os ajudou a determinar a prevalência dessa mudança genética — e sua quase total ausência em tigres que vivem fora de Similipal.
Já se sabia que genes taqpep alterados causam os padrões manchados e irregulares em gatos malhados domésticos, assim como as grandes manchas e listras em guepardos-reis. Mas tais padrões são tão raros porque eles só ocorrem quando os genes de ambos os pais têm mutações idênticas, correspondentes. O novo estudo descobriu que 10 dos 12 tigres de Similipal amostrados tinham pelo menos uma cópia dessa mutação de taqpep em particular — e quatro eram tigres negros, com duas cópias [do gene] cada um.
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No entanto, nenhum dos 395 animais pesquisados fora da reserva tinha nem mesmo uma cópia da mutação. Isso sugere que os tigres de Similipal estão tão isolados que eles jamais cruzam com outros que vivem fora desse território ou dessa faixa de hábitat, e que o grupo começou a manter essas mudanças genéticas ao longo de gerações. “Foi uma descoberta surpreendente”, comenta o ecologista molecular e autor principal do artigo, Vinay Sagar.
Para a autora sênior do artigo Uma Ramakrishnan, ecologista molecular que estudou a minguante diversidade genética dos tigres indianos por mais de uma década, esta descoberta é “a mais empolgante” de sua carreira — uma evidência gritante da fragmentação das populações desses felinos por toda a região.
A vasta quantidade de dados coletados para essa pesquisa “fornece a muito necessária linha de base para futuros estudos mais detalhados sobre a genética de tigres ameaçados de extinção”, diz Nancy Chen, bióloga evolutiva da Universidade de Rochester, que não participou do estudo. Embora não se saiba se as incomuns listras ajudam ou prejudicam os tigres de Similipal, as distintas marcas ressaltam que esses animais estão se reproduzindo só entre si.
Spoorthy Raman
Publicado originalmente na edição de janeiro/fevereiro da Scientific American Brasil.